Alto Preço de Fertilizante Desafia Produtor

 | 31.08.2021 13:51

Por Mauro Osaki

De olho nas condições climáticas e nas cotações agrícolas, os produtores brasileiros preparam-se para iniciar o plantio da safra 2021/22 a partir de setembro – após o encerramento do vazio sanitário contra a ferrugem da soja. Foram muitos os desafios para adequar o orçamento desta próxima safra, especialmente diante do cenário econômico instável do País e do mundo e, especificamente, dos expressivos reajustes nos preços médios dos agroquímicos. Nestes comentários o foco recairá sobre o caso dos fertilizantes nos mercados interno e externo. 

No contexto internacional, as valorizações dos nitrogenados estiveram atreladas à menor produção chinesa destes fertilizantes. Quanto aos fosfatados, os valores foram impulsionados pelo início da taxação norte-americana sobre o produto proveniente do Marrocos, que é um grande produtor de fosfatados. Assim, os produtores dos Estados Unidos estão buscando se abastecer em outras origens.

De janeiro a julho de 2021, o valor médio da tonelada de ureia prill negociada nos principais portos do mundo ficou 60,3% acima do registrado no mesmo período do ano passado. O preço médio da tonelada da ureia no porto ucraniano (Yuznhy) em julho, inclusive, foi o maior, em termos nominais, desde julho de 2012.

Também entre janeiro a julho deste ano, o preço médio do MAP (fosfatado monoamônico) negociado nos portos de Casa Blanca (Marrocos) e de São Petersburgo (Rússia) ficou 96,3% superior ao do mesmo período de 2020. Para este insumo, foram observadas fortes valorizações nos dois primeiros meses de 2021. Em julho, especificamente, a cotação média da tonelada do MAP no porto russo foi a maior desde outubro de 2008, em termos nominais.

Quanto ao cloreto de potássio, um forte reajuste foi observado mais recentemente. De junho para julho, o preço do cloreto de potássio disparou, com forte avanço de 39,6% no porto de Vancouver (Canadá). Essa valorização se deve à medida restritiva da União Europeia aplicada à Bielorrússia, aprovada no final de junho, que inclui a proibição da venda, fornecimento, transferência ou exportação via direta ou indireta de vários bens (equipamentos, softwares, equipamentos militares, etc.), produtos petroquímicos e cloreto de potássio. Vale lembrar que Bielorrússia é responsável por pelo menos com 1/5 da produção mundial de cloreto de potássio, sendo o segundo maior produtor do mundo. De janeiro a julho de 2021, o preço médio do cloreto de potássio no porto de Vancouver ficou 26,9% acima do observado no mesmo período de 2020. Em julho, o valor médio foi o maior nominal desde dezembro de 2012.

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Diante disso, agentes nacionais e internacionais estão atentos à intervenção do governo chinês sobre as vendas de fertilizantes, à relação política entre Bielorússia e a União Europeia e também ao novo avanço de casos de covid-19 em muitos países. Na China, empresas de fertilizantes estão sofrendo pressão do governo para suspender temporariamente a exportação, visando a garantir o abastecimento doméstico. A intervenção do governo chinês no mercado, por sua vez, tem como objetivo conter a alta de preços dos fertilizantes no país. A China é a maior produtora e consumidora de nitrogenado e fosfatado, mas também é uma grande exportadora dos dois produtos.

No Brasil (considerados todos os estados acompanhados mensalmente pelo Cepea), a média de janeiro a julho deste ano do preço da tonelada da ureia subiu 58,4% frente ao mesmo intervalo de 2020, atingindo, em julho, o maior patamar nominal desde outubro de 2008 nos estados do Paraná e de Mato Grosso. No caso do MAP, a cotação média da tonelada do período avançou significativos 90,3% na mesma comparação, com os preços de julho sendo os maiores desde novembro de 2008 em Mato Grosso e no Paraná. A tonelada do cloreto de potássio se valorizou 52,4% na parcial deste ano frente ao mesmo período de 2020, com o insumo comercializado em julho ao preço mais alto desde agosto de 2009 em Mato Grosso e no Paraná.

Diante disso, simulações[1] realizadas pelo Cepea mostram que o gasto médio orçado com fertilizantes para a produção de soja e de milho verão na safra 2021/22 deve subir 50,1% e 55,4%, respectivamente, frente ao da temporada anterior (2020/21). Para o milho segunda safra, feijão, arroz irrigado e trigo, são estimados aumentos nos gastos médios com fertilizantes de 2020/21 para 2021/22 das ordens de 53%, 65,2%, 68,2% e 71,1%, respectivamente.

Outros dois importantes itens na composição de custo de produção também apresentaram avanços. No caso dos defensivos agrícolas, a elevação estimada de gastos da safra 2021/22 foi de 3% para a produção de trigo, de 6,7% para o milho verão, de 9% para o feijão, de 11,1% para o arroz irrigado, de 11,2% milho segunda safra e de 12,5% para a soja. Nos casos dos gastos com diesel e com a manutenção preventiva das máquinas, foram calculadas elevações de 10,3% para a produção de soja na safra 2021/22, de 10,5% para o milho verão, de 15% para o milho segunda safra, de 11,9% para o trigo, de 15,4% para o feijão e de expressivos 21,1% para o arroz irrigado, também da safra 2021/22 em relação à anterior.

Diante dos aumentos nos gastos com os fertilizantes, defensivos agrícolas, diesel, com a manutenção preventiva das máquinas e também de outros itens, a estimativa do orçamento total de produção para a safra 2021/22 cresceu, sendo a maior alta a calculada para a soja, de 32,9%. No caso do trigo, o incremento nos custos de produção calculado pelo Cepea foi de 31,6%; para o milho verão, de 30,9%; para o milho segunda safra, de 28,7%; para o arroz irrigado, de 20,1%; e, para o feijão, de 16,1%. A propósito, esses custos podem registrar novos avanços no decorrer desta safra 2021/22, dependendo muito do clima e de incidências de pragas e doenças nas lavouras, do comportamento da taxa de câmbio (dólar) e dos preços das matérias-primas dos agroquímicos e do petróleo nos países produtores.

 

[1] Para as simulações acima, foram considerados dados técnicos levantados pelo Projeto Campo Futuro (parceria entre o Cepea e a CNA) da safra 2019/20, os preços dos insumos atualizados mensalmente pela Equipe do Cepea e os custos médios de produção da soja e do milho verão da safra 2020/21. Além disso, foi considerado que, em média, 60% dos fertilizantes desta temporada 2021/22 foram comprados com os preços médios do primeiro trimestre de 2021 e outros 40%, com os valores médios do segundo trimestre de 2021. No caso dos demais itens que estruturam o custo de produção, foram considerados que os valores médios do primeiro trimestre de 2021 representaram 30% do custo e os preços do segundo trimestre de 2021 tiveram peso de 70%. Os valores médios estimados para milho segunda safra, feijão e arroz irrigado compreendem o período de abril a julho de 2020 para representar a safra 2020/21 e o de abril a julho de 2021 para sinalizar a safra 2021/22; para o trigo, os valores médios abrangem o intervalo de fevereiro a maio de 2020 para retratar a safra 2020/21 e o mesmo período de 2021 para caracterizar a temporada 2021/22.

 

*Mauro Osaki é pesquisador da área de Custos Agrícolas do Cepea

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