Michael Ashton | 20.06.2022 15:30
Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
O Federal Reserve realizou uma agressiva elevação de juros na semana passada, subindo as taxas de overnight em 75 pontos-base (pb), poucas semanas depois de o presidente da instituição, Jerome Powell, afirmar publicamente que tal elevação “não era algo que o Comitê estava considerando ativamente”. Ao que parece, esse aumento de juros estava sendo passivamente considerado.
As taxas reais dos títulos protegidos contra a inflação (TIPS) de 5 anos subiram 44 pontos-base na semana, ao passo que as taxas reais de 10 anos subiram 28 pontos-base. A maior parte desse movimento ocorreu antes da reunião do Fed, enquanto circulavam, de alguma forma, rumores de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) elevaria a taxa referencial em 75 pontos-base.
Desde março, as taxas reais de 5 anos já subiram 220 pb, e as de 10 anos, +170 pb (ver gráfico). Tudo isso tem pesado sobre as ações e deve continuar pesando.
O mesmo se aplica aos títulos de renda fixa. O clássico portfólio de 60-40 (60% ações, 40% títulos) acumula queda de 18% desde janeiro. Os portfólios com “paridade de risco” já caíram mais do que isso: o fundo Toroso Risk Parity (NYSE:RPAR) recua 20,6%.
Mas a ajuda está a caminho, certo? Os swaps de inflação de 5 e 10 anos caíram 25 e 20 pb, respectivamente, nesta semana, e estão próximos dos níveis registrados em fevereiro, antes da invasão na Ucrânia. A mudança semanal é claramente uma reação ao Fed, mas como já ressaltei antes, grande parte da queda desde as máximas locais de abril se deve a expectativas de níveis de preços de carry-forward que não tiveram qualquer queda até esta semana. (Veja o gráfico abaixo mostrando o preço teórico do IPC futuro de dezembro de 2027, se esse mercado existisse).
Fonte: Enduring Investments
Mesmo assim, o declínio das medidas de expectativas de inflação baseadas em mercado nesta semana pode dar ao Fed algum conforto de que as autoridades monetárias estão se adiantando à desancoragem das expectativas inflacionárias, dando passos importantes para evitar que esse problema da inflação saia do controle.
Infelizmente, tudo indica que não tenham razão a esse respeito. Como escrevi nesta coluna na semana passada, ao elevar a inflação e ignorar as reservas, o Fed está apenas lidando com o problema do preço do dinheiro, e não com a sua quantidade... E nunca antes implementamos tal estratégia de combate à inflação.
Pessoalmente, creio que a quantidade de dinheiro seja mais importante do que seu preço, razão pela qual não acredito que a ação do banco central americano terá qualquer efeito esperado de amortecimento. É bem possível que a inflação arrefeça em algum momento, devido ao efeito-base, mas a vitória só será garantida se o núcleo do IPC, em bases anuais, voltar para baixo de 3%.
Nesse meio-tempo, o governo passou a semana discutindo com as grandes petrolíferas a respeito dos seus lucros exorbitantes. Em uma carta para grandes petroleiras, o presidente Biden declarou que “não era aceitável que as margens de refino muito acima do normal fossem repassadas para as famílias americanas.”[1]
Ainda que isso seja verdade, o fato é que o atual estado de coisas é resultado, em grande medida, das suas próprias políticas: a enorme demanda induzida por políticas de estímulo exerceram pressão altista sobre o consumo de gasolina, ao mesmo tempo em que a liberação da Reserva Estratégica de Petróleo pressionou os preços do óleo bruto para baixo.
A expansão resultante da margem de refino é exatamente o que você busca, se estiver tentando induzir as empresas a aumentarem a produção de derivados. Será que essa incongruência é acidental? A carta de Biden também ameaçou: “Estou pronto para utilizar todos os instrumentos à minha disposição para remover as barreiras que impedem os americanos de terem uma oferta de energia acessível e segura." Essas declarações vêm na esteira de uma legislação aprovada na Câmara, em maio, dando ao presidente o poder de declarar emergência e tornar ilegal o aumento dos preços da gasolina ou da energia doméstica de forma "exagerada". Seria mais adequado dizer “tabelamento de preços”?
h2 Dando um passo atrás.../h2De um lado, parece tolo perder tempo falando em tabelamento de preços. Isso não funciona nem na teoria nem na prática, e a ampla experiência histórica basta para comprová-lo. Os tabelamentos de preços abaixo dos valores correntes geram escassez, sem falar na queda da arrecadação do governo, na medida em que as transações são transferidas para o mercado negro (quem sabe essa seja a salvação das criptos!). Tudo isso já se sabe.
Parece-me tolo até mesmo convidar alguém para um debate sobre esse assunto. A única coisa que os tabelamentos de preços poderiam fazer seria reduzir, temporariamente, a taxa de inflação medida...
Ah, agora entendi.
Também parece tolo discutir a taxação dos “lucros extraordinários” das empresas petrolíferas, acusadas pelo governo e outros órgãos de piorar a atual crise de inflação devido à “manipulação de preços” (como se alguma empresa tivesse poder suficiente sobre o mercado mundial de uma commodity a ponto de manipulá-lo).
Novamente, isso não funcionou no passado, e a teoria é clara no sentido de que um imposto nesses moldes pode provocar uma queda na produção: uma empresa com 1 bilhão de barris em reservas inexploradas só tende a correr o risco de extrair essas reservas não renováveis se os lucros forem elevados, pois a tendência é deixá-las no subsolo para não ser punida por causa da sua extração.
E, com a expectativa de redução de retornos, a exploração também cai. Essa política tem o potencial de criar preços ainda mais altos por um período mais prolongado, em vez de reduzi-los, além de prejudicar as empresas petrolíferas e causar escassez de motoristas de veículos que não sejam elétricos.
Ah, agora entendi.
Eu disse, em um programa de televisão, na semana passada, que às vezes é difícil saber a diferença entre a incompetência e uma ação mal-intencionada. Pessoalmente, prefiro acreditar que as pessoas, em geral, têm boas intenções, mas uma péssima execução.
O problema agora é que está ficando cada vez mais difícil de acreditar na colossal incompetência necessária para seguir adiante com a Teoria Monetária Moderna (NASDAQ:MRNA) (Modern Monetary Theory, MMT), os tabelamentos de preços e as taxas punitivas aos produtores. Se bem que eu possa acreditar, por exemplo, que o ex-presidente do Fed, Bernanke, não tenha percebido a bolha do mercado imobiliário, a tentação de acreditar (ou fingir acreditar) na MMT no fim de 2020 foi muito forte.
Eis o problema e por que ele é importante: a menos que possamos acreditar na explicação da “incompetência”, o tabelamento de preços será implementado, assim como a taxação de lucros extraordinários. São péssimas políticas econômicas. Mas, e do ponto de vista político? É possível que alguns vejam um vencedor.
No médio prazo, isso significa mais inflação, e não menos, na medida em que nenhuma política soluciona a causa da inflação, e o tabelamento de preços e a punição aos produtores só servem para agravar os desequilíbrios.
Portanto, o que nos resta é: somos obrigados a esperar que nossas autoridades sejam incompetentes.
Michael Ashton, às vezes conhecido como The Inflation Guy (O Cara da Inflação), é diretor executivo da Cents and Sensibility .
[1] Isso foi dito após suas declarações, na semana passada, de que a Exxon “ganhou mais dinheiro do que Deus neste ano”. A julgar pelo aumento do número de assassinatos e suicídios no país, é possível que a Exxon tenha tido um ano muito melhor do que Deus.
Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.