Banco é "Venda"..."The Big Short Brasileiro"

 | 25.04.2016 08:12

Há menos de 15 dias atrás, em matéria publicada pela Reuters, a Agência de classificação de risco Moody's afirmou que bancos brasileiros podem estar subestimando a inadimplência.

Diz a matéria, de 11-04-2016, entre outros pontos:

"O crescente volume de reestruturação de empréstimos dos bancos brasileiros pode estar subestimando a inadimplência, enquanto a cobertura com provisões pode estar superdimensionada, afirmou a agência de classificação de risco Moody's nesta segunda-feira. .....Segundo a agência, o volume de reestruturação de crédito no país subiu 37 por cento em 2015 sobre um ano antes, impulsionado por calotes e pelo que chamou de pré-inadimplência em diferentes classes de empréstimos, levando os principais bancos a mudarem cada vez mais os termos e condições dos contratos de empréstimo." ____________________________________

Não é a primeira vez que matérias publicadas pela imprensa tangenciam ou sugerem pressões na inadimplência dos bancos, tanto no curto como no longo prazo.

Na mesma semana, no dia 10-04-2016, o Jornal "Folha de São Paulo" publicou uma entrevista com o atual Presidente do Santander no Brasil, Sérgio Rial.

Diz Sérgio Rial. em dado momento:

"Folha - Até as maiores empresas do país estão com dificuldades para pagar dívidas. O sr. teme uma onda de quebradeira?

Sérgio Rial - A gravidade da crise é inquestionável. Se hoje todos os bancos e investidores que compraram papéis de empresas brasileiras exigissem pagamentos nos vencimentos previstos, teríamos incapacidade de liquidez no país para isso. Mas essa não é a proposta dos bancos. Os bancos estão envolvidos num esforço de prorrogar, refinanciar, repensar, redesenhar tudo. Não é do interesse de ninguém que empresas quebrem, que mais gente fique desempregada."

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Se voltarmos ao final do ano passado, mais notícias sobre a forte onda de inadimplência que ronda o universo empresarial.....note-se, não se fala no segmento de pessoas físicas.

Diz a matéria, de 03-11-2015, do Jornal "O Estado de São Paulo".

"Ricardo Knoepfelmacher acredita que o País viverá nova onda de renegociação de dívidas corporativas.... "Estudo na RK aponta que, de R$ 800 bilhões de dívidas de empresas grandes ou muito grandes (cerca de 300 empresas com dívidas superiores a R$ 1 bilhão ) nas mãos dos 3 maiores bancos -Itau, Bradesco e Santander -, entre 20% e 25% estão no que chamo de watch list (em observação como potencialmente problemáticas). São empresas que não estão em recuperação judicial, mas correm risco de default"

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Tenho insistido nesse tema nos últimos 15-18 meses.

Insistir quer dizer falar, discutir, expor inconsistências, cruzar dados, enfim, escrever sobre a atual situação dos bancos brasileiros, principalmente diante da atual dinâmica macro-econômica, onde crédito tende a colapsar e inadimplência tende a explodir.

Dentro desse contexto, como podem os bancos brasileiros, principalmente Bradesco e Itaú (SA:ITSA4), não terem seus papéis-ações ainda colapsados? Mais...como ambos os bancos ainda mantém uma dinâmica "bull-market"?

Por ora, aqui no artigo vamos nos ater a esses 2 bancos, sem retirar de outros igual gravidade e preocupações, principalmente quando falamos de bancos públicos, como o Banco do Brasil (SA:BBAS3), e o terceiro maior banco privado do país, o Santander .

Também é verdade que os papéis do Bradesco sofreram mais; uma queda de cerca de 47% do final de 2014 até início de 2016, tendo recuperado quase tudo nas últimas semanas. Por outro lado, o Itaú sofreu "apenas" 34% em igual período. Novamente, se olharmos seus níveis, Bradesco sofreu mais; voltou, no fundo do início do ano, ao nível do início de 2012, enquanto o Itaú, no fundo do início do ano, voltou a níveis do início de 2014.

No entanto, a velocidade com que recuperaram praticamente seus topos históricos nos últimos 2 meses impressiona, dada a fragilidade do quadro econômico brasileiro.

Como isso é possível? Voltar a niveis de 2012 ou 2014 é coerente com a dinâmica atual da economia brasileira ou mesmo mundial?

Para efeito de simplificação do artigo, a partir de agora passaremos a nos ater a 2 itens, 2 itens importantes nos balanços dos respectivos bancos: A linha "operações de crédito" e a linha"despesas com provisão para créditos de liquidação duvidosa".

Nos últimos anos vários bancos surfaram no que podemos chamar de "bolha de crédito", seja pela política monetária frouxa imposta pelo FED, seja pela imensa liquidez provocada por outra bolha, a de commodities.

Assim, olhemos para a linha "operações de crédito" dos Bancos Itaú e Bradesco

Gráfico "Operações de crédito, Arrendamento Mercantil e outros créditos" do Banco Itaú, plotado a partir de balanço publicado

Gráfico "Operações de crédito" do Banco Bradesco (SA:BBDC4), plotado a partir de balanço publicado

Uma forte dinâmica de alta é evidente nos 6-7 últimos anos. Não sem surpresasm, tais gráficos são coerentes com os saldos de carteira de crédito, tanto de pessoa física como jurídica, monitorados pelo Banco Central:

Saldo carteira de crédito (total, física e juridica)

Fonte: Banco Central do Brasil

Vamos além... Vamos a algumas perguntas normalmente deixadas de fora, seja, pelo investidor comum, seja pela imprensa especializada.

A forte dinâmica acima verificada se manterá no médio-longo prazo, dadas as condições internas e externas, principalmente interna?

Tenho seríssimas duvidas. Para sustentar tal argumento, nos direcionemos ao quadro, também a partir de monitoramento feito pelo Banco Central, das condições de crédito para grandes, médias e pequenas empresas, assim como para o segmento de crédito habitacional, pela ótica da "demanda observada".

Todos os segmentos em "queda livre", muito distantes do "crédito desenfreado" visto nos últimos anos e refletido nos gráficos acima.

Condições de crédito, demanda observada de Grandes, Médias e pequenas empresas, mais Crédito habitacional

Fonte: Banco Central do Brasil

Ressalta-se que as 3 matérias listadas logo no início do artigo, a despeito de explicitar imensas preocupações sobre "provisão e inadimplência", não tangenciam o "outro lado da moeda", isto é, a dinâmica de absorção e/ou concessão de crédito.

E já que falamos de "provisão e inadimplência", vamos a elas...

Comecemos pela ótica dos próprios bancos.

Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa, Banco Itau, gráfico plotado a partir de balanço publicado

Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa, Banco Bradesco, gráfico plotado a partir de balanço publicado

A tendência de alta parece clara nos últimos 2-3 anos, mais especificamente da metade de 2014 em diante. Essa tendência é forte e clara no Balanço do Banco Bradesco; um pouco errática no Balanço do Itau, a despeito do mesmo alertar sobre os desafios a serem enfrentados em 2016.

E então? Mais uma vez, temos mais dúvidas e questionamentos do que certezas.

Esse é o estágio sob o qual provisões e inadimplência se estabilizarão?

Não me parece..... Basta observarmos os patamares verificados no final dos anos 90, período conturbado pós Quebra do Fundo LTCM, Default da Rússia, Crise da Ásia e Passagem do câmbio "sujo flutuante", do início do Plano Real, para o "câmbio flutuante limpo", do segundo mandato do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso no Brasil.

Vejam abaixo e comparem o patamar em que provisões foram deslocadas no final dos anos 90 e o nível em que as mesmas se encontram no cenário atual, cenário, diga-se de passagem, muito mais preocupante, essencialmente se olharmos o âmbito interno.

Percentual do total de provisões em relação a carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional

Fonte: Banco Central

No mesmo contexto, cabem 3 observações mais do que curiosas.

O pior...ou muito pior, em termos de "provisionamento para créditos de liquidação duvidosa", está por vir?

Vejam algumas observações que constam na Mensuração de risco de crédito e Política de Provisionamento explicitadas no Próprio Relatório anexo a publicação do último Balanço do Banco Itaú:

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Risco de Crédito

1. Mensuração do Risco de Crédito O ITAÚ UNIBANCO HOLDING estabelece sua política de crédito com base em fatores internos, como os critérios de classificação de clientes, desempenho e evolução da carteira, níveis de inadimplência, taxas de retorno e o capital econômico alocado; e fatores externos, relacionados ao ambiente econômico, taxas de juros, indicadores de inadimplência do mercado, inflação e variação do consumo.

4. Política de Provisionamento

A política de provisionamento adotada pelo ITAÚ UNIBANCO HOLDING está alinhada com as diretrizes do IFRS e do Acordo da Basileia. Desse modo, as provisões para operações de crédito são constituídas a partir do momento em que houver sinais de deterioração da carteira, tendo em vista um horizonte de perda adequado às especificidades de cada tipo de operação. Consideram-se como impairment os créditos com atraso superior a 90 dias, créditos renegociados com atraso superior a 60 dias e operações corporate com classificação interna inferior a um certo nível. As baixas a prejuízo ocorrem após 360 dias dos créditos terem vencido ou após 540 dias, no caso de empréstimos com vencimento acima de 36 meses.

Ora......se "o pior" do quadro econômico brasileiro recaiu sobre 2015, ou mesmo ainda "recai" sobre 2016, os 360 dia, ou mesmo 540 dias (para os empréstimos acima de 36 meses) citados pelo Relatório do ITAU vão impactar fortemente, tanto nos balanços de 2016, como de 2017....ou mesmo, ainda no de 2018.

Vejamos outro dado curioso que pode ser retirado do Balanço do Banco Bradesco.

Reparem abaixo na alta repentina e forte do que o Bradesco considera "carteira risco C"...O mínimo requerido é de 3%...no entanto, em dezembro último, o Bradesco já atribui um percentual de provisionamento de 9,2% a esse subgrupo de carteira, bem superior ao patamar de 4-4,5% dos anos anteriores (caso não esteja visualizando imagem, peço que tente copiar a imagem clicando com o lado direito do mouse, e transfira para algum editor de imagem para ampliá-la).