Duas palavras descrevem bem o sentimento do mercado neste momento: pânico e medo. O índice Dow Jones caiu mais de 750 pontos ontem, seu maior declínio diário em 2019. Na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou novas tarifas contra a China que, durante a noite, elevou o tom e permitiu que sua moeda caísse para a mínima histórica, rompendo o patamar de 7.0 USD/CNY no processo. Além de desvalorizar sua moeda, a China também pediu que seus compradores estatais interrompessem todas as importações agrícolas dos EUA. O presidente Trump respondeu acusando a China de fazer “manipulação cambial”, elevando os temores de que solicitará ao Tesouro que classifique oficialmente a China como “manipuladora do câmbio”. Se o Tesouro americano fizer isso, pela primeira vez desde 1994, Trump teria munição para restringir as importações chinesas. Essas ações e comentários antagonistas são um sinal de que o pior ainda pode estar por vir, pois Trump promete “taxar tudo o que sair da China”. A forte queda do Dow e o intenso declínio dos rendimentos do Tesouro refletem as preocupações do mercado com o impacto dessas iniciativas nas empresas e consumidores norte-americanos. Os consumidores sentirão esses efeitos adversos através de preços mais altos e queda nos valores dos investimentos. As empresas americanas sentirão o impacto nos lucros, o que pode reduzir o investimento empresarial e as contratações.
O presidente Trump chamou de decepcionante e inadequado o corte da taxa de juros promovido pelo presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Jerome Powell. Ele assumiu o controle da situação e fez o que o Fed não poderia fazer: enfraquecer o dólar, reduzir os rendimentos e preparar o terreno para uma flexibilização maior. Entre as tarifas e a queda de 800 pontos do Dow na segunda-feira (1.400 pontos desde a última quarta-feira), os investidores estão precificando não um, mas dois cortes de juros neste ano. Os futuros dos fundos do Fed mostram que o mercado está precificando em 100% a chance de um corte de 25 pontos-base em setembro, seguido de uma chance de 100% de outro corte de igual valor em dezembro. Trata-se de uma drástica mudança desde quarta-feira, quando o mercado precificava em 60% a chance de mais um corte de 25 pontos-base em 2019.
Não há dúvidas de que essa guerra comercial de Trump forçará o Fed a agir. Se as tarifas forem impostas em 1 de setembro, consideramos que haverá mais um corte de juros em setembro ou outubro. Mas, como já vimos em diversas ocasiões, inclusive no início deste ano, tudo pode acontecer de agora em diante. Se os mercados caírem demais, Trump pode recuar da sua ameaça e suspender as tarifas. Não esperamos uma virada positiva nesta semana, por isso o dólar norte-americano e moedas de risco estão vulneráveis a correções mais profundas. O par USD/JPY, que perdeu o patamar de 106, pode romper 105.
Tarifas de Trump também afetarão a perspectiva do Reserve Bank, da Austrália. O par AUD/USD estava sendo negociado na mínima de 8 meses, antes da decisão de corte de juros do Banco Central da Austrália (BCA). Na última vez em que o BCA se reuniu, reduziu a taxa de juros pela segunda vez no ano, para a mínima recorde de 1%, e o governador da instituição, Lowe, afirmou: “o conselho está preparado para ajustar as taxas de juros novamente se necessário, para nos aproximar do pleno emprego e alcançar a meta de inflação”. Os economistas preveem três cortes de juros sucessivos, pois houve mais melhorias do que deterioração na economia australiana desde a última reunião de política monetária. As vendas no varejo subiram, assim como a inflação, e os empregos em tempo integral tiveram forte alta em junho, sem falar que a atividade industrial está melhorando. Acredite ou não, mas os dados da China também tiveram alta. Portanto, com base apenas no desempenho econômico da Austrália, outro corte de juros imediato não é necessário. No entanto, as tarifas sobre a China e o iuane mais fraco são fatores importantes para a Austrália e reforçarão a decisão do BCA de intensificar a flexibilização. Como no último corte, eles provavelmente vão decidir esperar até que as tarifas entrem em vigor antes de reduzir as taxas, mas vão preparar o terreno para um estímulo maior neste ano.