Cristiane Fensterseifer | 25.02.2021 12:40
O senhor Barbell estava sentado em sua oficina, que também lhe servia de escritório na noite de 20 de janeiro de 1636, lendo as anotações sobre seus bens e investimentos.
Sua fisionomia, de um experiente senhor na casa dos 60 anos, com sua longa barba, estava consternada.
Em seu escritório de madeira, ele ponderava se havia de valer a pena encerrar sua participação e vender seus bulbos de tulipa comprados há cerca de um ano, os quais haviam se valorizado extraordinariamente rápido.
Seria daquela vez diferente e as Tulipas se tornariam uma nova referência de valor no mercado?
CHARGE - 1636 ou 2021: criptomania relembra a tulipa mania da Holanda do século 17
A participação dos bulbos em seus bens totais iniciara em 5% e havia aumentado para 20% em meio às propagandas positivas, mas agora havia chegado a quase 40% com a valorização expressiva.
Se antes Barbell estava tranquilo com uma aposta especulativa de risco em 5% do total de seus vens, os quase 40% atingidos abruptamente o deixavam desconfortável.
Seriam as ações do tradicional banco Holandês afetadas caso as tulipas retornassem ao preço anterior? Neste caso, o restante da carteira estaria protegido por um evento adverso com impactos sistêmicos?
Barbell passou a noite lendo sob a fraca luz de que dispunha na época e revisando suas informações e balancetes em seus grandes cadernos e procurando detalhes entre algumas centenas de folhas que se espalhavam pelo seu escritório, revisando sua tese de investimentos.
Deveria ele liquidar a posição? Reduzir pela metade? O que iniciara com uma pimenta no portfólio, já tomava quase metade dele e talvez tivesse contaminado o restante das posições.
Bem, essa é uma história mais ou menos inspirada em fatos reais.
Só que o senhor Barbell nunca existiu.
Toda vez que alguém me fala sobre a estratégia eu penso que é uma pena não ser o nome do criador dela, pois penso que é o sobrenome perfeito pro personagem que eu imagino e descrevi acima.
Barbell Strategy, na verdade, é o nome de uma estratégia muito inteligente de ser utilizada que, em termos simplificados, implica alocar pequena parte do seu portfólio em ativos de alto risco e convexidade, que podem multiplicar por dezenas e dezenas de vezes.
O importante é lembrar que o percentual destes ativos deve permanecer pequeno na carteira, mesmo em meio a sua multiplicação.
O que eu quero trazer para vocês de reflexão hoje é que se o seu ativo convexo - substitua aqui por criptomoedas, empresa de altíssimo, porém incerto, crescimento futuro, ou o que desejar - multiplicou por muitas e muitas vezes, o melhor provavelmente seja reduzir a participação que este ativo tomou.
É importantíssimo sempre rebalancear seu portfólio e “stick to the plan” ou seja, manter sua cabeça no lugar, não se deixar tomar pela euforia e manter sua estratégia e plano inicial, em vez de manter uma alta participação num ativo arriscado demais, ou aumentar a exposição a ele.
Desta vez, não será diferente.
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