Arquitetura de uma Pirâmide: de Onde vem o Dinheiro Pago aos Participantes?

 | 01.09.2021 12:28

Nesta última semana o Brasil inaugurou uma nova página do nosso longo almanaque de tragédias e fiasco. Em Cabo Frio, vítimas de um esquema de pirâmide financeira se organizaram para protestar contra a prisão do responsável pelo esquema. “Nunca atrasou nenhum pagamento, é com esse dinheiro que sustento minha família”, afirmou um dos manifestantes. Tendo isso em vista, acho que é importante explicar melhor como funciona um esquema desse tipo, e como ele consegue pagar esses retornos astronômicos.

Para manter a simplicidade, vamos imaginar que eu te prometo um retorno de 10% ao mês se você investir 10 mil reais na minha “empresa”. Um mês depois, eu uso uma parte dos seus 10 mil reais para “pagar” esse rendimento. Você pensa que tem 11 mil, mas na realidade continua com os mesmos 10 mil, sendo que nove estão comigo.

Pois bem, para cobrir o que você me passou, mais o que eu te prometi, eu chamo outra pessoa para dentro do esquema, que entra com os mesmos 10 mil e a promessa de 10% ao mês. Como faço, então, para pagar o rombo deixado pelos dois? Simples, eu chamo mais outra pessoa, e mais outra, mais outra, mais outra. Isto é: a pirâmide começa comigo no topo e duas pessoas abaixo de mim; para pagar essas duas, eu coloco mais quatro abaixo delas; abaixo dessas quatro, mais oito; e assim adiante.

Enquanto houver pessoas entrando no esquema, pessoas mantendo seu dinheiro “investido” e pessoas que não pedem ou que pedem, mas não recebem seu investimento inicial corrigido, existe a possibilidade de manter o modelo crescendo. É justamente para manter as pessoas engajadas e investidas nesse esquema que os “retornos” são tão altos. Entretanto, trata-se de um modelo absolutamente insustentável.

Inevitavelmente, chegará o ponto no qual a quantidade de pessoas que precisam aderir ao esquema para formar uma nova “camada” da pirâmide é tão grande que os fluxos inteiros são interrompidos. Geralmente, esse é o ponto crítico no qual a estrutura começa a desabar: vítimas começam a tentar resgatar seu investimento, não conseguem, entram em pânico e fazem com que mais pessoas ainda tentem sacar seus fundos, gerando uma reação em cadeia.

Tradicionalmente, o grosso dessa quantia já foi lavado pela quadrilha responsável pela pirâmide e separado para que possam embolsar os fundos quando o esquema (inevitavelmente) desmoronar. Enquanto a quadrilha fica com o dinheiro das vítimas, eventualmente escapando das autoridades, as vítimas perdem tudo que foi “investido”, restando a elas apenas o que lhes foi “pago” ou aquilo que conseguiram resgatar antes do fim do esquema.

h2 “Marketing multinível”/h2
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Uma outra forma muito comum de esquema de pirâmide é conhecida como “marketing multinível”, um modelo extremamente comum no Brasil, mas igualmente perigoso. Nesse modelo, em vez de um “investimento financeiro”, é oferecida a “oportunidade” de vender determinado produto (cosméticos, vitaminas, shakes etc.). Então você paga uma quantia em dinheiro pelos produtos que irá revender, mas a pegadinha é que uma parte dos seus lucros vai para a pessoa que te introduziu ao esquema.

E adivinhe só? Uma parte dos lucros de quem você colocar no esquema irá para você. As pessoas colocadas por você recebem uma parte dos lucros de quem elas colocarem, e assim por diante... Percebeu como essa estrutura vai ganhando a forma de uma pirâmide? Cada novo “nível” desse modelo de “marketing” depende de mais pessoas comprarem para revender, embora o incentivo para trazer mais pessoas para dentro seja bem mais interessante financeiramente.

Por fim, vale lembrar que existe uma diferença crucial entre revenda autorizada de produtos e um esquema como esse. Um exemplo de empresa que foi condenada por esse tipo de atividade, pagando multa de cerca de 200 milhões de dólares (algo em torno de um bilhão de reais) foi a Herbalife, nos EUA. Infelizmente, muitas outras empresas continuam replicando esse modelo de forma impune.

Na dúvida, é melhor ficar longe de qualquer modelo de negócio no qual exista qualquer pressão ou recompensa para quem incluir mais pessoas, ou no qual o principal rendimento não venha da revenda de produtos, mas da adesão de mais pessoas ao programa de “revenda”.

h2 GAS Consultoria Bitcoin/h2

Segundo informações que circulam pela mídia, a operação criada por Glaidson Acácio dos Santos chegou a movimentar 38 bilhões de reais em seis anos. Segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), só nos últimos 12 meses a movimentação chegou a cerca de 17 bilhões. No seu apartamento, foram apreendidos 14 milhões de reais em espécie, além de 150 milhões em criptoativos como bitcoin.

Segundo o Ministério Público Federal, a “empresa” oferecia ganhos de 10% ao mês através de investimentos em criptoativos. Entretanto, a empresa não tinha autorização para realizar esse tipo de aplicação e os valores nunca chegavam a serem investidos. Esse modus operandi, se confirmado, está em linha com o que discutimos aqui: os pagamentos a investidores/as são feitos com os aportes feitos por novos investidores/as.

Para sorte das pessoas que protestavam pela soltura do acusado, as autoridades responsáveis decretaram a prisão preventiva de Glaidson, o que pode garantir um eventual ressarcimento dos fundos que foram captados pela GAS Consultoria. Foram realizadas outras duas prisões preventivas e a esposa de Glaidson, Mirelis Zerpa, considerada foragida, é agora procurada pela Interpol. A informação é que ela tenha tentado fugir para os EUA.

Com informações de Marcus Sadok, da Band News FM Rio e Jornal da Band.

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