O banco entregou um belo resultado para o 4T19, mas o mercado não está muito otimista para 2020. O sonho acabou?
Os renegados
Nos últimos meses, as ações dos grandes bancos brasileiros não acompanharam o movimento generalizado de alta observado no Ibovespa.
O mercado não está muito otimista com seus resultados em 2020. Espera-se que o lucro dos quatro grandes bancos cresça, em geral, menos de 5 por cento neste ano.
O aumento da alíquota de CSLL de 15 para 20 por cento, os juros mais baixos e o aumento da competição (fintechs) são os principais fatores que preocupam analistas e investidores em geral.
IBOV (Branco), ITUB4 (Verde), SANB11 (Rosa), BBDC4 (Vermelho) e BBAS3 (Laranja).
Mas após o Santander (SA:SANB11) (:{18775|SANB11}}) dar início à divulgação de bons resultados do segmento no fim de janeiro, com lucros crescendo +9 por cento, o mercado parece ter se lembrado do quão resiliente e rentável é o negócio bancário.
Na semana seguinte, o Bradesco (BBDC4) apresentou um crescimento de +14 por cento em seu lucro no 4T19 e, ontem, foi a vez do Itaú (ITUB4) apresentar um crescimento de lucro de +13 por cento no trimestre.
Com a alta dos “bancões” (e da Petrobras, PETR4), o pânico generalizado do pregão de ontem foi amenizado e o IBOV caiu apenas -1,05 por cento - mesmo assim, descolando-se das altas observadas nas bolsas ao redor do globo.
4T19 de vacas gordas
Em seu recém-divulgado resultado, o retorno sobre o patrimônio (ROE) do Itaú alcançou enormes 23,7 por cento.
O crescimento do PIB abaixo do esperado não foi o suficiente para impedir o aumento de +13 por cento no lucro líquido recorrente do banco em 2019.
Tal resultado veio de um maior volume de crédito concedido (+11 por cento), com melhor mix de produtos (produtos financeiros mais rentáveis) e maior margem financeira com clientes; de uma maior receita com serviços; e de despesas sob controle — com crescimento abaixo da inflação.
Na carteira de crédito, os grandes destaques foram as altas de +14 por cento em Pessoas Físicas e de +27 por cento nas Pequenas e Médias Empresas. Mas a continuidade do crescimento nas operações de crédito com Grandes Empresas também mostrou que a tendência de queda no segmento parece ter sido finalmente superada.
O fato de o banco tem conseguido crescer sua carteira de crédito no varejo sem aumentar sua despesa com PDD e sem perder o controle da inadimplência também indica um grande nível de disciplina na concessão de crédito.
Já a receita com serviços e seguros apresentou uma alta de +6 por cento no ano, mesmo com a forte queda da receita com adquirência (-21 por cento) — dada a nova realidade do mercado de pagamentos no Brasil.
Os destaques positivos foram a administração de recursos (+25 por cento) e receita com assessoria financeira (investment banking) e corretagem, que cresceu +79 por cento.
Por fim, o mais importante: para competir com as fintechs, o Itaú precisa ficar mais leve, reduzir custos.
E mostrou um excelente trabalho no controle de despesas, com destaque para as despesas administrativas (que cresceram apenas +0,7 por cento), que aumentaram ainda mais a eficiência do banco e permitiram que se aproximasse novamente dos níveis de ROE mais altos que já obteve.
2020 de vacas magras?
E o banco está confiante com a retomada econômica neste ano.
Sim, o ano passado foi muito bom para o Itaú, mas o que o mercado realmente quer saber é: como será 2020?
Sua projeção de crescimento do PIB é 2,2 por cento, com expectativa da maior criação de empregos formais em um ano desde 2013.
A inflação baixa mantém espaço para juros baixos e aceleração do crescimento, impulsionado principalmente pelo consumo e investimentos.
Juntamente com os resultados de 2019, o banco apresentou suas projeções:
Se por um lado existe uma pressão na receita por conta da maior competição, o banco tem como uma de suas principais armas o corte de custos para se adaptar à nova realidade.
Em 2019, a busca por eficiência e a maior demanda por atendimento via canais digitais levaram à redução anual de -10,5 por cento das agências físicas no Brasil. Além disto, o quadro de colaboradores foi reduzido em -5,4 por cento.
Com a melhora na economia, vem também uma expansão da carteira de crédito do banco e, consequentemente, das receitas. Mas os braços mais modernos como a XP ou o iti também mostram que o banco não está assistindo à chegada das fintechs de braços cruzados.
E, comparando as projeções de 2020 com as de 2019, o banco manteve a expectativa de expansão na carteira de crédito, mas com margem financeira (spread) subindo bem menos e com custo do crédito mais elevado (inadimplência).
O Itaú elevou bem a expansão de serviços e seguros e reduziu bem sua expectativa com despesas administrativas (não decorrentes de juros).
Um bom resumo é: o banco vai voltar a ganhar mais dinheiro com serviços e seguros e menos com empréstimos – o que é ótimo. Serviços possuem rentabilidade (ROE) muito maior e menor sensibilidade ao PIB.
O fato é que o Itaú tem se mostrado um banco cada vez mais digital, mais eficiente e atento a toda evolução no mercado bancário brasileiro. O Itaú, definitivamente, não será pego de surpresa.
Se ele vai vencer a corrida para encontrar a inovação antes que os novos entrantes encontrem a escala, só o tempo dirá.
Mas…
É tudo uma questão de preço
Enquanto o mercado nos permitir pagar apenas 12x lucros e 2x seu patrimônio líquido, não temos motivos para retirar ITSA4 (holding controladora de Itaú. Itaúsa é Itaú mais barato. Itaúsa é a mesma coisa que Itaú) da primeira posição do ranking do Investidor de Valor.
Itaúsa não é a ação que mais subirá em nossa bolsa. Mas, também, não é a que mais cairá. Caso o pior aconteça, o mercado sempre tende fugir para onde se sente seguro, e o Itaú, com todo seu excepcional histórico de entrega, certamente é um destes destinos.
Atualmente, as empresas em nossa bolsa negociam em média a 18x lucros e entregam um ROE de 11 por cento.
O Itaú, a 12x lucros e com ROE de 23,7 por cento, é barata demais pela capacidade de geração de lucros que tem.
Com rentabilidade elevada e preço baixíssimo, Itaúsa aguenta muito desaforo.
Estamos atentos à entrada de novos bancos digitais, mas o Itaú é o banco que está melhor preparado para a competição – sua capacidade de segurar custos e se reinventar é prova da capacidade de gestão do banco.
Durma tranquilo. Seja feliz. Compre ITSA4.