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Melhor é a Metáfora Difícil de Entender

Publicado 17.10.2019, 10:38
Atualizado 09.07.2023, 07:32

Se eu acreditasse em valor intrínseco, faria uma apologia ao valor intrínseco do Day One.

Pode soar arrogante, mas marketing pessoal não é. Não sou eu nem o Felipe que escrevemos isto aqui. Nossas newsletters têm vontade própria. De outro modo, jamais completariam dez anos de vida, batendo ponto todo santo dia, e em dia de diabo também.

O Day One de rotina normalmente é uma companhia agradável, uma forma prazerosa de começar as manhãs. De vez em quando, porém, ele assume contornos excepcionais, de um realismo fantástico.

Dois dias atrás, com a ajuda da Dona Lúcia (sempre!), o Felipe levantou o tapete do mercado brasileiro, arriscando-se ao raro exercício de analisar uma história enquanto ela acontece (Nozoe ficaria orgulhoso de seu aluno mais instigante).

Transcrevo aqui o trecho nuclear, que então nos permitirá ir adiante.

Agora compare isso com o caso das ações. Se o banker ligar para a minha mãe para oferecer a ação de uma determinada empresa, ela também não vai entender o produto em si. Fora das companhias cujas marcas são conhecidas (ela adora a Natura (SA:NATU3), por exemplo; parece haver algo mágico naquele sabonete de erva-doce), ela provavelmente não vai saber que aquela ação representa um pedaço de uma firma, que atua no setor tal, com essa vantagem competitiva e aqueles desafios operacionais e estratégicos. Até aí, estamos parecidos com o caso da oferta de crédito privado, que o investidor-alvo-potencial também não compreende. Contudo, se no caso da operação estruturada supracitada o banker poderia dizer que o retorno seria “IPCA mais alguma coisa acima do retorno da NTN-B”, agora não gozamos mais dessa prerrogativa. Se, na situação anterior, era muito simples para a minha mãe entender o retorno potencial de seu investimento, no caso das ações isso é perdido. Não tem como o investidor falar: “A ação da Petrobras (SA:PETR4) vai pagar IPCA mais alguma coisa…”.

Então, sem entender a matriz de retorno potencial das ações e, supostamente, compreendendo para o caso do crédito privado, me parece natural imaginar que a opção pela “renda fixa” em detrimento da “renda variável” será o caminho, ainda que não se tenha a mínima ideia, em ambos os casos, de onde está, de fato, seu dinheiro. Ela não entende igualzinho de crédito privado e de ações — talvez seja até pior para o primeiro caso. Mas não importa, porque o canto da sereia dos retornos aparentemente garantidos e sem volatilidade das emissões de renda fixa é muito encantador.

Larry Summers diria que os financistas brasileiros estão apenas cumprindo seu tosco papel de “ketchup economists”, fazendo uso oportunista da demonstração de que duas garrafas de ketchup valem o dobro de uma garrafa de ketchup.

Sempre que isso acontece, alguém de fora dos vícios da Faria Lima precisa puxar a cordinha da linha de produção da Toyota e perguntar:

“Ok, minha gente, mas qual é a qualidade desse ketchup? Porque eu dei uma olhada aqui, abri o pote, meti meu narigão de libanês, e preciso dizer que os tomates parecem estar completamente estragados”.

Funciona ainda melhor se alguém de dentro puxa também a cordinha. Assim — me acompanhe aqui, por favor — temos duas pessoas puxando a cordinha: uma de dentro e outra de fora.

A de dentro pode ser o Pérsio Arida, antes de ele entrar para o clube, quando era professor na PUC-Rio, no início dos anos 1980.

Pouca gente sabe que Pérsio escreveu um dos artigos mais brilhantes da história do pensamento econômico. Casado com Deirdre McCloskey, Persio fez pela economia algo semelhante ao que Wittgenstein fez pela filosofia.

No fim das contas, e de modo a mantermos os bons padrões de educação, em vez de discutirmos a hipótese de instituições financeiras empurrando crédito privado desinteressante para seus clientes, preferimos conversar sobre A FRONTEIRA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO.

Arida nos ensinou que implícita na noção de fronteira está a presunção da superação positiva das controvérsias.

Percebemos assim que é a história do pensamento que permite validar ou não a noção de fronteira; trata-se, antes de mais nada, de saber como se resolvem as controvérsias no passado. Ora, um mínimo de reflexão mostra que a superação positiva fornece um modelo pouco adequado para captar o modo de resolução de controvérsias em economia.

Se você concorda que a renda fixa superou definitivamente a renda variável no passado (essa é a premissa vendida implicitamente por trás do balcão da Faria Lima), e concorda que moramos PARA SEMPRE no único lugar do mundo em que inexiste “equity premium”, então está claro que prêmios sobre o CDI ou prêmios sobre o IPCA são os novos campeões de audiência, pois só a nova renda fixa pode superar a velha renda fixa que, por sua vez, enterrou lá atrás a renda variável.

Eu discordo, o Felipe também.

Por outro lado, ambos concordamos que é mais cômodo trocar a muleta velha por uma muleta nova do que arriscar andar sem muletas.

Bem, já que você tocou nesse ponto, se quisermos arriscar de verdade, agora teremos que pensar em rinocerontes.

Seu filho ouviu na escolinha uma história sobre rinocerontes. Aí você conta pra ele, antes de dormir, uma nova história sobre rinocerontes alados. Ok, ele sabe o que são rinocerontes e adiciona umas asas ali. Sucesso. Mas o que acontece se você inventa de contar uma história sobre O Reino Perdido de Atlântida?

Um das principais regras da retórica propõe que o argumento menos carregado de metáforas tem maior poder de plausibilidade (isso é especialmente válido quando as pessoas estão lidando com a difícil decisão de onde colocar dinheiro).

A rigor, a metáfora atinge seu máximo de eficiência retórica no início do debate; no decorrer do debate, ela perde força, tendo que dar lugar a argumentos formais e lógicos.

Nesse sentido, cabe lembrar que a renda variável nos fornece um conjunto de metáforas riquíssimas (inclusive, literalmente), enquanto a renda fixa é uma metáfora relativamente simples, de upsides limitados.

Enquanto podemos contar, em paralelo, mil e uma histórias sobre empresas diversas, a história macro é singular, monótona, uma por vez, sempre enredada nas mesmas personagens de sempre (IPCA, CDI, Zzzzz...).

Essa hierarquia metafórica poderia nos levar a concluir que a renda variável sai em vantagem. Contudo, tal vantagem só se manifesta na realidade a partir do ponto em que a renda variável encontra grandes argumentos empíricos, capazes de suportar o peso de seu enorme poder metafórico. “With great power comes great responsibility...”

Isso ainda não aconteceu no Brasil, ao menos não de forma sistemática.

Já para a renda fixa, aconteceu. Sua metáfora é mais leve, fácil de compreender, e nosso passado empírico se mostrou desproporcionalmente robusto em prol da renda fixa; foi um exercício tranquilo carregá-la nos ombros.

O equilíbrio está mudando agora, com a Morte do Rentismo. Aliás, está mudando tão rapidamente que ainda não deu tempo de todo mundo perceber.

À medida que a Selic cai e o empirismo torna competitivo o embate lógico, a vantagem metafórica da renda variável fica manifesta.

Abrir-se-á a porteira e os rinocerontes debandarão no estouro de cavalgada.

Felizmente, eu, você e o Felipe partimos antes. Somos rinocerontes alados e não existe porteira no reino dos céus.

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