O clássico livro A Arte da Guerra, escrito pelo general chinês Sun Tzu há mais de 2.500 anos, é um notável tratado com inúmeros ensinamentos para quem deseja aprimorar seus conhecimentos práticos sobre estratégia, planejamento, disciplina, gerenciamento de recursos, táticas para analisar e encarar os adversários, e, principalmente, o que é necessário para ganhar uma guerra.
Ainda que possa parecer contra intuitivo à primeira vista, a leitura deste clássico me auxiliou muito até aqui, seja como empreendedor na SmarttBot, ajudando a embasar decisões que nos levaram a ser hoje a maior plataforma de robôs traders do Brasil, seja como trader, fazendo eu entender logo cedo o quanto é importante ter um racional muito bem fundamentado para a execução de qualquer operação.
Para ilustrar melhor o que estou falando, reproduzo a seguir uma modesta lista com 10 destes ensinamentos:
É indispensável estudar a guerra profundamente.
Estude guerra em tempos de paz.
É melhor vencer a guerra antes mesmo de desembainhar a espada.
O general que desenha planos antes da batalha sempre vence o general que não se planejou.
Além de conhecer sobre a guerra, também é preciso conhecer sobre si mesmo.
Informação é crucial. Nunca vá para a batalha sem saber o que pode estar contra você.
Triunfam aqueles que sabem quando lutar e quando esperar.
Nunca entre em uma batalha por raiva. O motivo pelo qual se luta é para se conquistar algo. A raiva é passageira, mas um Estado destruído não tem volta.
A obra, com estes e tantos outros ensinamentos, inspira até hoje chefes de estado e empresários de todos os setores, sendo considerada por muitos uma das principais referências no mundo dos negócios, uma leitura obrigatória.
Neste momento você pode estar se perguntando: Mas o que a guerra, os negócios e os ensinamentos de Sun Tzu têm a ver com trading? Absolutamente tudo. Vamos exercitar uma "tradução" livre dos mesmos ensinamentos citados anteriormente para o contexto do mercado:
É indispensável estudar o mercado profundamente.
Estude mercado fora do pregão.
É melhor vencer o mercado antes mesmo de executar o primeiro trade.
O trader que desenha planos antes de operar sempre vence o trader que não se planejou.
Além de conhecer sobre o mercado, também é preciso conhecer sobre si mesmo.
Informação é crucial. Nunca faça um trade sem saber o que pode estar contra você.
Triunfam aqueles que sabem quando operar e quando esperar.
Nunca entre em um trade por raiva. O motivo pelo qual se opera é para se conquistar algo. A raiva é passageira, mas uma conta quebrada não tem volta.
Eu poderia aqui citar dezenas de outros trechos e ensinamentos do livro que teriam uma "tradução" direta para o mundo do trading, substituindo "guerra" por "mercado", "luta" ou "batalha" por "trade" ou "operação", "derrota" por "conta quebrada" ou "general" por "trader", mas acredito que a mensagem já esteja clara: Se você quer ser um trader vencedor no longo prazo, é preciso se preparar de verdade para o mercado como um general se prepara para uma guerra.
Executar trades sem um planejamento bem definido e factível é como caminhar para seu suicídio como trader. Suas chances de sucesso são drasticamente reduzidas se você não souber precisamente quais são os seus objetivos de médio e longo prazo. Isso mesmo, aqui não temos exceções! Ainda que você faça apenas operações de day trade ou scalping ou até mesmo opere somente em alta frequência com algoritmos de HFT (High Frequency Trading) em colocation (opere em mili ou microssegundos em uma infraestrutura diretamente conectada à Bolsa sem passar pela internet), é necessário definir objetivos para o longo prazo. Sem eles você se acostumará a estar eufórico nas viradas dos dias e desolado nas viradas dos anos.
Além disso, é fundamental que você tenha plena ciência sobre (i) os prazos associados aos seus objetivos, (ii) os riscos que está disposto a enfrentar, (iii) os cenários que o mercado pode lhe apresentar, (iv) o seu arsenal de estratégias e ferramentas, (v) a sua disponibilidade de tempo e de capital, (vi) o seu nível de conhecimento técnico do mercado, e, por último, mas não menos importante, (vii) os seus vieses cognitivos e limitações emocionais, que podem fazer em um piscar de olhos você sair derrotado da guerra.
Todos esses aspectos e diversos outros que serão tratados neste e nos próximos artigos desta série, que começa com esta introdução que você está lendo agora, devem ser contemplados no que chamamos de Plano de Trading, uma espécie de estratégia de guerra, plano de negócios, roadmap ou mapa de navegação, que estabelece de forma bastante clara e objetiva o caminho que o trader deve seguir para atingir suas metas no mercado, definindo questões como: o que fazer, quando, como e por que.
Muitos especialistas consideram que não ter um plano de trading ou não seguir a risca o plano definido são dois dos principais fatores que levam os traders a não alcançarem resultados vencedores e consistentes no longo prazo. O problema é que construir um bom plano de trading e principalmente, conseguir executá-lo precisamente, com o menor número possível de desvios, é uma tarefa bastante desafiadora. Nesta série de artigos tentarei mostrar os pontos chaves que você deve se atentar para aumentar as chances de sucesso nesta jornada.
Para tratar o assunto da maneira mais completa possível, precisamos explorar exaustivamente as suas duas principais etapas:
Criar um bom plano de trading;
Executar fielmente o plano de trading criado.
Nos próximos artigos, abordaremos em detalhes a criação de um plano de trading, discutindo aspectos relevantes sobre os três principais tópicos que todo plano deve ter:
Objetivos e prazos
Quanto você deseja lucrar? Em quanto tempo? Qual a sua meta? Ganhar R$ 2.000 todo mês? Acumular ao final do ano R$ 50.000? Como isso se traduz em objetivos semanais? E em objetivos diários?
Gerenciamento de risco
Qual sua tolerância a risco? Quanto você pode perder por dia? E por mês? E por trade? O que fazer se perder por 3 dias seguidos? Qual deve ser o tamanho da sua mão? Sob quais circunstâncias o tamanho da sua mão deve ser alterado? Qual a relação risco/retorno dos seus trades? Você deve usar alavancagem? De quantas vezes? Qual deve ser o seu capital inicial? Qual o drawdown máximo aceito? Qual o sharpe ratio ou sortino ratio que busca? O que fazer quando a volatilidade estiver 3x maior que a média?
Estratégias de trading (setups)
Quais mercados operar? Quais ativos? Quais tempos gráficos usar? Ou usar gráficos atemporais? Qual escola de análise? Análise Técnica? Fundamentalista? Price Action? Tape Reading? Quantitativa? Algoritmos de Inteligência Artificial e Machine Learning? Quais tipos de dados usar? OHLC? Negócio a negócio? Livro de ofertas? Completo? Resumido? Quais os critérios de entrada? Quais os gatilhos? Quais os filtros de confirmação? E os critérios de saída? Stop loss? Take profit? Stop móvel? Critérios temporais? Quais restrições de horário? Quais devem ser as durações dos trades? Apenas scalping? Day trading? Swing? Position? Quantos trades você deve fazer por dia? Por semana? Por mês? Operar em quais tipos de mercado? Tendência de alta? De baixa? Lateral? Como combinar diferentes estratégias? Operar ativos correlacionados ou apenas não correlacionados?
Estas são algumas das inúmeras perguntas que um bom plano de trading deve contemplar, e muitos traders em início de jornada começam suas trajetórias se importando apenas com o último tópico, a definição dos seus setups, se limitando a definir apenas parte das questões acima levantadas.
Com o plano de trading criado, precisamos colocá-lo em prática, e esta etapa pode se mostrar muito mais difícil do que parece a princípio. Trataremos da execução fiel do plano de trading mais a frente nesta série de artigos, discutindo os seus quatro principais tópicos:
Testes e simulações
Como validar o plano de trading sem correr altos riscos, sem colocar o seu dinheiro na reta? Como deve ser todo o processo? Você deve fazer simulações no passado (backtesting)? Deve otimizar os parâmetros? E o risco de overfit? Deve simular em tempo real (paper trading)? O que as simulações não são capazes de mostrar? E o que elas são capazes de mostrar? O que você deve considerar das simulações antes de ir para conta real?
Execução precisa em conta real
Como seguir a risca o plano de trading? O que está fora do seu controle? O que pode acontecer? E se algo não planejado ocorrer? Quais ferramentas utilizar? Como manter o controle emocional? Como não perder oportunidades? Como não atrasar a execução dos trades? Como operar simultaneamente vários mercados, ativos e estratégias? Como fazer em situações em que você não pode operar?
Registro e análise das operações
Como registrar o histórico das suas operações? Com qual frequência? Quais dados devem ser registrados? Como analisar o desempenho do seu plano de trading e de suas operações? Quais métricas de retorno e risco analisar? Quão diferente a execução está do planejamento?
Mudanças no plano de trading
Sob quais circunstâncias você deve mudar seu plano de trading? Como saber se é o momento certo? Quais variáveis analisar para reduzir as chances de uma mudança prematura no planejamento?
Esse foi o nosso primeiro artigo passando por importantes questões associadas à criação e execução de um plano de trading de sucesso. Espero que as diversas perguntas aqui registradas te ajudem a refletir sobre o seu modo de operação atual. Nos próximos artigos iremos aprofundar em cada um desses tópicos, aprimorando substancialmente o nível de rigor e detalhes sobre temas importantes para todos os traders que buscam retornos consistentes no longo prazo.