A revolução da política monetária em três gráficos

 | 19.01.2023 16:12

Nos últimos anos, cansei de apontar como a atual abordagem operacional do Federal Reserve em relação à política monetária é diferente de todas as outras adotadas em ciclos de aperto anteriores. A grande verdade é que se trata basicamente de um grande experimento, e se o banco central americano conseguir fazer com que a inflação volte à meta de 2% ao ano com suavidade, será uma conquista e tanto, para não dizer uma sorte e tanto.

Meu objetivo neste artigo é explicar a diferença nas abordagens e ilustrar o desafio diante da autoridade monetária com alguns gráficos simples. Sem dúvida, há outras pessoas que têm uma forma muito mais complexa de ilustrar isso, mas gráficos abaixo conseguem captar a essência da dinâmica.

Vamos começar com o gráfico básico das taxas de juros do "livre mercado". Aqui, é possível ver a quantidade de empréstimos bancários no eixo X e o "preço" do crédito (ou seja, a taxa de juros) no eixo Y. Supondo que a inflação esteja estável (trataremos da inflação instável mais adiante), não importa que o eixo X esteja em valores nominais ou reais. Então temos um gráfico básico de oferta e demanda. Curva de demanda por empréstimos negativamente inclinada: a queda da taxa de juros aumenta a demanda por crédito. Curva de oferta se inclina para cima: os bancos querem emprestar mais dinheiro com o aumento da taxa de juros.

Uma observação importante nesse gráfico é que a curva de oferta atinge um ponto em que se torna vertical. Existe uma quantidade de crédito acima da qual os bancos não podem emprestar. Existem dois limites principais para a quantidade de empréstimos bancários: a quantidade de reservas, uma vez que um banco precisa manter reservas contra empréstimos, e a quantidade de capital. Ambas variam conforme o banco e o setor bancário como um todo, principalmente as reservas, por serem facilmente negociáveis.

De qualquer forma, assim que o empréstimo agregado atinge um ponto em que não sobram reservas disponíveis para um banco adquirir e continuar emprestando, esse agente financeiro não pode mais emprestar a qualquer taxa de juros. Pelo menos é isso que acontece em princípio.

Agora, tradicionalmente, quando o Federal Reserve aperta sua política, ele o faz reduzindo a quantidade agregada de reservas no sistema. O efeito disso é que a curva de oferta fica mais vertical para a esquerda. Nesse gráfico, o aperto é mostrado como um movimento de S para S'.

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Observe que o ponto de equilíbrio envolve uma quantidade menor de empréstimos totais (nos deslocamos para a esquerda no eixo X), que é a intenção da política: reduzir a oferta de moeda (ou, no caso dinâmico, seu crescimento) restringindo as reservas. Como mero subproduto, a taxa de juros sobe. O quanto ela sobe depende do formato da curva de demanda, ou seja, da elasticidade da demanda por empréstimos.