A Educação do Amanhã

 | 28.08.2020 12:35

Alguém precisa fazer algo

O sistema educacional “atual” está (muito) defasado.

Pare para pensar: além do fato de que hoje existe a educação a distância, o que mudou na forma de ensinar e formar profissionais nas últimas décadas?

Eu respondo: praticamente nada!

A educação a distância no ensino superior não é nada além do que um novo canal (com mais alcance e menos custo) para entregar o mesmo conteúdo que é teórico demais e útil de menos para a futura vida profissional dos alunos.

Não quero defender que um diploma universitário não tem seu valor, mas tenho certeza de que você conhece algumas (várias) pessoas incrivelmente bem-sucedidas que atuam em uma área completamente diferente daquela em que se formaram ou que simplesmente nem possuem uma graduação.

Isto é apenas um indício de que algo pode não estar certo dentro das academias, ao menos para aqueles que pretendem exercer uma profissão no mercado de trabalho e não na carreira docente.

Eu poderia gastar horas apontando diversas deficiências do nosso sistema de ensino, mas acredito que é bem evidente que ele ficou para trás no quesito evolução, enquanto nossa sociedade avançou a passos largos em diversas áreas ao longo dos últimos 70 anos.

Mas o que realmente me incomoda é o fato de que ninguém parece se preocupar com isto.

Talvez por questões culturais (ou apenas força do hábito), o planejamento dos pais para seus filhos ainda se resume a algo como: “quero que meu filho faça um bom curso em uma boa universidade”.

 

Alguém (finalmente) fez algo

Sempre que paro para pensar neste tema acabo ficando um pouco triste e não muito empolgado com o futuro da nossa sociedade.

Entretanto, fiquei bastante animado quando a gigante de tecnologia americana Google (NASDAQ:GOOGL) (NASDAQ: GOOG) anunciou o lançamento do programa Google Career Certificate (Certificado de Carreira do Google).

O Google irá começar a oferecer cursos profissionalizantes de curta duração, com apenas seis meses de duração, mas irá atribuir a estes certificados o mesmo peso de um diploma tradicional de quatro anos durante seus processos de recrutamento.

Em um primeiro momento serão oferecidos três cursos relacionados a área de tecnologia (é lógico):Gerenciamento de Projetos, Analista de Dados e Designer UX. Os cursos serão desenvolvidos e ministrados por profissionais que atuam em cada uma destas áreas dentro da companhia.

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Ainda não sabemos os preços dos cursos, mas a empresa já informou que eles custarão apenas uma fração do que custam os diplomas tradicionais. Além disso, o Google disse que pretende ajudar os alunos a encontrarem o emprego ideal, mesmo que ele não seja dentro da própria companhia.

A iniciativa inovadora gerou controvérsia. A primeira reação de algumas pessoas foi defender que a empresa não poderia se comparar a uma instituição de ensino formal.

E eu adorei, isto é um excelente sinal. Se incomodou é porque quem estava confortavelmente acomodado levou um susto e começou a se preocupar.

Será que os caros, longos e chatos cursos superiores estão com os dias contados?

 

A coragem para inovar

Ainda é muito cedo para tentar prever qual será o impacto da iniciativa do Google no sistema educacional vigente. Em algumas áreas de ensino é pouco provável que este modelo seja aplicável, como na medicina.

Mas a iniciativa é admirável.

Ao mesmo tempo em que é simples, resolve um problema que já está escancarado há muito tempo, e é genial por conta de um pequeno detalhe: quem não quer trabalhar no Google?

Fico imaginando como foi a reunião na qual a ideia foi apresentada pela primeira vez, alguém simplesmente levantou a mão e disse: que tal se a gente cobrar para treinar nossos potenciais futuros funcionários?

O simples fato de transformar um custo em uma receita, por si só, já torna a ideia genial. Só que de quebra, como externalidade positiva, esta inovação pode revolucionar a indústria da educação superior como um todo.

Se o Google faz um curso assim e fala que para ele isto vale como uma graduação tradicional, logo outras empresas vão começar a falar que para elas também vale ou podem até lançar seus próprios cursos.

No longo prazo, as pessoas podem deixar de estudar coisas inúteis e focar em aprender o que realmente faz diferença no mercado de trabalho.  Com este pequeno passo que está sendo dado agora, a produtividade do mundo pode ser maior amanhã.

O que mais me admira nesta história é que, apesar de ser uma empresa de tecnologia, a inovação proposta pelo Google não tem nada a ver com um avanço tecnológico, mas, sim, com uma evolução de mentalidade.

Muitas vezes empresas que estão no ramo de tecnologia ou que simplesmente estão utilizando a tecnologia para digitalizar sua operação são confundidas com empresas inovadoras, mas uma empresa inovadora é muito mais do que isso.

Inovar não é olhar para dentro de casa e pensar “como eu posso utilizar melhor os ativos/recursos que tenho disponíveis hoje?”. Isto é muito importante, mas se chama ser eficiente.

A inovação não vem de dentro pra fora, ao contrário, precisa vir de fora pra dentro para ser realmente impactante e relevante.

As empresas capazes de inovar são aquelas que primeiro olham para uma dor, uma necessidade, um problema que existe na sociedade, e então começam a traçar possíveis soluções, que muitas vezes acabam demandando a criação de um novo produto ou serviço.

Inovar é ter a coragem de olhar para o status quo e não se limitar a ele.