Investing.com | 27.03.2019 05:26
Depois de firmar uma parceria sem precedentes com a Rússia para cortar a produção de petróleo, a Arábia Saudita está disposta a colocar em risco sua própria participação de mercado para conseguir o preço que deseja por cada barril.
A capacidade de se recuperar duas vezes em sua batalha contra o petróleo de xisto (shale) nos EUA – a primeira entre 2017 e meados do ano passado e novamente no início deste ano, com o apoio da Rússia em ambas as oportunidades – fez com que Riad tivesse a confiança de que pode eventualmente fazer com que o barril de petróleo volte a custar US$ 80 ou mais.
A história política também está do lado dos sauditas. Depois de literalmente ser safar de um assassinato – a morte do jornalista Jamal Khashoggi manchou a reputação do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman mais do que a sorte do reino – e de pagar um preço relativamente baixo por sua atuação na guerra do Iêmen, a Arábia Saudita acredita em sua capacidade de apertar o botão de "reset" em praticamente tudo.
h3 Jogo audacioso no petróleo/h3Isso explica o atual jogo do reino para o petróleo, um dos mais audaciosos em suas seis décadas à frente do clube de produtores de petróleo, a Opep.
Apesar de a produção petrolífera norte-americana ter caído em relação às máximas no mês passado, a ameaça à participação de mercado dos sauditas ainda é real. As manchetes informam com grande entusiasmo que as exportações petrolíferas dos EUA atingiram as máximas histórias de 3,6 milhões de barris por dia (bpd) e que grandes clientes asiáticos, como a Indian Oil (NS:IOC), importaram o produto dos EUA, enquanto a expectativa é que a produção saudita caia cerca de 30% em relação ao normal no mês que vem, para menos de 7 milhões de bpd.
No entanto, o ministro de energia Khalid al-Falih, em seus pronunciamentos, insiste na necessidade de um "rebalanceamento de mercado”, o que, no vocabulário saudita, quer dizer preços mais altos para o petróleo.
John Kilduff, sócio-fundador do hedge fund de energia Again Capital, de Nova York, afirma que a resposta de Falih é um misto de arrogância e aversão à ideia de admitir o potencial alcance do shale. A Agência de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês) prevê que o país produzirá mais petróleo do que a Arábia Saudita e a Rússia juntas até 2025, uma previsão sobre a qual Riad tem preferido manter silêncio. Falih, por sua parte, anunciou que as reservas comprovadas de gás da Arábia Saudita atingiram a máxima histórica no início do ano.
Segundo Kilduff:
“Neste momento, os sauditas ainda acreditam que têm o poder de controlar o mercado e gerenciar os preços do petróleo. Mas eles estão assumindo um grande risco com a concorrência do shale.”
Como exemplo, Kilduff, cita o porto petrolífero em alto-mar de Louisiana (LOOP, na sigla em inglês), que carregou 11 superpetroleiros em seu primeiro ano de exportações diretas, sendo que 60% desses carregamentos tiveram como destino a Índia, e 23%, a China.
Ainda segundo o analista:
h3 Rivais no xisto incluem grandes petrolíferas/h3“Não estamos falando apenas de petróleo leve. Há rumores de que as exportações do LOOP também incluem condensados e frações mais pesadas do petróleo norte-americano, como Mars, que é comparável ao óleo do Oriente Médio.”
Mas ainda existe o espectro da concorrência acirrada dos grandes players do setor, como a Exxon Mobil (NYSE:XOM), que diz ser capaz de auferir um lucro de dois dígitos a partir de preços tão baixos como US$ 35 por barril na bacia de xisto mais prolífica nos EUA, o Permiano.
A Exxon, que juntamente com a Chevron (NYSE:CVX) planeja extrair mais 1 milhão de bpd do Permiano cada uma, também está buscando descobrir shale a US$ 15 por barril, um preço que, até o momento, só é possível obter no Oriente Médio.
Mas alguns analistas, como Phil Flynn, do Price Futures Group, em Chicago, acreditavam que o potencial do xisto estava sendo exaltado demais.
Segundo Flynn:
“Não acredito que os sauditas estejam preocupados. Eles podem recuperar sua participação de mercado oferecendo petróleo ao preço certo nos mercados que quiserem.”
Ainda segundo o analista:
h3 Economia, Venezuela e Trump podem decidir a aposta dos sauditas/h3“Os sauditas sabem que eles e os russos ainda são os ‘caras grandes’ do setor neste momento, e podem desligar as bombas a qualquer momento e fazer o preço disparar. Eles não têm as limitações que os produtores de shale têm para produzir.”
Se isso for verdade, três fatores que podem decidir se os sauditas conseguirão fazer com que o Brent, referência mundial para o petróleo, atingirá seu preço desejado de US$ 80 a US$ 85 por barril, ou pelo menos US$ 70, no ano que vem. Esses três fatores são: a economia, a crise política na Venezuela e o presidente dos EUA, Donald Trump.
O temor de uma recessão nos EUA e de uma desaceleração se estendendo da Ásia à Europa fez os preços do petróleo despencarem no início desta semana, diante da preocupação dos investidores com a demanda energética. Dados macroeconômicos mundiais se deterioraram de forma constante no início do ano, embora possam melhorar se a China tomar medidas de estímulo adequadas, a despeito da sua guerra comercial com os EUA.
Uma resolução sobre a Venezuela também pode fazer com que o petróleo pesado, tão necessário às refinarias norte-americanas, volte para os EUA para compensar alguns dos cortes da Opep.
O fator Trump é mais complicado.
Com forças políticas renovadas depois de ter sido inocentado de acusações de conluio com a Rússia em sua campanha nas eleições de 2016, o presidente pode estar disposto a travar mais uma batalha de alto risco com a Opep para combater os elevados preços do petróleo. E sua margem de manobra pode incluir todas as possibilidades, desde sua opção favorita, o Twitter, até a concessão de isenções generosas aos compradores do petróleo iraniano ou mesmo a venda emergencial dos estoques de petróleo dos EUA.
Trump mantém uma relação confortável mas, ao mesmo tempo, estranha com os sauditas, ao ressaltar a necessidade de os EUA defenderem seu importante aliado no Oriente Médio, o que incluiu não agir contra Riad por causa do assassinato de Khashoggi. Mas o presidente precisa garantir que os preços nas bombas continuem baixos o suficiente para satisfazer sua base eleitoral antes da sua campanha à reeleição em 2020.
Ainda há 20 meses pela frente, o que é um prazo longo no mercado de petróleo.
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