O presidente americano, Donald Trump, brinca com os investidores em todo o mundo de diversas formas. Mas principalmente com relação às discussões comerciais e de propriedade intelectual com a China. Sua técnica é conhecida de todos no mundo, mas nem por isso deixa de influenciar os mercados. Ora Trump está mal-humorado, ora bem-humorado e assim, vai mexendo com os diferentes segmentos do mercado internacional.
Dormimos na última sexta-feira, dia 23 de agosto, diante da iminência de uma guerra comercial entre os dois países. Guerra de efeitos catastrófico sobre o comércio internacional e, especialmente, sobre os emergentes. Os mercados inverteram tendência no último 23 de agosto: 1) Bovespa em queda de 2,34% 2) dólar atingiu a maior cotação do ano em R$ 4,125. A inversão foi no Brasil, mas o próprio mercado americano em 23 de agosto registrou perda de 2,37% para o Dow Jones e de 3,00% para o Nasdaq. A Bovespa, depois de atingir recorde em 106.650 pontos em 10 de julho, perdeu pouco menos de 10.000 pontos.
Mostramos ainda como a situação se deteriorou no mercado local. Principalmente na visão dos investidores estrangeiros, que até o dia 22 de agosto, sacaram da Bovespa (durante o mês de agosto)
R$ 11,0 bilhões, com saques líquidos no ano de 2019 de R$ 21,4 bilhões. Há quem diga que na estatística deveríamos considerar a participação de estrangeiros em operações de IPOs e Follow On ocorridas. Onde o fluxo estaria quase nulo no ano. Teríamos que considerar então as aplicações no exterior em ADRs e ETFs, também negativas. De qualquer forma, os dados divulgados pela Bovespa são inquestionáveis, e a consequência é que deixam de pressionar a estrutura de formação de preços dos ativos e estreitam a janela de oportunidade de novos IPOs e Follow On.
Trump derrubou o mercado americano, fortaleceu o dólar no mercado internacional e perdeu aprovação de sua política comercial, com toda essa idiossincrasia comportamental. Fato é que no último final de semana (de 23 a 25 de agosto) mudou seu discurso depois de a China anunciar retaliações aos produtos americanos. Trump declarou que tiveram duas ligações com os chineses para fechar acordo (fato negado pela China), retomando diálogo e que algum acordo poderia ser firmado. Aliás, falando da União Europeia, Trump espera não punir os carros da Alemanha com tarifação adicional, repetindo a mesma cantilena dos chineses, e pondo a culpa em Barack Obama. Culpando ainda sua flexibilização comercial com países e blocos econômicos.
Como no filme de Almodóvar podemos dizer que os investidores estão mesmo “à beira de um ataque de nervos”, com os mercados assumindo volatilidade e muitas vezes buscando proteção a qualquer custo. No Brasil, o Banco Central detectou que havia escassez de dólares no segmento à vista e em apenas quatro dias vendeu US$ 1,85 bilhão. Bem verdade que fez o movimento simultaneamente com operações de swap cambial reverso. O que tecnicamente não mexe com nossas reservas externas de US$ 390 bilhões e a posição de terceiro maior credor da dívida americana, bem longe de China e Japão, os dois primeiros.
No Brasil também temos os nossos “senões” que atrapalham e muito. A crise na Argentina e mercados com liquidez precária, colocam o Brasil como porta de saída de emergentes, já que temos liquidez bem maior de que outros emergentes. Além disso, temos o presidente Bolsonaro permanentemente envolvido em celeumas diversas. Podemos citar a repercussão internacional da preservação do meio ambiente e queimadas na Amazônia. Em função dessa última crise, destacamos declarações duras entre Macron e Bolsonaro. Na data que escrevo este artigo, 26 de agosto, o presidente antecipou (sem dizer quem ou o quê) que está para estourar uma falsa denúncia contra pessoa próxima dele. Fatos que só agregam instabilidade aos mercados. Por essas e outras que não conseguimos capturar as melhoras do mercado, enquanto nas quedas somos mais eficientes.
O momento exige reflexão, embora existam boas chances para quem gosta de assumir riscos.
Até a próxima semana.