Bancos Quebram; Não Invista em CDB só por Ter Garantia do FGC

 | 30.03.2020 10:26

A financeira DACASA era constantemente presente nas plataformas de distribuição de produtos de renda fixa das maiores corretoras.

Ela pagava taxas de juros bem altas nos seus produtos para atrair investidores pessoa física.

Em meados de 2019, uma letra de câmbio de 2 anos pagava 123 por cento do CDI e era uma das maiores taxas encontradas na plataforma.

A taxa paga era alta, pois havia na financeira uma grande dificuldade de captação, uma vez que os prejuízos no balanço eram altos e a Basiléia (pedaço do capital ponderado pelo risco) era negativo.

Os investidores profissionais, que acompanhavam de perto o balanço, fugiam deste investimento. Mas as pessoas físicas, que abriam as suas corretoras e viam as taxas altíssimas sem saber o que estava acontecendo, se encheram.

Resultado: quando se deram conta, já era tarde. O Banco Central decretou em 13/02/2020 a liquidação de todas as operações da financeira DACASA e da sua corretora UNILETRA.

Alguns investidores entraram em pânico, pois não sabiam quando e se iriam receber o seu dinheiro de volta. Mas ainda havia uma esperança.

Um dos principais argumentos utilizados pela corretora para vender este tipo de risco para o pequeno investidor é que eles são garantidos pelo FGC.

As letras de câmbio, assim como os depósitos à vista, CDBs, LCIs e LCAs são cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito e, no caso de falência, o investidor recebe de volta o valor investido atualizado pelos juros até o dia da falência.

Esse reembolso segue algumas regras importantes, como limite máximo de 250 mil reais por banco emissor e no máximo um milhão de reais por CPF. Ou seja, você poderia ter 250 mil reais em até 4 bancos diferentes, e estaria 100 por cento garantido pelo FGC.

O reembolso demora um tempo, e durante esse período você não está sendo remunerado. O próprio FGC diz que é preciso esperar no mínimo entre 30 a 45 dias. A média histórica dos recebimentos é de 90 dias.

No caso específico da DACASA, os reembolsos começaram em 40 dias, e estão sendo feitos até hoje. Tiveram alguns atrasos por conta da crise do coronavírus.

É importante você saber que o período até você começar a receber o reembolso é um risco à rentabilidade do seu investimento.

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Quanto mais o FGC demorar para te pagar, menor será o retorno total do seu investimento.

No gráfico abaixo podemos ver para quanto cairia a rentabilidade da LC de 123 por cento do CDI da DACASA caso o FGC pagasse em 30 (linha azul), 60 (linha laranja) e 90 dias (linha cinza).

 

Por aqui podemos ver que, caso o FGC demorasse apenas 30 dias para pagar o reembolso (linha azul), você teria que carregar essa LC há mais de 6 meses para ter um retorno acima do CDI (eixo vertical). Caso contrário, receberia menos do que a taxa livre de risco.

Caso o FGC demorasse 60 dias para pagar (linha laranja), o seu retorno só seria superior ao CDI se você estivesse carregando este investimento por mais de 1 ano.

Ou seja, investir em um banco ruim é uma corrida dupla contra o tempo. Você ganha mais de acordo com quanto tempo o banco se mantém vivo e quanto menos tempo o FGC demora para te reembolsar.

Você só irá de fato receber a taxa contratada, no caso os 123 por cento do CDI, se o banco se mantiver por todo o período investido. O que não foi o caso aqui.

 

Bancos quebram!/h1

Pode parecer um pouco fora da sua realidade um banco ou uma financeira quebrar. Mas é bem comum de acontecer.

A lista abaixo mostra as últimas liquidações que passaram pelo FGC de 1996 até o primeiro trimestre de 2019:

 
 
Note que, tirando o período de 2005 a 2010, praticamente todos os outros anos tivemos a falência de algum banco.

Então, fica a dica número 1: sempre desconfie de bancos que pagam muita taxa. O próximo a quebrar pode ser o seu.

 

 
h1 FGC tem risco de crédito!/h1


É muito fácil dizer “compre LC da DACASA, é garantida pelo FGC!”. Ainda mais se você ganha taxas gordinhas por indicar esses papéis.

Mas, antes de você confiar cegamente no FGC, eu me sinto no dever de te dar todas as informações pertinentes.

Não porque eu não ache o FGC seguro, mas porque eu não trato o investidor como ignorante. Acredito que você tem que ter 100 por cento de ciência dos riscos que corre. Para nunca ser pego de surpresa.

Se depois do que eu vou mostrar aqui você continuar querendo investir em banco quebrado, maravilha! Mas você terá feito isso de forma consciente, sabendo dos riscos que está correndo.

Não tem problema nenhum aceitar correr certos riscos, desde que você saiba quais eles são. Isso é importante.

Então vamos lá...

Muita gente não sabe disso. Mas o FGC também tem risco de crédito.

Ele funciona diferente de um seguro. Quando você bate o carro, a seguradora é obrigada a te reembolsar o valor do carro.

O FGC não é obrigado. Ele apenas te reembolsa se tiver recursos disponíveis.

E aí vem a pergunta: quanto o FGC tem de recursos disponíveis?

 

Por esse gráfico podemos ver quanto o FGC possuía em liquidez em junho de 2019, 2,39 por cento do total do sistema passível de garantia.

Ou seja, se mais de 2,39 por cento do sistema quebrar, ele não terá dinheiro para pagar o valor do sinistro.

O argumento que mais vejo por aí fazendo um contraponto a essa informação é o de que para o FGC ter problemas, um dos 5 maiores bancos brasileiros teria que quebrar.

Será que isso é de fato verdade?

Perguntei ao FGC se ele teria o valor garantido dividido por instituição. Eles me responderam que não divulgam essa informação.

Mas podemos estimar esses números desta forma:

Cerca de 77 por cento dos investimentos do sistema estão concentrados em depósitos a prazo e poupança:

 

Pegando os dados desses dois produtos no site do Banco Central, separado por bancos, temos o seguinte cenário:

 
Essa lista continua para baixo.

O que podemos ver é que:

  1. Se qualquer um dos 5 maiores bancos quebrarem, comprometeria no mínimo 13 por cento do sistema, e o FGC obviamente não aguentaria.
  2. Os 5 maiores bancos somam cerca de 85,46 por cento do total desses produtos (não necessariamente tudo é elegível de garantia, é uma estimativa).

Ou seja, tirando os 5 maiores bancos, temos 14,54 por cento do sistema. Os 2,39 por cento de liquidez do FGC seriam cerca de 15 por cento do que sobrar.

Sendo assim, não é verdade que para o FGC ter problemas um dos 5 maiores bancos brasileiros teria que quebrar. Se 16 por cento do sistema — ex-5 maiores bancos — quebrassem, já faltaria dinheiro.

Isso é fácil de acontecer? NÃO! Principalmente em uma época de crescimento econômico.

É impossível? NÃO. Aliás, durante a crise do subprime americano, cerca de 6 por cento do sistema financeiro americano quebrou. O Lehman Brothers era o quarto maior banco americano. O FDIC (FGC americano) quebrou, como podemos ver na tabela abaixo.

 
Note que até o período de 2008/2009, o FDIC não tinha problema algum de garantir o sistema, tendo inclusive pequenos lucros contábeis consistentemente. Até quebrar.

A diferença entre o sistema americano e o brasileiro é que o FDIC é do governo, enquanto o FGC é privado. O governo americano resgatou o FDIC durante a crise.

O que eu quero mostrar aqui é que eventualidades acontecem. Não é porque nunca aconteceram no passado que não vão acontecer no futuro.

Em um momento de crise, é possível um percentual maior do sistema precisar de ajuda. O grande problema é que nunca sabemos quando uma grande crise virá. E se você investiu em um CDB, ou outro título garantido, sem liquidez diária e pelo prazo de alguns anos, você não vai conseguir se proteger da crise resgatando seu dinheiro.

Reforço que a ideia aqui não é ser alarmista. Mas é SIM mostrar o panorama COMPLETO, para que então você tome a decisão de tomar esse risco.

Não é a corretora quem tem que tomar essa decisão por você, nem ninguém relacionado a ela. Nem o Youtuber. Nem o governo. É você! Munido de 100 por cento das informações.

E o meu papel é esse: não subestimar nenhum risco e difundir conhecimento.

Espero ter ajudado você a entender o contexto um pouco melhor.

E por fim, fica a dica número 2: não invista em qualquer banco por ter garantia do FGC. Faça uma análise de crédito. Tenho certeza que você nunca vai se arrepender disso.

Um abraço.

 

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