A Instabilidade Política Pode Criar Oportunidades Para o Bitcoin?

 | 07.06.2019 14:42

Jamais deveria ser segredo para a população que macroeconomia tem um forte quê de bruxaria. A maioria das questões macroeconômicas que são consensuais entre os bons macroeconomistas são menos de teoria econômica e mais de contabilidade básica. A reforma da previdência? Independe de ser ortodoxo ou heterodoxo para percebê-la como necessária se há o mínimo de clareza sobre como funciona o orçamento público. Alto custo da burocracia estatal? Sabemos comparando as variáveis objetivas “percentual de funcionários públicos no governo central” e “gastos com funcionalismo público no governo central” entre Brasil e demais países da OCDE. Nada entra em teorização, a princípio. Já questões como “previsão de PIB”, “desenho das instituições para maior crescimento” e afins são extremamente difíceis e técnicas e não temos tanto sucesso em formar um consenso.

Dito isso, há muitas ideias ruins que, apesar de não consensuais, soam estranhos. Por exemplo, há diversas propostas de uniões monetárias como o Euro. No caso europeu deu certo? Não há consenso claro, e há diversas regras prescritas em teoria para uma união monetária dar certo que se aplicam não totalmente na realidade. Em todo caso, com a crise financeira de 2008 e seus desdobramentos, podemos dizer que todos bons macroeconomistas percebem riscos em uniões monetárias. Mesmo com isso tudo, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro declarou que uma união monetária com a Argentina seria desejável e deve ser estudada a longo prazo. Conclusão natural deste parágrafo: essa ideia é, evidentemente, uma péssima ideia. Corolário da conclusão: governos têm péssimas ideias em economia o tempo inteiro e devemos procurar escapatórias disso para proteger nossos investimentos.

Infelizmente poucos ativos são, em tese, imunes aos governos. O ouro tem essa mitologia ao redor: ele é, em tese, um safe haven quando todo o resto vai mal. Alguns defendem que o Bitcoin também é assim. Esse otimismo a respeito do Bitcoin não me soa próximo de ser uma certeza posto que 1) as criptomoedas ainda não passaram por uma crise mundial, então não temos base empírica, 2) o posicionamento de institucionais, que têm interesses em diversificação e proteção de riscos, ainda não é claro a respeito dessas tecnologias, 3) o maior risco sistêmico pode fazer as pessoas alocarem menos em ativos de risco extremo. Por enquanto, a volatilidade do Bitcoin (e das altcoins) pode ser a barreira para as criptomoedas se consolidarem num ambiente ideal para elas. Mercados futuros não foram o bastante para a redução da volatilidade e ainda não há resposta fechada para como a criptomoeda se tornará mais estável.