Bancos dos EUA: O problema pode ser muito maior do que imaginamos

 | 10.04.2023 10:31

No começo do mês passado, o Silicon Valley Bank (SVB (OTC:SIVBQ)) sofreu uma série de pedidos de resgates por parte de seus clientes e se viu em uma situação muito complicada, que acabou tendo um desfecho trágico.

O banco foi resgatado pelas autoridades americanas, que garantiram os depósitos de todos os clientes, evitando assim uma pane no sistema financeiro americano , bem como um pânico geral se alastrando.

Ainda bem que as autoridades aprenderam algo com a crise de 2008 e, desta vez, se movimentaram rapidamente, prevenindo que o pior acontecesse — ao menos por agora.

Se as autoridades aprenderam alguma coisa útil, talvez o sistema financeiro americano tenha que revisitar a tragédia de 2008 para relembrar o quão desastrosa a criatividade pode ser.

Digo isso porque o próximo grande choque na economia americana poderá advir do sistema financeiro por conta de um risco que está se materializando aos poucos.

EUA têm mais de 4 mil bancos/h2

Os Estados Unidos, diferentemente do Brasil, possuem muitos bancos.

O FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation, agência federal dos Estados Unidos, cuja principal função é a de garantia de depósitos bancários) começou a contabilizar o número de instituições financeiras em 1934.

Naquela época, o país já contava com nada menos do que 14.146 instituições. Obviamente, o sistema mudou e passou por uma consolidação, sendo que hoje os EUA contam com pouco mais de 4.800 bancos espalhados pelo país.

Esses pequenos bancos, em sua maioria, são regionais e responsáveis por nutrir a economia local — pequenas cidades, condados e estados.

O sistema de crédito é irrigado por esses bancos por meio de empréstimos aos cidadãos e às empresas locais, seja para uma reforma habitacional, compra de um imóvel, consumo de bens ou serviços ou mesmo capital de giro. Hoje, praticamente 55% dos empréstimos concedidos nos Estados Unidos são feitos por pequenos e médios bancos.

Sob pressão/h2

Acontece que nos últimos anos os pequenos e médios bancos ficaram criativos demais — talvez por conta da pressão por lucros por parte dos acionistas em um ambiente de taxa de juros perto de zero — e acabaram por se expor mais a um segmento específico da economia, os imóveis comerciais (Commercial Real Estate - CRE).

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Estamos falando de prédios de escritórios, mas também de fábricas, armazéns e construções para o varejo em geral, mas não incluímos nessa categoria as propriedades agrícolas.

Veja, no gráfico abaixo, como os pequenos e médios bancos (em cinza escuro) possuem uma exposição muito maior a esse segmento do que os grandes bancos (em cinza claro).

Em um mercado de US$ 2,9 trilhões, os pequenos e médios bancos hoje carregam uma exposição de US$ 1,9 trilhão, ou 67% do total.