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Você Compraria o Seu Passado? Ou um Portfólio Para Qualquer Maio

Publicado 24.05.2019, 10:54

“Sou um malandro enciumado, machucado
Que espera por você
Juro por Deus se você voltar
Eu vou me regenerar
Jogo fora meu chinelo,
Meu baralho
E a minha navalha
E vou trabalhar.”

Cadê Tereza – Jorge Ben

Eu já fiz tanta, mas tanta bobagem na vida que se a pergunta-título deste texto fosse feita pra mim, responderia com um sonoro “não”. Além das besteiras que eu mesmo fiz, outras coisas ruins simplesmente me aconteceram. Exercícios de voz ativa ou passiva podem render pontos no Enem, mas são indistintos em termos de efeitos práticos na vida.

Para citar só quatro coisinhas mais leves, meu pai morreu prematuramente, não pude cuidar da minha mãe como gostaria quando ela entrou em depressão, tive um filho não planejado (hoje o maior amor da minha vida) e me divorciei menos de dois anos depois de ter me casado.

Sim, você tem toda razão. Minha vida pessoal não é do seu interesse. Sei disso. Ela é bem desinteressante até pra mim mesmo. Imagino pra você. Mas é que talvez, ao menos imageticamente pra mim, isso possa oferecer um paralelo para decisões de investimento, sabe?

Por muito tempo, sofri bastante com esses eventos aí de cima. Deixaram cicatrizes profundas lá dentro. É como se a metáfora de Contardo Calligaris servisse bem para o meu caso: o bioma psíquico é como uma caatinga; quando chove uma primeira vez, formam-se sulcos pelos quais a água escorre. Então, quando volta a chover, todo aquele líquido recai sobre os mesmos sulcos já formados anteriormente. Cada tempestade psíquica desemboca nos mesmos caminhos previamente demarcados por episódios anteriores cujas perfurações foram profundas. Tenho convicção de que, aqui, fomos até o pré-sal — a propósito, entre os erros profissionais, jamais poderei esquecer do Mr. Go Deeper, Márcio Mello, e de sua insuperável capacidade de convencimento sobre a suposta (apenas suposta) iminência de se achar petróleo naquele HRT-170 no Solimões ou mesmo na tal nova fronteira do óleo na Namíbia.

Hoje, lido melhor com as mazelas do passado. Não que esteja tudo zerado. Acho que nunca vai estar. Essas coisas vão e voltam. Abençoados aqueles cujos fluxos de dopamina e serotonina são constantes e equilibrados. A combinação Seroquel mais Depakote ajuda, confesso. Quatro anos de contato com o Cláudio, a versão brasileira de Sándor Ferenczi e sua elasticidade da teoria psicanalítica, certamente dão uma bela contribuição. Também procuro certo refúgio na filosofia, alimento pra alma e pra cabeça — dizem que Nietzsche e Schopenhauer foram curados por Irvin Yalom, mas talvez tenha sido o contrário. Cada vez mais, tento aplicar o Amor Fati na minha vida, aceitando o destino como algo belo seja lá como ele for — ah, isso tem implicações para nossos investimentos também; já chego lá. Às favas com o remorso das coisas ruins do passado ou mesmo das pessoas, incluindo aí aquelas que já cometeram barbaridades contra mim. Quem sabe assim eu possa regenerar-me?

Sabe o que é mais interessante? Eu acho que foi esse monte de erro e de bobagem, que cometi ou que me aconteceram, que me deixou mais preparado hoje. É daí que vem minha reserva interna e a força para enfrentar o que vier pela frente. O sucesso é um mau professor. Ou como diria Edmund Burke: “A dificuldade é um instrutor severo, fortalece os medos e apura a nossa capacidade”.

Pra que tudo isso? Pra tentar te convencer a não olhar retornos passados. Eu sei da enorme tendência a se olhar um investimento ou um fundo num ranking e — bingo! — achar que aquilo vai ser replicado à frente. É talvez a coisa mais recorrente feita pelo investidor pessoa física. Mas é também uma das mais estúpidas.

O sujeito assiste ao William Bonner falando do recorde do Ibovespa e, então, para não ficar de fora da festa, decide comprar ações, algo que nunca fez na vida. Meu, essa é a pior hora pra você entrar na renda variável. Se está em recorde, é porque já subiu um tanto e, agora, as ações já não estão mais tão baratas quanto estavam. A regra elementar de finanças é: compre barato e venda caro. Parece trivial e idiota, mas é simplesmente ignorado na prática.

O cara olha um ranking de fundos e decide investir no topo do pódio. Provavelmente, o gestor do topo foi aquele que se alavancou e concentrou demais. Ele simplesmente deu sorte, após ter sido irresponsável. A história não narra o que poderia ter sido, apenas o que foi. E você, se for olhar retorno somente, jamais vai perceber o risco incorrido para se obter aquele resultado. O problema é que, por definição, a sorte não é sistemática. Cedo ou tarde, ela vai punir a irresponsabilidade.

Vale um pouco do argumento anterior também. Se determinado fundo liderou o ranking passado, é porque ao menos parte de suas teses de investimento já funcionou. Agora, ele precisará de novas teses vencedoras, pois as antigas foram concretizadas. Não é fácil ter novas teses toda hora. A verdade é que se você tiver duas ou três boas ideias num ano, e não fizer bobagem no resto do tempo (valorize a inação; a tentação de sempre ter que tomar uma nova decisão e mexer nas suas posições é enorme, e é também um excelente caminho para fazer coisa errada), está ótimo.

Há pouco mais de quatro anos, criamos aqui o que batizei de Carteira Empiricus. A ideia era oferecer ao assinante um portfólio sugerido completo, com tudo que ele precisava para ter uma sólida construção patrimonial, preservando nossa filosofia de diversificação, devido balanceamento e, claro, proteções contra catástrofes inesperadas. Algo feito para dar bom retorno, mas sem jamais colocar o patrimônio do leitor exposto a riscos desnecessários. Estava ali a proporção entendida como ideal entre ações, renda fixa, câmbio e fundos imobiliários; ou seja, nosso asset allocation favorito. E quais ativos certos comprar em cada classe.

Eu tinha um desejo íntimo, obviamente platônico e pretensioso, de replicar, ao menos em termos filosóficos, aquilo que Ray Dalio, o maior gestor do mundo, chama de “All Weather Portfolio” (um portfólio para qualquer tipo de tempo/clima), uma carteira diversificada entre classes de ativos proposta por Dalio e popularizada por Tony Robbins no livro “Money Master the Game: 7 Simple Steps to Financial Freedom”.

A proposta de Ray Dalio, obviamente escrita para um contexto de países desenvolvidos, num fundo com escala global, apontava para uma carteira com 40 por cento em títulos de renda fixa de longo prazo, 15 por cento em títulos de renda fixa de médio prazo, 30 por cento em ações, 7,5 por cento em ouro e 7,5 por cento em outras commodities.

Em termos mais pragmáticos, a ideia era ganhar dinheiro em qualquer cenário. Bull market, bear market, volatilidade, estabilidade, inflação, recessão. Não interessava. O portfólio precisaria resistir e, se possível, dar grana mesmo nas horas mais difíceis.

Esse era rigorosamente o mesmo objetivo da Carteira Empiricus. E, claro, era (ainda é e, tenho certeza, sempre será) difícil pra caramba de se atingir. Naquele momento, se me perguntassem o que eu projetaria para os próximos quatro anos e pouco, eu não esperaria algo semelhante ao que aconteceu.

Aliás, se o fizesse, certamente seria tomado por exagerado. O problema é que a realidade insiste em não ser nada serena, moderada ou comedida. Ela é mais estranha do que a ficção. Sempre surpreende nossos pensamentos lineares e pouco criativos tecidos ex-ante. A realidade não caberia na instrução 598 da CVM. Ainda mais neste Brasil dos impeachments, dos Joesleys, dos caminhoneiros, dos podres poderes, dos sons e dons geniais, dos tins e bens e tais.

Desde sua criação, a Carteira Empiricus rende 144 por cento, o que representa aproximadamente 210 por cento do CDI. Seria, em linhas gerais, equivalente a multiplicar seu capital por quase 2,5 vezes em quatro anos e dois meses. Isso sob perfil de risco bem controlado — o portfólio é bastante diversificado, não goza de alavancagem e nunca sofreu um drawdown mensal superior a 2 por cento; e olha que pegamos tiro, porrada e bomba no meio do caminho. O book de ações subiu nada menos do que 272 por cento nesse período.

O ano de 2015, por exemplo, foi bastante difícil para os mercados brasileiros, inclusive com pontuações mínimas locais para a Bolsa; e lá estava a Carteira bem acima do CDI. Nem precisa ir muito longe: neste duríssimo mês de maio, o portfólio indicado sobe quase 1 por cento, bem à frente do benchmark mais uma vez.

Ah, sim. Deixe-me logo atender aos céticos: “Esses números são auditados?”. Não, não são. Simplesmente porque não precisam ser. As indicações são todas publicadas antes e a performance, claro, é apurada depois. Está tudo disponível para ser calculado por quem quiser. Você mesmo está convidado a auditar. É só recompor os retornos históricos e conciliá-los com as publicações.

Talvez tenha sido apenas sorte. É provável também que, nessa magnitude, não se repita à frente. Todos nós sabemos que retornos passados não são garantia de retorno futuro. Um único erro e a gente pode explodir esse negócio — o que, inclusive, me dá um medo avassalador. Essa vasta possibilidade de escolha do ser humano é tão libertadora e, ao mesmo tempo, tão assustadora e angustiante. Nada é efetivamente necessário e tudo é tão contingencial.

Seja como for, aconteceu. Ponto-final. Ninguém tira isso dos nossos assinantes. Foi feito aqui verdadeiramente absurdo nesse intervalo de tempo. E eu tenho um orgulho danado do que fizemos aqui. Com a devida humildade e todo o respeito que tenho pelos gênios do mercado (e eu realmente tenho, sabendo exatamente qual é meu lugar no mundo), a verdade é que não houve um retorno parecido com esse no intervalo de tempo citado, com o mesmo perfil de risco.

Mas sabe o que é mais curioso dessa história toda? Eu tenho um pedido pra você: que você jogue no lixo esse retorno histórico. O passado não se muda. Importa sempre pra frente. Ao investidor, coloca-se sempre a necessidade de zerar a pedra e perguntar-se: “Eu ainda sou capaz de fazer?”.

Eu não quero que você siga a Carteira Empiricus por conta de seu histórico espetacular. Definitivamente, não. Eu acho que você deve segui-la pela sua filosofia de investimento, pela diversificação ali proposta, pela obstinação, pelo adequado balanceamento e pela obsessiva recorrência das necessárias proteções contidas entre as sugestões. E, claro, pela equipe à sua frente. João Piccioni e Fernando Ferrer (os envolvidos mais diretamente, além de mim): parabéns pelo que vocês fazem e pelo que vocês são. Toda a equipe em volta acaba subsidiando também e, por isso, também precisa ser parabenizada.

No final, tudo é sobre as pessoas, sabe? Só com o apoio delas podemos atravessar qualquer tipo de clima ou de situação que a natureza e os mercados venham a nos apresentar.

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