Ações: Qual é a Melhor Estratégia do Mundo?

 | 06.08.2021 07:30

A pergunta do título vale um bilhão de dólares e, certamente, não há uma resposta absoluta. Mas, desde que comecei minha carreira, pesquiso diversas estratégias em diferentes mercados. Analiso constantemente o histórico de estratégias complexas, mas também gosto muito daquelas de fácil compreensão. E sempre, mas sempre mesmo, é fundamental que a estratégia tenha um racional que a sustente e explique o seu sucesso, pois, sem isso, corremos o sério risco de estar fazendo “data mining” e o resultado ser espúrio.

Hoje compartilharei com vocês uma estratégia extremamente simples e implementável mesmo pelo investidor menos sofisticado. Penso que a simplicidade tem sua beleza natural. Seria essa a melhor estratégia do mundo? Provavelmente não quando a comparamos com estratégias complexas e, portanto, não implementáveis pela absoluta maioria dos investidores. Se considerarmos apenas estratégias facilmente implementáveis, diria que ela ganha peso. Sei o que estou falando, pois já acompanho essa estratégia há décadas e a implemento há anos.

O racional que explica o sucesso histórico da estratégia que dividirei com vocês se baseia no efeito conhecido como “overreaction”. Estudo bastante o efeito de aspectos comportamentais no mundo dos investimentos e como podemos criar uma estratégia que se beneficie da irracionalidade e consequente ineficiência momentânea de preços no mercado. O efeito de “overreaction”, ou reação exagerada, diz que em momentos ruins da bolsa agimos de forma excessivamente pessimista, ou seja, além do que deveríamos. Da mesma forma, notícias muito positivas tendem a ser hipervalorizadas pelo mercado.

De acordo com a definição padrão, o efeito é uma resposta emocional (i.e., comportamental) a uma nova informação relevante e que foge à normalidade. No nosso contexto, trata-se da resposta emocional ao efeito da nova informação no preço da ação (ou outro investimento qualquer), o que é motivado por sentimentos de medo ou ganância excessivos. Nesse caso, a consequência é o preço da ação cair ou subir demasiadamente, o que provocará ajustes “depois de uma noite de descanso e a volta da racionalidade”.

A estratégia que compartilharei com vocês bebe da água do efeito da reação exagerada. Mostrarei como ela está rendendo em 2021, de janeiro a julho. Se você quiser um histórico mais longo, já publiquei aqui na coluna: clique aqui para ver esse artigo de 2020. Utilizarei como universo as ações e units constituintes do IBrX100. Como são os 100 papéis mais líquidos da bolsa, esse universo acaba servindo como um bom filtro de liquidez. Os dados para esta análise me foram gentilmente cedidos pela plataforma Quantum Finance.

A estratégia, baseada na tese do pessimismo exagerado, consiste simplesmente de comprar no fechamento os papéis que caíram 2% ou mais no dia. Comprarei sempre montantes financeiros iguais de cada papel. Por exemplo: se tenho hoje R$ 10.000,00 para investir e 10 papéis caíram 2% ou mais, investirei R$ 1.000,00 em cada papel. Claro que é muito provável não conseguirmos comprar exatamente R$ 1.000,00 de cada papel, mas arredonde e não haverá problema. O norte é sempre a estratégia 1/n, ou seja, montantes iguais em cada papel. Essa é a melhor maneira de se balancear a carteira? Seguramente não, mas decerto é a mais simples e já assegura uma boa dose de diversificação. Ficarei com os papéis comprados por apenas um dia, vendendo-os, portanto, no fechamento seguinte.

A título de robustez da tese do efeito de “overreaction”, formarei duas carteiras adicionais: uma corresponderá à estratégia equivalente, porém vendendo à descoberto os papéis que subirem em determinado dia 2% ou mais (tese: correção do otimismo exagerado). E a terceira carteira é long-biased, de modo que investirei 200% do meu capital na carteira comprada e venderei 100% da carteira vendida. Para efeito de apresentação, denomino as três carteiras, respectivamente, de “Buy_Losers”, “Sell_Winners” e “Long_Biased”. Compare abaixo a rentabilidade e o desvio-padrão diário das três carteiras baseadas no efeito de “overreaction” com o Ibovespa, principal índice da bolsa.