Fernando Ferrer | 22.09.2021 15:51
Um problema frequentemente apresentado pelos professores de física para explicar a velocidade relativa e a importância da definição de um ponto de referência é ilustrado pelo movimento de dois carros em uma estrada.
A partir da definição de premissas de velocidade e sentido dos carros, é perguntada qual a velocidade do carro A ou B. Embora a questão possa parecer trivial, ela guarda um conceito importante que é a contextualização do problema. Afinal, a definição da velocidade depende sempre do referencial adotado.
Se o carro A se move a uma velocidade constante de 100 km/h e o carro B se move a uma velocidade constante de 80 km/h no mesmo sentido de A pela ótica de um observador que está parado no acostamento da pista, a velocidade do carro A para o passageiro do carro B será de 20 km/h. Para um motociclista trafegando a 100 km/h, a velocidade relativa do carro A é 0 km/h, e assim por diante. Fica claro que, a depender das condições do observador, a velocidade percebida é distinta.
No mercado financeiro não é diferente.
Embora possamos delinear diretrizes estruturais para a construção de um portfólio genérico, a alocação completa da carteira de um investidor deverá ser diferente da de outro em função das mais diferentes características e premissas a serem adotadas.
Idade, profissão, fluxo de caixa mensal, quantidade de dependentes, país de residência/trabalho, ambições futuras etc. são fatores preponderantes e que devem ser tomados como referência. Fazendo o paralelo com o problema dos carros apresentado acima, a depender das condições do investidor, o ajuste fino da carteira se altera.
Transitando do âmbito particular para o geral, algumas diretrizes são importantes de serem seguidas por todo motorista (investidor):
1 – Contrate um seguro: como não sabemos quando (e se) ocorrerá o próximo sinistro, a contratação de um seguro é de suma importância. Para o investidor, proteções via moedas de países desenvolvidos e metais caem como uma luva, visto que reduzem o risco de uma carteira de investimentos. É importante ter em mente que a compra de proteções não evitará o desastre, mas certamente auxiliará o investidor a passar por períodos mais complicados;
2 – Tenha recursos para serem utilizados em caso de emergência: por sua própria natureza, as emergências são imprevisíveis e podem causar muita dor de cabeça. Pane seca prevê multa e alguns pontos na carteira. Ter de três a doze meses de seus gastos mensais aplicados em um fundo ou título de liquidez diária te ajudará a atravessar um evento inesperado, como uma mudança profissional, uma obra de emergência ou algum problema de saúde;
3 – Fique atento ao ambiente ao seu redor: mesmo dirigindo dentro das regras de trânsito, animais podem atravessar a pista. No mercado financeiro, bolsões de liquidez eventualmente acontecem, criando distorções desagradáveis. Na última sexta-feira (17), o BDR do PayPal (SA:PYPL34), que negocia mais de R$ 2 milhões por dia, caiu 40% no fechamento do mercado. No pregão seguinte, o mesmo BDR corrigiu a distorção, fechando em alta superior a 60%. O investidor desavisado poderia ter “panicado” e vendido com grande prejuízo na sexta. O contrário também é verdadeiro: o investidor atento pode se aproveitar dessas distorções para embolsar bons lucros.
4 – Esteja preparado para o trânsito: independentemente da época do ano, o trânsito é o fiel escudeiro do motorista carioca ou paulistano. Em minha concepção, a melhor forma para o investidor se preparar para o imponderável é montando uma carteira diversificada entre classes de ativos e geografias — esse é o Santo Graal dos Investimentos, de acordo com Ray Dalio. Crises como a do subprime, Joesley Day, greve dos caminhoneiros, Covid-19 e a mais recente envolvendo a gigante chinesa Evergrande (OTC:EGRNY) podem ter como epicentro diferentes localidades, pegando desprevenido o investidor que está concentrado em apenas uma geografia/moeda. Embora não nos pareça ser o caso, ainda é cedo para avaliarmos se o episódio envolvendo a Evergrande poderia evoluir para um risco sistêmico de mercado. Na dúvida, tenha uma posição importante em dólar.
5 – Não programe 100% da viagem: deixe algumas tardes livres, elas podem te reservar gratas surpresas. Em pequena escala, apostas em ativos alternativos podem lhe render bons frutos. Um pouco de cannabis , urânio, crédito de carbono, etc. é interessante.
6 – Desfrute da viagem: apesar dos buracos na pista e dos imprevistos que possam surgir no meio do caminho, se a escolha foi por conhecer o litoral do Nordeste, a viagem terá muito potencial de sucesso no fim das contas. De acordo com um estudo realizado pela Vanguard, o asset allocation é responsável por 88% dos padrões de retorno de uma carteira diversificada ao longo do tempo, enquanto as oportunidades pontuais em ativos específicos e o market timing representam apenas 12% do montante. Em linhas gerais, o estudo reforça a importância de o investidor dedicar mais tempo à construção de sua carteira de investimentos do que de tentar acertar a nova bola da vez. Do nosso lado, a construção desse portfólio passa pela montagem dos itens comentados acima, em especial no juro longo e ações internacionais e locais.
Forte abraço
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