Batendo Cabeça

 | 29.04.2013 10:57

Parece que este governo está com problema sério de comunicação. Na semana passada, depois da ata do COPOM, moderada, falando de gradualismo, um diretor do BACEN veio a público defendendo a necessidade de um ajuste mais intenso na política de juros. Disse ele que “o COPOM poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento da política monetária (taxa Selic).” Ou seja, praticamente colocou a ata de lado.

Nas suas argumentações pesaram fatores negativos, como resquícios de choques desfavoráveis, domésticos e externos, na alimentação no ano passado; depreciação do real em 2012; salários pressionados, ainda mais com os reajustes do salário mínimo em torno de 14,3% nestes dois anos; mix de políticas, fiscal e monetária, expansionistas, dentre outras. Pelo lado dos positivos, entrada de safra agrícola recorde, o câmbio estável em R$ 2,00 e o arrefecimento nos preços dos imóveis.

Antes, outro diretor, que havia votado no COPOM pela manutenção da taxa Selic, argumentou que o havia feito por discordar do melhor timing para elevar o juro. E o pior é que ambos os diretores falaram com autorização do Presidente do BACEN, Alexandre Tombini!

Afinal, por que tantas declarações paralelas? A ata do COPOM não seria suficiente? Não seria melhor o presidente do BACEN assumir um discurso uníssono?

A impressão que se tem é que o governo está “batendo cabeça” diante da deterioração de expectativas em curso. A perda de confiança se espalha como “rastilho de pólvora” e isto, em algum momento, resultará em mais inflação. O fato é que esta deterioração das expectativas se dá num momento em que alguns fundamentos econômicos também começam a derrapar.

No front das contas externas, o saldo em conta corrente surpreendeu em março, com déficit de US$ 6,9 bilhões, acumulando US$ 24,8 bilhões no ano, mais que o dobro do mesmo período de 2012 (US$ 12,1 bilhões). A balança comercial deficitária teve importante contribuição, assim como a piora nas contas de serviços e de renda, com aumento de remessas, despesas de transportes, de viagens internacionais, dentre outros.

Sobre a balança comercial, o saldo negativo até a terceira semana de abril, de US$ 6,5 bilhões, teve grande contribuição das importações atrasadas de petróleo do ano passado (só registradas neste início de 2013). Destaquemos também a queda disseminada de preços em cerca de 60% dos produtos exportados, fruto de uma demanda externa mais retraída, ou desacelerando como no caso da China. No primeiro trimestre deste ano 20 dos 31 grupos de produtos exportados (64% do total) registraram redução nos seus preços de venda. Tanto produtos manufaturados, como commodities – destaque para soja, café e açúcar -, registraram queda nas suas cotações, diante do crescimento menor da demanda global – ver gráfico a seguir.