A Estratégia de investimento “Que Nem Deus Pode Vencer”

 | 03.06.2021 11:48

O Ibovespa continua renovando suas máximas nessa semana, ultrapassando os 129 mil pontos. Certamente vamos ver a mídia especializada inundar suas manchetes com esse feito, o que irá atrair novos investidores, ávidos por não ficarem de fora da festa (como sempre).

Porém, alguns ainda terão o senso crítico de se questionar: seria esse um bom momento de entrar na bolsa? Será que não estarei entrando em um mercado caro?

Se existe um fator que desafia qualquer investidor, esse fator chama-se “market timing”. Qual o melhor momento de comprar? E de vender? Como identificar o melhor momento de comprar ações?

Me arrisco a dizer que essas dúvidas acompanham todo investidor com pouca experiência ou ainda pouco convicto de suas análises e estratégias.

Mas então como descobrir os melhores “pontos de entrada” do mercado? Quais métodos e estratégias devemos usar para saber o momento de investir nosso dinheiro?

Acontece que talvez não tenhamos a necessidade de saber.

Certa vez li que aquele que faz as perguntas certas tem todas as respostas que precisa. A pergunta não é “quando comprar”, e sim “faz diferença saber quando comprar”?

Ou seja, na prática, existem resultados significativos em uma carteira de investimentos que procura “comprar na baixa” perante uma carteira simplesmente disciplinada, que investe todos os meses, independente das condições de mercado? É o que vamos descobrir hoje.

h2 A ESTRATÉGIA DE INVESTIMENTO QUE NEM DEUS PODE VENCER/h2

Um dos artigos mais completos que li sobre o tema é um artigo de Nick Miggiuli intitulado “Even God Couldn’t Beat Dollar-Cost Averaging”, traduzindo seria algo como “Nem mesmo Deus poderia bater o custo médio em dólar”.

Para que vocês possam compreender melhor, a estratégia de investimento é conhecida popularmente no Brasil como estratégia do preço médio, é chamada nos Estados Unidos de “Dollar-Cost Averaging” ou DCA.

De toda forma, a lógica é a mesma: em ambas as estratégias o investidor faz investimentos mensais independente das condições de mercado, seja nas máximas ou nas mínimas.

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Mas, existe uma há outra estratégia de investimento, na qual o investidor apenas aporta quando o mercado cai significativamente. Enquanto isso não acontece, ele vai acumulando seu capital em uma reserva de liquidez (nos Estados essa reserva rende praticamente zero), aguardando o momento certo de investir. Essa estratégia é conhecida como Buy the Dip (“compre o mergulho”).

Miggiuli fez um estudo muito interessante, tendo o S&P 500 como mercado para análise: simulou dois cenários: um onde o investidor aplica US$ 100,00 todos os meses, independentemente do mercado, e no outro, o investidor aplica somente quando o mercado der um “mergulho”, enquanto isso, ele vai acumulando esses mesmos US$ 100,00.

Bom, aí começamos com as polêmicas: como identificar exatamente um “mergulho” no mercado? O que caracteriza um ponto de compra na segunda estratégia?

Para resolver esse problema e acabar com essa dúvida, Miggiuli decidiu testar uma “estratégia de investimento perfeita”, na qual o investidor seria “onisciente” e soubesse exatamente quando comprar, tendo como critério saber exatamente onde seria um ponto mínimo entre duas máximas históricas no mercado. Literalmente uma estratégia quase impecável.

Ao que parece, não há o que discutir, certo? Não há dúvidas que uma estratégia perfeita, onde você sabe exatamente onde comprar, será melhor. Pois é nesse momento que o autor nos surpreende ao mostrar que a resposta é: depende.

Mas em linhas gerais, o estudo mostra que a estratégia do preço médio (dollar-cost averaging) performa melhor na maior parte do tempo, enquanto que a estratégia Buy the Dip só performa bem em janelas pós-crises.

E é por isso que ele afirma que se a estratégia Buy the Dip não consegue performar melhor na maior parte do tempo, então nem mesmo Deus pode bater a estratégia do preço-médio!

h2 MAS COMO ISSO É POSSÍVEL?/h2

Os resultados desse estudo nos fazem concluir que a ação do Tempo e dos Juros Compostos é muito mais avassaladora do que o Market Timing.

Acontece que o mercado de ações, na maior parte do tempo, está em tendência de alta. Existe oscilações, é claro, mas quedas bruscas e significativas são muito poucas.

No caso do S&P 500 podemos destacar as quedas de 1930, 1970, 2000, 2008 e 2020. Ou seja, em quase 100 anos de análise, em apenas 5 momentos tivemos oportunidades de aproveitar de fato um “mergulho” do mercado.

Sendo assim, enquanto o investidor da estratégia do preço médio está rentabilizando seu dinheiro de forma contínua e com os juros compostos a seu favor, o investidor Buy the Dip está de fora do mercado, com seu dinheiro rendendo algo próximo de zero. Ilustrando o que o estudo quer mostrar, no gráfico abaixo estão marcados em verde os pontos de todas as máximas históricas do S&P 500 (pontos em que o mercado fechou acima da máxima histórica anterior), enquanto que em vermelho estão marcados todos “fundos” que o mercado fez (menor ponto entre duas máximas históricas). O período compreendido foi entre 2000 e 2020.