A Festa Junina Que Podemos Ter

 | 02.06.2020 12:51

Sempre tive dificuldade com a imanência. A ideia de significados em si mesmos, sem que houvesse um “algo a mais”, com uma condenação a viver apenas o presente e desfrutar dele, me parecia um tanto insuficiente.

Talvez por conta da criação jesuíta, vivo à espera de alguma espécie de salvação, que está descolada no agora, pondo-se em algum momento além do atual, transcendente àquele instante vivido. Existe um descolamento mental do agora para o futuro.

Curioso como essa transcendência permaneceu além das raízes religiosas. Mesmo quando o Deus de Spinoza ocupou o lugar do Deus católico, continuei a ligar-me psiquicamente a algum evento futuro que pudesse acontecer e trazer-me algum preenchimento ontológico. Ao longo da caminhada, foi estranho perceber que alguns desses supereventos transcendentes esperados acabaram se materializando, trazendo, sim, alguma felicidade momentânea, mas sendo rapidamente substituídos por um novo vazio e pela formulação de uma nova expectativa.

“O desejo, por sua natureza, é dor: sua realização traz rapidamente a saciedade; a posse mata todo o encanto; o desejo ou a necessidade de novo se apresentam sob nova forma: senão, é o nada, é o vazio, é o tédio que chega.” Essa seria a versão de Schopenhauer para o problema. A teoria psicanalítica apontaria algum sentimento inconsciente de culpa. Pode ser uma ou outra, talvez as duas, eu não sei. Não importa para os nossos fins.

O fato é que sempre me mantive, de algum modo, com ao menos parte do cérebro deslocado do presente para um futuro imaginado. De um lado, identifico uma função positiva propulsora interessante: é essa insatisfação crônica que me impele a seguir em frente na direção de novos objetivos, perseguidos de maneira obsessiva. Em contrapartida, traz consigo a incapacidade de contemplar as virtudes do presente, ainda que suas virtudes estejam apenas nele mesmo.

A conversa aparentemente psicológica e, talvez, filosófica encontra repercussões práticas.

O que você observa do mercado hoje? Querendo ou não, gostando ou não, é um mercado leve, comprador, sem vendedor marginal, migrando para ativos de risco. Aumentam as tensões entre EUA e China, o mercado sobe. Elevam-se os protestos nos EUA e no Brasil, o mercado sobe. A China restringe importações de soja e carne suína dos EUA, o mercado sobe. PMIs frustram as expectativas, idem. Novos testes da Gilead apontam resultados bem mais limitados para o remdesivir, idem.

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Sob a brutal expansão de moeda no mundo, os mercados continuam subindo. Se principalmente o Fed, mas também o BoJ e o BCE, não deixam cair, então não dá para vender. Como os mercados são simplistas, se não é para vender, então é para comprar. E assim vamos migrando em direção ao risco. Objetivamente, o que se observa é um aumento do apetite por risco, inclusive com elementos já observáveis de “dash to trash”, uma maior disposição a se comprar empresas em sérias dificuldades — se você pensou em fortes altas para empresas aéreas, de turismo, outras que estão fazendo aumento de capital neste momento e, lamento informar, nosso EWZ, está no caminho certo.