Garanta 40% de desconto
⚠ Alerta de Balanço! Quais ações estão prontas para disparar?
Veja as ações no nosso radar ProPicks. Essas estratégias subiram 19,7% desde o início do ano.
Não perca a lista completa

Repensando o Day Trade, parte 2: Como Reduzir a Volatilidade dos Seus Resultados

Publicado 06.08.2020, 16:08
Atualizado 09.07.2023, 07:32

 No texto da semana passada, sugeri repensar o day trade, modalidade no qual uma posição é aberta e fechada dentro do mesmo pregão, enquanto uma forma de gerar renda ativa a curto/médio prazo, tomando como horizonte uma busca por lucros mensais. Para isso, seria necessário deslocar nosso foco, indo do tamanho dos retornos para o controle da volatilidade, isto é, para a construção de ganhos menores, mas mais garantidos.

Na ocasião, toquei apenas superficialmente em como fazer isso, principalmente do ponto de vista da gestão de risco: como a liquidez e a maturação das operações em day trade estão fora do nosso controle, para reduzir a volatilidade precisaríamos primeiro cortar a expectativa de ganhos, além de diminuir o montante colocado em risco por operação, de modo a ampliar a expectativa de retorno positivo, ainda que reduzido.
 
Entretanto, essa fundamentação era em larga medida teórica e bastante abstrata, razão pela qual agora buscarei apresentar uma série de apontamentos concretos para colocar isso em prática no dia-a-dia de quem decide trabalhar com essa modalidade.
 
Controlando os riscos
 
Comecemos pelo fator risco por operação. Sugiro se limitar a uma perda de 0,25% a no máximo 1% para cada operação realizada, algo que dificilmente é viável com menos de mil reais, em especial no caso dos dois instrumentos mais populares, os minicontratos futuros do índice Bovespa e do dólar.
 
No que diz respeito às ações mais líquidas, que são as únicas viáveis de serem operadas em day trade, o montante requerido também deve manter de fora quem tem pouco capital disponível. Isso é bom, pois não é uma barreira ao enriquecimento de quem tem pouco, mas uma proteção contra sua (muito) provável perda de capital.
 
Pessoalmente, sugiro começar com algo em torno de dez mil reais e uma meta de lucro em torno de 2% ao mês, o que dificilmente será o suficiente para se sustentar, mas que representa cerca de quatro vezes o retorno mensal de um fundo imobiliário, cujo risco é muitíssimo menor. Logo, trata-se de um objetivo realista em vista da maior exposição ao risco. Ao mesmo tempo, não requer acompanhamento contínuo nem diário do mercado, o que me leva ao próximo ponto.
 
Operar day trade não significa narrar o mercado ao vivo, como ocorre em algumas salas onde o/a analista está o tempo todo comentando o que o mercado está fazendo. O ideal é que você tenha uma estratégia 100% objetiva e sequer preste atenção no mercado quando ele não estiver próximo de gerar um sinal válido dentro do seu sistema – que, vale lembrar, deve ter sido testado exaustivamente no simulador.
 
A esse respeito, você pode inclusive monitorar pontualmente o mercado enquanto está no trabalho ou desenvolvendo outras atividades, desde que tenha tempo disponível para gerir uma eventual operação sem distrações – quanto mais rápida, mais ela demanda atenção durante sua duração. Lembre ainda que day trade é diferente de day trading every day, isto é, de operar todo dia. É muito mais fácil gerar lucro com algumas operações no mês do que tentando ganhar e arriscando perder a cada novo pregão.
 
Quando operar?
 
Ao contrário do que muitas pessoas pensam e pregam, o melhor horário para se posicionar no mercado não é durante a abertura. Não há qualquer necessidade de estar presente durante o início do pregão, inclusive porque você não tem uma posição aberta no dia anterior. Esse momento é, acima de tudo, aquele de maior movimentação (volatilidade) do dia, o que significa que grandes ganhos são possíveis, mas ao custo de grandes riscos a consistência (previsibilidade) dos resultados.
 
Quando falamos de mercados de altíssima liquidez, como os minicontratos futuros, as primeiras horas servem para delimitar, digamos, as margens do mercado (regiões de máxima e de mínima). O que está no meio é a região de negociação do dia, onde grandes agentes irão realizar balanços de posição, aquisições, vendas, transferências, enfim. Isso significa que oscilações que parecem enormes para quem está de fora, são pontuais para esses grupos. O ideal é aguardar esse momento inicial de briga para, então, começar a pensar em uma possível posição.
 
Via de regra, minha sugestão é que as pessoas só tentem se arriscar nesse ambiente após o horário de almoço, que é quando a volatilidade cai drasticamente e permite ganhos muito mais seguros, embora bem menores (em linha com o risco igualmente menor). A essa altura, os mercados terão estabelecido níveis relevantes para o dia, que podem servir de referência para abertura de uma posição de compra ou venda.
 
Inclusive, é interessante notar que quando falamos em day trade de ações, cuja movimentação ao longo do dia é muito mais lenta que nos minicontratos futuros, a média de pessoas que fecham o mês com lucro é quase o dobro. Isto, tomando como referência a tabela de risco das pessoas físicas que utilizam recurso RLP (retail liquidity provider) em suas corretoras, que permite a realização desse levantamento estatístico.
 
Como disse, menos volatilidade significa mais segurança e mais consistência, o que a curto/médio é bem mais interessante do que longas séries de perdas intercaladas por ganhos excepcionais. Tudo que atua no sentido de uma redução da volatilidade deve ser levado em conta por quem operar day trade, se a meta for produzir resultados consistentes.
 
Análise técnica e volatilidade
 
O primeiro passo para garantir uma sequência consistente de resultados ao longo do tempo é, como mencionei acima, o uso de um sistema operacional que seja 100% objetivo. Isso significa apenas que você segue um conjunto pré-determinado de etapas que ditam a entrada e saída de uma posição de forma clara. Não importa se são simples ou complexos, nem as ferramentas que utilizam, desde que a decisão não fique subordinada a um julgamento puramente subjetivo.
 
O que quero dizer com isso? Bom, num exemplo simples, a identificação de um suporte ou resistência é quase sempre subjetivo porque cada pessoa irá fazê-lo de uma forma, mas uma média móvel simples de 20 dias é a mesma para qualquer pessoa que usá-la. Ela não dá margem para discussão e é isso que seu sistema deve te proporcionar, afinal é isso que irá garantir a consistência dos resultados obtidos.
 
O mercado irá mudar, mas as variáveis do sistema não. Portanto, com dados suficientes, será possível estimar quantas operações erradas ou certas podemos esperar, qual a distribuição de lucros e prejuízos numa série determinada (digamos, 100 operações), qual nossa média de ganho e perda, para citar alguns exemplos. Sem isso, será extremamente difícil confiar na capacidade da estratégia de gerar lucros, o que pode corroer seu psicológico e tornar o impossível o que já era difícil.
 
Indicadores de volatilidade
 
O que falta em muitos sistemas, contudo, é uma forma de definir e administrar a volatilidade do ativo que está sendo monitorado. Isso é fundamental não só para determinar o quanto o mercado está imprevisível em relação ao passado mais ou menos recente, como para determinar o quanto precisamos arriscar numa operação. Destaco a palavra “precisamos” porque se queremos nos proteger a imprevisibilidade do mercado, é necessário dar uma margem de erro maior do que a volatilidade atual.
           
Muitas pessoas fazem isso olhando uma mínima ou máxima de um candle recente e dizendo que você deve posicionar sua perda máxima (stop) um pouco acima dela. Embora correto na concepção, na prática ela deixa muito a desejar. Está correta ao definir um ponto de referência e uma margem de erro da operação (quanto estamos dispostos/as a perder se o mercado for contra nossa posição). O problema é que, a depender do grau de volatilidade e do ponto de entrada, uma mínima ou máxima pode ter pouca relevância.
           
Por isso sugiro fortemente o uso de um indicador técnico que te dê um valor médio concreto para o quanto seu stop deve estar distante do ponto de referência utilizado. O que considero de longe o melhor, para qualquer tempo gráfico, ativo e metodologia operacional (incluindo leitura de fluxo de ordens sem gráfico temporal) é o Average True Range (ATR). Foi desenvolvido nos anos 70 por J. Welles Wilder, uma das figuras mais relevantes da análise técnica contemporânea.
           
Em síntese, esse indicador calcula o tamanho da região de negociação (o chamado true range) de um período (candle ou barra) e plota uma linha com a média móvel desse valor nos últimos N períodos (a média, ou average, do true range). A configuração padrão é de 14 períodos, que podem ser dias, horas, semanas, barras de minutos, etc.
 
Se estamos monitorando uma ação e o valor do ATR tem variado entre 15 e 25, sabemos então que, partindo de um ponto qualquer do gráfico, o preço tem oscilado em média entre 15 e 25 centavos. Dessa forma, não faz sentido abrirmos uma posição nesse ativo se não pudermos arcar com uma perda de pelo menos 15 centavos a partir do ponto de referência que utilizamos – uma mínima, uma média móvel relevante, etc. – porque estaremos expostos/as ao ruído “normal” do mercado naquele momento.
 
Embora nada nos impeça de colocar um stop menor do que esse valor, nosso risco de perda aumenta porque não estamos sequer contando com o ruído do mercado, o que pode ocasionar uma saída precoce com prejuízo mesmo que nossa análise, de resto, se confirme. Contudo, nesse exemplo o ideal seria tomarmos como base uma oscilação de 25 centavos, por ser o valor mais alto no período de referência e que, portanto, nos garante uma margem de erro maior.
 
O aumento no preço real desse stop (digamos que ao invés de perdermos R$15, passamos a perder R$25) pode e deve ser compensado, quando for o caso, por uma redução no tamanho da posição (reduzir lotes, contratos, etc.). Além disso, pessoalmente recomendo operar com um múltiplo do ATR a partir do ponto de referência, algo entre 1.5 a 2 vezes esse valor. Mais uma vez, isso pode acabar mantendo muita gente de fora do mercado, mas a ideia é precisamente essa, justamente para que o aspecto técnico possa se sobrepor a uma região de imprevisibilidade.
 
Considerações finais
 
Lembro que tudo o que foi discutido aqui não significa que você ganhará dinheiro no day trade, mas são passos que irão contribuir muito para essa possibilidade. Os resultados médios, principalmente de quem opera futuros, são massacrantes e estão disponíveis no site da B3. Muito mais do que uma questão operacional, antes de tudo ela resulta de uma compreensão errada dos riscos envolvidos e dos retornos possíveis.
 
Insisto que, em grande parte, isso acontece porque a falta de regulação nessa modalidade faz dela uma espécie de faroeste. Nessa terra sem lei, corretoras e analistas muitas vezes desconsideram completamente o interesse de seus/as clientes ao omitirem suas chances de ganho, iludirem as pessoas com a promessa de que “basta estudar muito” e de que mesmo começando com muito pouco, você pode ter ganhos exponenciais – mas omitem que, com tão pouco dinheiro, será apenas em função da sorte.
 
O day trade pode ser interessante, mas para isso é preciso ir na contramão de quase tudo que se diz por aí. Simplesmente, pergunte-se: se alguém conseguisse realmente gerar ganhos de 100% ao ano – estou sendo muito conservador perto das promessas que vejo por aí, de 20% a 50% ao mês – por que diabos não estamos todos/as operando day trade? Por que essa pessoa está operando por conta própria e não administrando centenas de bilhões para fundos gringos?
 
Ora, se os fundos mais rentáveis do mundo não geram nem de perto algo dessa proporção – com equipes formadas pelos/as profissionais mais qualificados/as do planeta – por que você, caro amigo ou amiga, acha que vai render mais e melhor operando com um capital infinitamente menor, na modalidade mais arriscada dos ativos mais arriscados? Por que alguém que vende cursos te disse que sim? Tenha humildade, tenha disciplina e tenha paciência: esse sim é o caminho para a felicidade, inclusive financeira.  
 
 

Últimos comentários

Parabéns André, seus artigos são muito bons. Cheguei aqui agora a noite, domingo, vendo as notícias do fim de semana e me deparo que com essas aulas.
Um dos melhores artigos que li e que ajudaram-me muito! Gostei demais! São dicas simples, todo trader tem sua técnica, sempre bom alguém acrescentar...
Parabéns pelos 2 artigos, muito esclarecedores. Nesses tempos de desemprego alto, muitas pessoas tem operado day trade como alternativa de trabalho e tem perdido tudo.
muito bom seu texto, é muito difícil o day trader, tem muito vendedores de cursos enganando as pessoas
Excelente !! complementaria que ainda fica na mesa , as taxas das corretoras. Por isto, os analistas , giram tanto a banca . Exceção a poucos que operam de forma mais educativa .
opero no mercado desde 2008 e não gosto da bipolaridade dos gráficos com tempo menor que 60 min... opero 60 mim e diario!
Excelente!
O mais realista dos textos que já li. Excelente.
Excelente!
Bom texto. Parabéns!
Parei de ler quando falou de 2% ao mês  para suportar o stress do day trade. Day trade é insalubre e 2% se ganha dormindo e fácil quando se escolhe uma boa ação para a carteira
Raio X Preditivo é o caminho. O resto é balela.
Alguém aqui conhece um trader milionário?
Vale quem já era milionário antes de virar trader?
Concordo com seu pensamento de procurar ganhos menores porém consistentes, mas tenho que descordar da parte de só olhar para o mercado quando estiver próximo a dar um sinal de entrada.  "O ideal é que você tenha uma estratégia 100% objetiva e sequer preste atenção no mercado quando ele não estiver próximo de gerar um sinal válido dentro do seu sistema" Se você opera setups prontos que os vendedores de curso vendem como o santo graal, acaba sendo isso mesmo. Mas já adianto que operar setups 'milagrosos' sem ter um conhecimento profundo da dinâmica do mercado e de sua microestrutura, pode até funcionar em um curto/médio prazo, porém nunca levarão o trader a consistência de ganhos no longo prazo. Ótimo artigo a propósito!  Se fosse tao simples e tão mecânico apontar sinais válidos para entrada sem a necessidade de estar acompanhando o ativo, bastava automatizar o processo em um robô e curtir a vida na praia.
Limitar perda de 0,25% por operação?? Discordo. Em uma ação de 36 reais você será estopado com 8 centavos de baixa... é uma violinada atrás da outra, pois há poucos sinais que permitam você entrar com tamanha precisão. Qualquer backtest mostrará esse setup como muito "estreito"...
excelente artigo. Os mercadores do lucro fácil vendendo cursos a centenas de iludidos odeiam ler isso
Gostei muito da analogia com o faroeste, terra sem lei, é isso mesmo, parabéns!
Com todo respeito, o autor dessa matéria tem pouco conhecimento sobre day trade. Sugiro um aprofundamento sobre o tema. Abraço.
Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2024 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.