Não interessa se você não vive e nem nunca tem pretensão de visitar os Estados Unidos: a cotação do dólar é um daqueles curiosos fenômenos que interfere na vida de praticamente todas as pessoas do planeta. A esmagadora maioria do comércio exterior é realizado em dólar e, por isso, a cotação da moeda americana acaba tendo implicações em virtualmente todos os mercados.
Para o investidor de criptomoedas a cotação do dólar é uma questão primordial. Por serem ativos que não conhecem fronteiras, criptomoedas podem ser negociadas globalmente com baixos custos de transação e, por isso, acabam se tornando ativos dolarizados. O grande problema é que o investidor brasileiro não liga para a cotação de seus investimentos em dólar: mais cedo ou mais tarde, seu plano é retornar para o real, por mais exótica e instável que essa moeda seja.
Por mais que haja avanços na adoção de criptomoedas, moedas fiduciárias ainda são necessárias para negociações do dia a dia. Por isso o investidor de criptomoedas tem de estar sempre atento a duas taxas de câmbio: BTC/USD e USD/BRL. De nada adianta uma subir se a outra cai. Seu balanço geral será negativo.
Historicamente no Brasil lidamos com uma taxa de câmbio alta. No ano passado mesmo o dólar foi um dos melhores investimentos do país, com valorização de cerca de 17% ao longo do ano. A alta do dólar no ano passado é explicada principalmente sobre a incerteza eleitoral: “ano de eleição é ano de comprar dólar”, diz um clichê conhecido no mercado financeiro. Eu odeio clichês, mas a verdade é que eles existem por um motivo: eles funcionam.
Porém se o último ano foi um excelente período para o dólar, o prospecto para 2019 é bem diferente. Com a economia dos EUA superaquecida e com o fechamento da curva de juros americana, o dólar sofre um aumento de pressão inflacionária, delineando cada vez mais um cenário de queda. Ray Dalio, fundador da Bridgewater, fundo que lucrou absurdamente com a crise de 2008 e hoje administra mais de 150 bilhões de dólares, chega a falar em uma queda de até 30% do valor do dólar.
Se lá fora a tendência é de queda do dólar, por aqui parece se delinear uma tendência de valorização do real. Passado o susto do período eleitoral, o alto nível de capacidade ociosa em que o país se encontra deve contribuir para a retomada da economia local. É claro, isso só ocorreria se fizermos o dever de casa corretamente: precisamos da aprovação da reforma da previdência, diminuição do endividamento público e vendas de estatais. Felizmente o governo eleito tem acenado para essas pautas, motivo pelo qual o real e o Brasil sejam atualmente as principais escolhas de investimento dentre os emergentes. Isso, é claro, não é garantia de que esse cenário se concretize.
Precisamos estar sempre atentos à possibilidade de um novo Joesley Day, sempre pode haver uma declaração de “tem de manter isso aí” e fazer com que o dólar exploda, subindo mais de seis desvios padrão e implodindo teorias de gestão de risco que interpretam a ausência de volatilidade como ausência de risco. De maneira geral o dólar é um ativo de baixa volatilidade, o que não significa ausência de risco.
Para avaliarmos risco corretamente precisamos olhar não somente a volatilidade histórica de um ativo, mas sim de todo um portfólio de investimentos, analisando também os fundamentos detrás da escolha de cada ativo. A existência de Joesley Day’s no passado não é justificativa para não comprar dólar: você precisa ter sempre um pouco de tudo, pois nunca sabe qual vai ser o próximo ativo a estourar.
É fundamental porém, que nesse cenário de desvalorização do dólar e valorização do real, você proteja seu portfólio da queda do câmbio. Principalmente se grande parte dos seus investimentos se encontra aplicada em criptomoedas, o que já é uma exposição significativa à moeda americana.
Em geral, no mercado financeiro há sempre duas formas de se posicionar: uma maneira passiva e uma maneira ativa. No cenário de queda do câmbio não é diferente.
Como forma passiva de proteção, o investidor pode simplesmente manter parte de seu saldo em reais e esperar pela desvalorização do câmbio. Não sei quanto a você, mas particularmente não gosto de opções passivas. Eu não quero um retorno médio, eu não quero o beta: eu quero o alfa, eu quero bater o mercado.
Como forma ativa de proteger seu portfólio contra a queda do câmbio, o investidor pode fazer o short (venda a descoberto) do dólar. Como essa operação pode ser de execução complexa e arriscada para o investidor menos qualificado, há alguns fundos de short em dólar que realizam automaticamente a operação para o cliente, supervisionados por gestão profissional. Dessa forma, se o dólar cair, você ganha.
O investidor também pode investir em uma plataforma de arbitragem automatizada para proteger seu patrimônio. Na arbitragem, a operação só acontece quando há a certeza de lucro, realizamos operações com um índice de dólar, obtendo 62,3% de rendimento no ano passado, cifra bem maior do que qualquer possibilidade de desvalorização do dólar no curto prazo.
Dentre as opções acima, não há forma certa e errada de proteger seu portfólio, tratam-se apenas de escolhas diferentes para investidores com diferentes perfis de risco. O fundamental é que você investidor de criptomoedas tenha alguma forma de proteção contra a queda do dólar, mesmo porque este pode ser o momento que você estava esperando para dar uma virada de mão e aumentar sua exposição a criptomoedas, que estarão ainda mais baratas. E não é todo dia que se vê Bitcoin a preço de banana.