A Guerra Poderá Afetar o Mercado de Café?

 | 07.03.2022 10:46

Desde o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia (dia 24 de fevereiro 2022) a cotação do contrato do café Set-22 em Nova Iorque chegou a cair -2.635 pontos (máxima/mínima/fechamento respectivamente @ 245,90 / 219,55 / 221,95 centavos de dólar por libra-peso semana). O R$ fechou praticamente no mesmo nível @ 5,07 R$/US$ (após oscilar entre a máxima/mínima respectivamente @ 5,04 / 5,22 R$/US$). No mercado interno brasileiro o café arábica chegou a romper a barreira dos 1.300 R$/saca, negociando na semana entre 1.250/1.350 R$/saca. Saudades quando o mercado estava “pagão” nos 1.450/1.550 R$/saca (chegando a negociar até mesmo nos 1.750 R$/saca para alguns lotes pontuais do café tipo cereja descascado).

Infelizmente enquanto o Brasil “curtia o carnaval” a guerra estava correndo solta e o mundo analisando os reflexos nas principais commodities. Alguns traders/produtores de plantão, acompanhando de perto as notícias sobre a guerra e as repercussões nos outros mercados, ainda conseguiram liquidar posições no Set-22 entre 230-236 centavos de dólar por libra-peso.

Apesar da posição dos fundos + especuladores ter caído -6.827 lotes para +48.464 lotes (segundo a última posição do CFTC*) o mercado segue tenso/pesado/preocupado. O próximo relatório do CFTC* deverá apresentar uma posição comprada ainda menor pois entre a quarta-feira e a sexta-feira o mercado chegou a cair –1.500 pontos.

Nos últimos 12 meses o petróleo brent subiu aproximadamente +83% (+65/+119.80 US$/barril); gás natural +77% (+2,80/+4,92 US$/m3); soja +37% (+1.280/+1.650 centavos por bushel); milho +47% (+512/+752 centavos de dólar por bushel); trigo +91% (+650/+1.210 centavos de dólar por bushel); açúcar “apenas” +28% (+15,15/+19,36 centavos de dólar por libra-peso); e o café, mesmo com a forte queda dessa semana, +70% (+131,70/+222,00 centavos de dólar por libra-peso).

Lembrando que o Set-22 negociou na máxima do contrato no dia 10/fev/22 @ 256,90 centavos de dólar por libra-peso enquanto o R$ spot @ 5,25 R$/US$. Essa paridade deu oportunidades para o produtor vender seu produto para entrega entre julho-set-22 acima dos 1.650 R$/saca! E para o mesmo período julho-set-23 acima dos 1.750 R$/saca!

Basicamente o produtor que não se protegeu “deixou de ganhar” aproximadamente +250/+300 R$/saca (aproximadamente +58,80 US$/saca)! Para um produtor com produção em +5.000 sacas essa queda nos preços representa uma redução no seu faturamento ao redor dos -R$ 1.500.000 (aproximadamente -US$ 294.000). Façam as contas na proporção para o produtor com produção em 10/15/20/50.000 sacas!

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Algumas teorias para a queda do café enquanto algumas outras commodities agrícolas não paravam de subir:-

– os fundos + especuladores vendidos em petróleo, grãos foram obrigados a “zerar a posição” vendendo a posição comprada no café que estava dando resultado positivo;

– os fundos + especuladores realizaram operações “long x short”, ou seja, comprando grãos e vendendo café;

– as novas posições compradas acima dos +235 centavos de dólar por libra-peso foram “estopadas”.

 

Mesmo com os fundamentos ainda positivos, os fundos/algoritmos/robôs operam levando em consideração não só os fundamentos mas também os indicadores técnicos (linhas de suporte/resistência; médias móveis; indicadores que indicam posição “sobrecomprada / sobrevendida” dentre outros).

Com a alta das principais commodities e o efeito dominó na cadeia produtiva/logística o mercado começou a sinalizar preocupação com eventual redução no consumo mundial do café – principalmente na Europa. Hoje a Europa responde por aproximadamente +33% do consumo mundial do café (aproximadamente +56.000.000 sacas). A Rússia e Ucrânia aproximadamente +5.500.000 sacas!

A OIC* projetava um crescimento no consumo ao redor dos +2% ao ano (+3.500.000 sacas por ano).

Considerando o quadro da “oferta x demanda” abaixo referente a safra 21/22 para a safra 22/23 e para a safra 23/24 então o indicador “Estoque x Consumo” volta a ficar mais “confortável” já a partir da safra 22/23 acima dos +15%, e já para a safra 23/24 acima dos +25% (tendo os dados da Conab* como parâmetro para os dados do Brasil para as safras 21/22 e 22/23 e com base na expectativa das principais consultorias para a safra 23/24, e demais países com base nos dados do USDA* e o crescimento dos 2% ao ano com base na OIC*) .

Cenário 2, considerando as variáveis acima e reduzindo o aumento do consumo para +1,25% e com a safra Brasil 22/23 em 59 milhões de sacas, então o indicador “Estoque x Consumo” para as safras 22/23 e 23/24 aumenta para +18,36% e +30,33% respectivamente.

Cenário 3, considerando as safras brasileiras 22/23 e 23/24 em +45 e + 65 milhões de sacas, então o indicador “Estoque x Consumo” para as safras 22/23 e 23/24 diminui para +10,26% e +19,47% respectivamente.

Ou seja, o Brasil continuará sendo a principal origem “fazendo preço” no mercado!