Renato Breia | 09.07.2020 11:46
Reflexões
A chamada do título é meio tendenciosa, eu sei.
Dá a entender que, de alguma maneira, eu tenho ideia de para onde a bolsa vai.
Eu não sei. Eu nunca sei.
Mas acredito que passado alguns meses desde o ápice da crise, a gente já pode fazer uma pausa para algumas reflexões.
A primeira delas é que ter entrado em pânico ao longo dos últimos meses de nada serviu.
Em eventos como este, ou você puxa o gatilho rápido, (panic first) ou você não puxa (or don't panic).
Já que não fomos capazes de prever uma das maiores e mais rápidas quedas de todos os tempos, mantivemos a calma e seguramos as emoções quando havia "sangue nas ruas".
Não tenho a menor dúvida de que este foi o nosso melhor feito do primeiro semestre.
A constatação dessa nossa contribuição é que o feedback mais recorrente que recebemos hoje em dia são de assinantes agradecendo por termos passado calma e serenidade durante os momentos mais tensos do mercado.
É verdade que quanto mais profunda e doída uma crise é, maior o aprendizado.
Para além dos ensinamentos, é compensador pensar que o patrimônio de muitas pessoas foi preservado.
Reflexões II
A segunda reflexão é que ter ficado cauteloso aos 60 mil pontos não funcionou.
Especialistas que recomendaram comprar ouro, dólar e proteções no auge do furacão viraram a mão só agora, nos 100 mil pontos.
Sem qualquer constrangimento e com uma boa dose de cherry picking (escolher a dedo só aquelas que interessam): "Olha aqui as ações que eu recomendei e que subiram mais de XX por cento nas últimas semanas".
É curioso, porque a cartilha de melhores práticas de um investidor está disponível há décadas.
"Compre na baixa, venda na alta"
“Compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos"
"Seja agressivo no pânico, e cauteloso na euforia"
“Não há dias ruins no mercado. Quando o mercado está em baixa, você tem pechinchas e é ótimo pensar no que está comprando a preços baixos. Quando o mercado está em alta, as barganhas desapareceram, mas você ficou rico."
Toda a vez que você flertar em fazer algo diferente disso, repense.
Instintivamente, a gente pensa que quando a bolsa está caindo, ela vai cair para sempre. Da mesma forma que quando a bolsa está subindo, ficamos mais confiantes e achamos que ela vai subir para sempre.
A pergunta que vem a seguir então é: aos 100 mil pontos, já é hora de pular fora?
O que fazer
Não, não é hora de pular fora.
Mas isso só serve para você que está alinhado comigo em não tentar apinhar os movimentos de curto prazo do mercado.
Aqui é longo prazo.Na minha visão, a crise interrompeu momentaneamente uma mudança estrutural que vinha ocorrendo na bolsa brasileira, e que deve ser retomada de forma mais duradoura daqui em diante.
Em outras oportunidades eu já mostrei aqui 3 gráficos que corroboram para esta tese.
O primeiro deles mostra o earnings yield da bolsa vs. o juros pré fixado de 3 anos.
O earnings yield mede a lucratividade das ações da bolsa em termos percentuais. Isso significa que comprando 100 reais em ações, você está levando ao redor de 6 por cento de lucro das empresas.
Em nenhum momento dos últimos 13 anos, essa diferença entre o lucro das empresas e o que se ganha na renda fixa foi tão grande.
Naturalmente, por conta dos impactados da pandemia, os lucros das companhias devem ser menores nos próximos trimestres.
Mas como os dados recentes de atividade vêm mostrando — inclusive animaram a bolsa nos últimos dias — podemos ter uma recuperação econômica mais rápida do que o inicialmente previsto. Por consequência, os lucros também podem ser revistos para cima.
Essa mudança no panorama para o investimento em ações é tão transformacional que até o pidend yield (parte do lucro distribuído pelas empresas como forma de pidendos em termos percentuais) está próximo de superar os juros da renda fixa também.
Note que nos últimos 13 anos as duas linhas nem ao menos flertaram com uma aproximação.
O terceiro e último gráfico, que eu gosto sempre de mostrar, é o de como, no longo prazo, a bolsa sobe com o lucro das empresas.
Fonte: Bloomberg
O segundo semestre promete ser riquíssimo em notícias negativas sobre a pandemia, o cenário político e, além disso, teremos eleições.
Alarmistas vão tentar desviar o seu foco desse grande movimento que está prestes a acontecer para o investimento em ações.
Estaremos aqui para evitar que isso aconteça.
Bom segundo semestre para todos nós
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