A César, o Que é de César: Por que, Então, Tanto Pessimismo no Brasil?

 | 21.10.2021 08:40

O começo desta semana no Brasil foi desalentador: o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o Congresso se aliaram para estourar o teto do gasto com uma proposta populista de auxílio às famílias desprotegidas, o Senado negou-se sequer a discutir a tributação sobre dividendos, passando um sentimento de que a austeridade estaria enterrada. Apressa-se, então, o Banco Central em declarar que leniência fiscal será compensada com agressividade monetária crescente. Como resultado, as bolsas despencaram, os commodities marcham alinhados para um desaquecimento, eliminando o fator inflacionário dominante no movimento de alta atual. Portos passam a funcionar em turnos de 24 horas, contribuindo para a normalização logística e, ainda que mais lentamente do que se esperava, o recondicionamento das cadeias produtivas vai acontecendo, empurrando a inflação de custos para um segundo plano. Europa e China, então, consolidam um cenário de crescimento satisfatório para 2022, sem herança inflacionária preocupante e com as autoridades monetárias atentas para eventuais correções marginais nas taxas de juros.

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve ganhou a batalha contra o delírio do mercado de alguns meses atrás, que suplicava por aumentos de juros imediatamente. Fiel aos manuais de Economia, o Fed declarava que inflação de custos é fenômeno transitório, que prescinde de alta de juros para ser revertido. Lá, os juros futuros subiram e caíram sem que o Fed se abalasse. Mais recentemente, constatando que alguns pontos de estrangulamento no mercado de trabalho começam a se consolidar e que há uma alegria crescente no comportamento dos consumidores, o Fed adianta-se e avisa que vai iniciar neste ano a diminuir a injeção de liquidez na economia, postergando para 2022 aumentos modestos nos juros. Com isto, a economia americana continua a crescer sem surto inflacionário e as bolsas se valorizam, graças ao desempenho lustroso de suas empresas.

Resumindo: em uma ecologia internacional amena, até favorável à economia brasileira, aqui o humor dos investidores azedou. Pasmem: mesmo com o setor produtivo revelando dados tranquilizadores quanto ao comportamento da economia. Sim, pois a reversão da alta dos preços de commodities beneficia-nos no fronte inflacionário, fazendo com que os 10,25% do IPCA acumulado até setembro sejam o pico inflacionário, se São Pedro ajudar. Daqui para frente, marcha batida para 3,5%, até o final do ano que vem. A atividade econômica está voltando, muito bem no setor primário, razoável nos serviços e débil no industrial. Vale dizer, 5% de crescimento do PIB neste ano e algo entre 2 e 4% no ano que vem, a depender da truculência do Banco Central em demonstrar comprometimento com o enfrentamento da inflação. Das contas externas nem é preciso comentar, céu de brigadeiro neste e no próximo ano.

Por que, então, tanto pessimismo?

Os mal humorados de sempre respondem que o compromisso fiscal foi para o espaço, questão de tempo então para o gasto governamental inflacionar a economia e o Banco Central ser obrigado a subir ainda mais os juros, gerando estagflação.

No que se refere ao comportamento do Congresso, a crítica procede. Realmente, aumentar o subsídio às famílias além do proposto, ao mesmo tempo em que se nega a tributar as classes altas é a volta da velha fisiologia que vem retardando nosso crescimento há décadas.

Na verdade, na questão fiscal vivemos um momento semelhante ao pós-Cruzado, em relação à inflação. Repare que o Cruzado – uma agressão à Lógica com seu aumento de salário real e congelamento de preços – nunca teve chance de dar certo. Mas despertou os políticos para a demanda latente ardorosa que havia na sociedade por estabilidade de preços, que culminou com o genial Plano Real. Desde então, o combate à inflação tornou-se prioridade de esquerda e direita, apesar de desmunhecadas eventuais. Pois a emenda do teto do gasto é o Plano Cruzado da austeridade fiscal: só um alienado pode crer que funcionaria limitar o total de gasto, sem especificar quais itens desta despesa seriam controlados. O objetivo subjacente a medida tão estapafúrdia era forçar a classe política a cortar os gastos correntes intocáveis, a reduzir benefícios abusivos dos funcionários públicos e trazer racionalidade a aposentadoria dos marajás. Que isto seria possível ficou comprovado pelo sucesso dos governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, por exemplo, que aprovaram cortes estruturais de despesas com pessoal nas suas Assembleias. Está faltando agora o Plano Real da austeridade fiscal, do qual a reforma administrativa que paira no Congresso seria o passo mais importante.

Infelizmente, em Brasília, os ventos do bom senso não passam de brisas. O Parlamento se nega a cortar privilégios, tributar os ricos, mas abraça amorosamente a demagogia do gasto eleitoral populista. O momento, então, é de pressionar nossos representantes a agir como estadistas e não mais com o oportunistas irresponsáveis.

Muito importante: reconhecer que o Ministro da Economia é o líder legitimo do processo de modernização da economia, que manteve a dívida publica sob controle, apesar da pandemia e das pressões políticas. O único Ministro que ousou propor aumentar a tributação da classe alta. Que vem lutando por todas as bandeiras que havia alçado desde sua nomeação, apesar do ônus imposto por pertencer a um governo tão contestado.

Reconheçamos que o Executivo está fazendo sua parte e coloquemos pressão no Parlamento para que as condições objetivas existentes para uma retomada sustentável do crescimento sejam concretizadas.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações