Julio Hegedus Netto | 02.07.2013 10:10
Termina o primeiro semestre e é importante um balanço. Não foi um período fácil. A maioria dos indicadores se deteriorou, tanto por choques externos, como também pela teimosia do governo, num primeiro momento, leniente com a inflação ascendente, para proporcionar um crescimento maior.
Partiu-se do diagnóstico errado de que era possível “esticar a corda” da inflação até um certo limite, no caso, o teto do sistema de metas de inflação (6,5%), desde que o País conseguisse crescer mais. Acabou fracassando, diante do IPCA, em 12 meses, passando de 6,5% e o crescimento pífio do primeiro trimestre, em torno de 0,6% contra o trimestre anterior e 2,4% em termos anualizados.
Decorrente disto, o governo Dilma resolveu dar maior autonomia ao BACEN no balizamento do juro, já em 8,0% anuais. Isto foi bem interpretado pelo mercado, embora o estrago detonado antes já estivesse feito, refletido nas intervenções da presidente e da Fazenda na gestão da autoridade monetária. Em junho, no entanto, tudo piorou no nosso cenário doméstico, depois das sinalizações de aperto monetário nos EUA e da onda incontrolável de protestos pelas ruas do Brasil. O dólar disparou, indo a R$ 2,26, os futuros de juro e de dólar romperam seus padrões normais, o “risco Brasil” foi a 235 pontos básicos e a Bovespa, importante termômetro da economia real, acusou queda no mês de 11% (até quinta-feira passada, no ano recuando 21,9% com todas as variações mensais no negativo). De certa forma, no campo econômico foi um semestre perdido, potencializado em junho.
Sendo assim, neste momento não é possível saber, ao certo, qual o rumo destes movimentos, ainda em curso, nem como o Fed norte-americano afetará os fluxos internacionais de recursos. Pelo lado das manifestações de rua, se observa algo difuso, predominando jovens e classe média, sem líderes nem representatividade política (sem partidos), mobilizados por Rede Social (Facebook) e sem pauta de reivindicação mais objetiva. Aumentou, no entanto, nos últimos dias, a demanda por serviços públicos de melhor qualidade e contra a corrupção.
Em resposta, a classe política e o governo Dilma trataram de se movimentar, embora abordando temas que, por enquanto, não devem gerar grandes impactos no curto prazo sobre o cenário econômico.
Uma virada na deterioração das expectativas, gerada por estes movimentos, só seria possível se a presidente desse um “cavalo de pau” no transcurso dos acontecimentos, mudando a política econômica, que passaria a ser mais dura, menos heterodoxa, e com uma agenda de reformas estruturais, essenciais para a economia brasileira, mas há muito tempo esquecidas. Sempre é bom relembrar. É preciso repensar: (i) a estrutura tributária do País, excessiva, desorganizada e sem retornos em termos de serviços ofertados; (ii) o regime previdenciário, explosivo no longo prazo, pelos desequilíbrios entre trabalhadores dos setores público e privado, além do envelhecimento da população (fator conhecido como “bomba demográfica”); (iii) o regime trabalhista, pelos altos custos para contratar, sem esquecer a mais importante de todas, a reforma política. Esta até foi anunciada na semana passada, por plebiscito (a ser definido nos próximos meses). Há dúvidas, no entanto, sobe sua viabilização já que este é um tema muito complexo (e amplo) para ser decidido em votações populares. Tem-se aqui a chamada “democracia direta”, tão usada nos regimes chavistas e outros não menos populistas. Sobre as outras pautas, respondidas pela classe política, tivemos a revogação dos reajustes de transportes pelos prefeitos, a rejeição da PEC 37, a definição de corrupção como crime hediondo, mandato de prisão de deputado corrupto, etc.
Toda esta “revolução das ruas” deve ser saudada. Mostra que a sociedade não estava tão apática como se imaginava diante dos “mal feitos” da classe política e das esferas do governo. Isto não significa, no entanto, que uma virada de expectativas poderá se consolidar no desempenho da economia. Façamos, então, uma breve análise de como se comportam os principais fundamentos econômicos e como devem se comportar ao fim deste ano e no próximo:
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