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Distância Entre Otimismo Brasileiro e Percepção Mundial Podem Afetar Câmbio

Publicado 17.01.2020, 17:28
Atualizado 09.07.2023, 07:32

Com o dólar abrindo o ano em nova movimentação de alta e a economia dando sinais aquém do esperado – com destaque para a produção industrial e setor de varejo apresentando dados abaixo do esperado – é necessário questionar: o que está por trás da cautela de investidores/as estrangeiros/as com relação ao Brasil? Afinal, o governo Bolsonaro não era aquele que abriria o país para os negócios mundiais?

Um dos pontos que não canso de ressaltar é a distância entre a imagem que o governo brasileiro detém perante os/as brasileiros comuns e aquela compartilhada pelo resto do mundo. Enquanto aqui a pauta econômica constitui um núcleo impenetrável às críticas, em larga medida protegendo o governo como um todo dos escândalos e absurdos quase diários – mais sobre isso em um segundo –, a nível internacional essa mesma pauta é tratada na devida proporção: como reformas pontuais em meio a um governo caótico, bizarro e obscurantista.

A título de síntese, focarei aqui em duas linhas de raciocínio: primeiro, o impacto da reforma da previdência na economia real – já que, concretamente, foi a única que o governo Bolsonaro executou até o momento – e de outro, os três últimos disparates vindos do Planalto ao longo dessa semana, que só jogam mais fogo sobre a fogueira – em alguns momentos, literal, como no caso da Amazônia – na qual o Brasil se enfiou.

Comecemos pela situação econômica. Sem distorcer as coisas a favor do otimismo, não tivemos sinais concretos de recuperação da economia: o desemprego continua alto, a inflação está oscilante, as vendas do varejo em novembro (mês da Black Friday) vieram abaixo do esperado (2,9% contra 3,8% na comparação anual e 0,6% contra 1.1% na mensal), assim como a produção industrial (contração de -1,7% contra -0,8% na comparação anual; -1,2% contra -0,6% na mensal). Olhando as coisas de forma pragmática, esses indicadores ruins se alternam com indicadores positivos, mas a falta de consistência é precisamente aquilo que enfraquece a tese de que nossa economia vai bem.

Antes que me acusem de torcer contra: sim, a bolsa brasileira está em alta, assim como todas as outras do mundo – os três principais índices dos EUA vêm consistentemente batendo recordes, desde o ano passado. Entretanto, isso não quer dizer muita coisa do ponto de vista prático: os índices de ação, como o Ibovespa futuro, não refletem expectativa de melhora na economia; antes, refletem expectativa de lucro e valorização das ações das principais empresas brasileiras. Empresas que, é bom lembrar, não são nem de longe representativas da economia real: pequenos comércios, indústrias de baixo valor agregado, setor de serviços básicos, enfim.

Estas empresas tendem sim a continuarem se valorizando e empurrando a bolsa para o alto, em especial porque são as principais beneficiárias da reforma da previdência e da queda na taxa de juros, uma vez que podem aumentar suas margens. Fora isso, a própria queda na taxa de juros empurra investidores/as de todas as classes rumo ao mercado de renda variável, beneficiando grandes empreendimentos privados. No entanto, essa melhora significativa não se reflete de forma significativa na vida da esmagadora maioria dos brasileiros e brasileiras.

Partindo desse entendimento, temos de fazer uma pergunta bem simples: se fossemos investidores/as estrangeiros, que ao longo de 2019 tiramos recursos do país em um ritmo mais rápido do que na crise de 2008, estaríamos agora dispostos a realocar recursos para cá com base nesses dados? Não seria mais interessante, ou até mesmo óbvio, que buscássemos instrumentos com um risco menor e retorno adequado? Afinal, temos os mercados do mundo todo a nossa disposição.

Agora, sem desconsiderar esse cenário, façamos um breve tour pelas principais notícias sobre o Brasil nessa semana, na mídia internacional. Logo de cara, a Bloomberg publica um artigo entitulado “Surging Brazil Economic Optimism Gets a Harsh Reality Check” (“Onda de otimismo econômico no Brasil recebe um duro choque de realidade”, em tradução livre), ressaltando justamente a discrepância entre o otimismo brasileiro e a dureza dos dados gerados por nossa economia.

Saindo da questão econômica, temos aquilo que parece ter se tornado o tom normal da nossa política. O New York Times publicou hoje artigo intitulado “Far-right bolsonaro fires latest round in Brazil culture war” (“Bolsonaro, de extrema-direita, dispara mais nova bala na guerra cultural do Brasil”), referenciando o discurso do Secretário de Cultura, Roberto Alvim, sobre o Prêmio Nacional da Arte. A fala ganhou ampla repercussão ao parafrasear, de modo literal e contextual, um discurso de Joseph Goebbels, principal articulador da máquina de propaganda Nazista.

Enquanto isso, o The Guardian, da Inglaterra, dispara: “Like going back 40 years': dismay as Bolsonaro backs abstinence-only sex ed.” (“‘É como voltar 40 anos no passado’: choque com apoio de Bolsonaro a educação sexual baseada só em abstinência”), dessa vez sobre a intenção do governo de passar por cima da comunidade médica para agradar grupos evangélicos e censurar trechos de um livreto sobre saúde sexual para meninas, a pedido do próprio presidente. A atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, também é mencionada.

Outro destaque, dessa vez contrastando com a postura do governo brasileiro em relação ao aquecimento global (que, segundo o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não passa de uma conspiração marxista) e aquela adotada pelo resto do mundo. Só nesta semana, a Alemanha anuncia um plano de 44 bilhões de euros para acabar com o consumo de carvão até 2038; a Black Rock Inc., uma das maiores gestoras de ativos do mundo, anunciou que irá cortar investimentos que apresentem alto risco de degradação climática e 60% das firmas japonesas indicaram apoio a medidas de contenção no uso de carvão por parte do governo, segundo pesquisa da Thomson-Reuters divulgada hoje.

Esses eventos levam a reforçar, mais uma vez, que não só a economia não deu sinais reais de recuperação como o governo, do ponto de vista prático, está ativamente obstruindo a possibilidade de entrada de capital estrangeiro qualificado no país. Os efeitos diretos, para além do retardo na recuperação da economia, se farão sentir em especial na taxa de câmbio: em três semanas, o preço já oscilou 3% para cima, por enquanto sem dar sinais claros de recaída. Ao mesmo tempo, as soluções se tornam mais escassas.

Uma intervenção do Banco Central, injetando liquidez no mercado – que sobe precisamente porque faltam dólares no mercado nacional, a despeito da alta demanda interna e externa (para financiar a saída de capital estrangeiro do país) – não é capaz de solucionar o problema. Se muito, impõe um comedimento temporário nos ânimos especulativos. Uma outra solução, mais radical, seria efetuar mais cortes na taxa básica de juros (Selic).

Entretanto, isso tem alguns efeitos indesejáveis no câmbio. O principal deles, uma saída ainda mais rápida de capital estrangeiro do país, uma vez que se torna ainda menos interessante realizar operações especulativas usando o real. Além disso, caso esse corte, como na última vez, não gere impacto real na economia, teremos ainda saída do pouco capital estrangeiro qualificado ainda em custódia no Brasil – até o ponto em que, inevitavelmente, o otimismo do brasileiro/a não seja capaz de contrabalancear esse movimento de fuga de investimentos.

Em síntese, essa situação crítica não é tão diferente daquela que enfrentamos ao longo de 2019 e para a qual venho alertando a despeito do otimismo que varre o mercado financeiro do Brasil desde a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Entretanto, agora a situação está se tornando cada vez mais problemática e a imagem do país, cada vez mais desgastada. Embora não ache que o mercado financeiro pagará o proverbial pato, em algum momento a realidade baterá a porta. A questão é: quando?

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Excelente  texto.
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