3 tendências macro conflitantes colocarão à prova a economia dos EUA

 | 03.08.2023 09:54

Não deixa de ser uma ironia o fato de eu ter planejado esta coluna há alguns dias e começado a escrevê-la ontem, pois as preocupações que abordarei a seguir têm estreita correlação com a última notícia de que a Fitch rebaixou a nota de crédito de longo prazo dos EUA de AAA para AA+. A decisão coincide com a da S&P, enquanto a Moody’s ainda mantém seu rating AAA.

Antes de prosseguir, quero enfatizar que minha preocupação não é propriamente com a possibilidade de os EUA deixarem de honrar seus títulos, no sentido clássico de dar um calote. Um governo capaz de imprimir a moeda na qual seus títulos são denominados não pode ser forçado a dar um calote, já que pode imprimir os juros e o principal.

No entanto, essa ação poderia causar uma grande onda inflacionária, o que, em certo sentido, significaria um calote em relação ao valor da moeda. Não podemos negar que, em alguns casos, a dívida pode ficar tão grande que imprimir uma solução se torna inviável, a ponto de o país preferir o caminho do calote, para não prejudicar a população em geral, deixando as consequências diretas para os detentores dos títulos. Contudo, quero acreditar que esse não é o cenário atual ou provável nesta década.

Agora, vamos voltar ao assunto que pretendia abordar.

Estou preocupado com três tendências gerais que se inter-relacionam:

  1. Os déficits federais, além de enormes, não param de crescer (novamente).
  2. O debate em torno da repatriação da produção para os EUA.
  3. A redução do balanço do Federal Reserve.

À primeira vista, duas dessas três tendências são inquestionavelmente positivas. A menor influência do Federal Reserve nos mercados de dívida é algo positivo, e o retorno da produção para os EUA reduz riscos de perturbação econômica e gera empregos de alto valor agregado. No entanto, estou preocupado com a maneira como essas tendências interagem.

Mais especificamente, o que me intriga é saber de onde virá o dinheiro para financiar o déficit federal. Já tratei disso anteriormente. Em poucas palavras, quando o governo gasta mais do que arrecada, o saldo deve vir de poupadores domésticos ou estrangeiros. Os "poupadores estrangeiros" obtêm seus dólares através do nosso déficit comercial (enviamos mais dólares a eles do que recebemos, e eles precisam investir esse dinheiro de alguma forma). A julgar pelo fluxo do déficit comercial, podemos ter uma ideia bastante clara desse lado da equação. No lado doméstico, a poupança vem principalmente de indivíduos e, nos últimos 15 anos ou mais, também do Federal Reserve. Essa é a razão pela qual estas duas linhas se movem de forma bastante correlacionada.

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