Daniel Biot | 23.02.2021 21:41
Recentemente, a Petrobras (SA:PETR4) voltou a ser assunto principal no Mercado Financeiro. Buscando paridade internacional, a companhia se viu obrigada a aumentar os preços dos combustíveis (que seguem defasados em relação aos preços internacionais). Porém, quem não gostou disso foi o presidente da República.
Irritado, Jair Bolsonaro (que segue pressionado pelos caminhoneiros) criticou fortemente o aumento realizado pela estatal. Para o presidente, a alta do preço é excessiva e “fora da curva”.
Além disso, Bolsonaro enfatizou que “alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias”, causando arrepios no Mercado Financeiro novamente. Ainda no mesmo dia, Bolsonaro trocou o comando da estatal.
O presidente, eleito com pautas liberais, demonstra mais uma vez sua vontade explícita de interferir no livre mercado através da estatal.
Porém, a obsessão dos líderes políticos sobre o domínio da Petrobras não é algo novo.
A veia populista e nacionalista dos presidentes que comandaram nosso país ao longo da História sempre foi mais forte e tentadora que qualquer sentimento liberal que pudesse existir.
Tudo começou com Getúlio Vargas, sancionando a lei de exploração de petróleo e criação da Petrobras, dando origem ao forte monopólio que vigora até hoje. A tentação por esse controle foi tão forte que grande parte do Congresso Nacional adotou o famoso slogan “O Petróleo é Nosso”.
Nas mãos dos militares o domínio foi ainda maior. Com o temor de concorrências externas, a defesa em manter o monopólio prevaleceu tranquilamente. A forte política de expansão da estatal sob o novo slogan “Brasil grande” enchia os olhos e dava poder aos nacionalistas.
Foi no governo de Fernando Henrique Cardoso que se cogitou com mais afinco a possível privatização da companhia. Porém, mesmo com discursos potencialmente liberais, ainda em 2002, FHC interfere diretamente na companhia e determina o congelamento do preço do gás.
Nas mãos do PT, a Petrobras sofreu a maior interferência (política e de mercado) da História da estatal, superando até mesmo todo controle dos militares na ditadura. Entre eles:
1) Diretores e presidentes indicados por partidos políticos;
2) Desvios sistemáticos;
3) Arrecadação e pagamento de propinas;
4) Obras e investimentos superfaturados;
Porém, foi no governo de Dilma Rousseff que a interferência e controle de preços (na tentativa de controlar a alta da inflação) resultou nos maiores prejuízos aos cofres da companhia. A ex-presidente da Republica utilizava a Petrobras como instrumento principal para realizar políticas macroeconômicas.
Foi nessa gestão que a estatal chegou ao seu maior nível de desvalorização da História.
O ano é 2018. Bolsonaro ganha a confiança do mercado ao utilizar o nome, imagem e prestígio de um economista declaradamente liberal.
O ano é 2019. O avanço de reformas e privatizações não acontece como se mostrava no discurso.
O ano é 2020. Debandada da equipe econômica e liberal do Ministério da Economia. Criação de uma nova estatal.
O ano é 2021. Bolsonaro interfere diretamente na Petrobras, buscando o controle de preços artificiais. Além disso, ameaça interferir também no preço da energia elétrica. O mercado responde: a queda do preço da companhia estatal nas primeiras horas após intervenção é maior que 20%. Ibovespa cai mais de 5%.
Por fim, resta saber quem se sente mais traído neste momento: os eleitores que acreditavam em Paulo Guedes, ou o próprio Ministro da Economia.
Artigo escrito por Daniel Biot, Especialista em Investimentos (ANBIMA) e membro do Comitê de Investimentos da RioPretoPrev.
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