Cabo de guerra no mercado do açúcar

 | 24.03.2025 09:16

O mercado de açúcar segue patinando entre incertezas climáticas, geopolíticas e especulações econômicas. A seca em áreas importantes do Centro-Sul tem afetado o desenvolvimento e a qualidade da cana, enquanto as dúvidas sobre a produção na Índia e os ruídos políticos mundo afora mantêm os operadores em alerta – ou, no mínimo, com o dedo menos leve no gatilho.

Em Nova York, o açúcar oscila entre 18 e 20 centavos por libra-peso, como se esperasse uma boa razão para sair dessa zona de conforto. O contrato maio/25 encerrou a sexta-feira em 19.69 centavos, uma alta de 50 pontos na semana, o que equivale a 11 dólares por tonelada. Parte desse fôlego vem da revisão para baixo da moagem prevista para a safra 2025/26 no Centro-Sul – e ainda há espaço para cortes, dependendo da recuperação dos canaviais. Mesmo assim, a produção de açúcar tende a crescer, com um mix mais açucareiro, quatro pontos percentuais acima da safra passada. Por ora, o suporte vem daí.

Do lado da demanda, nada de extraordinário: compradores seguem cautelosos, comprando o necessário e rezando para que a política econômica do presidente Donald Trump (sim, de novo ele) não jogue mais lenha na fogueira. A insegurança internacional e a volatilidade cambial empurram os agentes para o compasso de espera. A valorização do real também ajuda a aliviar a pressão sobre NY: o dólar fechou praticamente estável na semana, em R$ 5.7375.

Convertendo os preços futuros para reais FOB Santos, temos: R$ 2.700 por tonelada na média da safra 25/26, R$ 2.735 na 26/27 e quase R$ 2.800 na 27/28. Preços que enchem os olhos e animam as usinas. A expectativa de uma safra 26/27 recorde, com canaviais renovados e produtivos, justifica a aceleração nas fixações de exportação – cinco safras de bons resultados, afinal, merecem ser celebradas (ou fixadas).

Os fundos especulativos adicionam outro tempero à volatilidade. Segundo o COT (Commitment of Traders) divulgado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, os fundos estavam vendidos em 42 mil lotes na terça-feira, tendo recomprado 38 mil entre os dias 11 e 18 de março. Como o mercado subiu 136 pontos nesse intervalo se resolverem zerar tudo, podem empurrar os preços mais uns 150 pontos pra cima. Ou seja, a qualquer momento pode rolar aquela alta-relâmpago que ninguém consegue explicar no dia, mas todo mundo “já previa” no relatório da semana anterior.

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O Brasil continua sendo o protagonista das exportações globais, com 61% de participação. Essa dominância tem dois lados: se tudo correr bem, os preços podem ceder; se houver qualquer tropeço climático ou logístico, o mundo inteiro sente. A Índia, por exemplo, projeta uma produção entre 26,2 e 27,2 milhões de toneladas em 2024/25, com consenso em 26,57. A seca nas regiões de Maharashtra e Uttar Pradesh preocupa e pode apertar ainda mais o estoque de passagem.

A Tailândia também enfrenta adversidades climáticas. A safra 2024/25 deve ficar entre 10,2 e 10,9 milhões de toneladas, e a de 2025/26 pode subir levemente para 11,76 milhões. Os produtores tailandeses ainda não fixaram preços para exportação, indicando que esperam valores mais altos – talvez algo perto de 20 centavos por libra-peso.

E a China? Sempre no radar. Circulam rumores de importações de até 2 milhões de toneladas em janeiro, mas fontes locais torcem o nariz para esses números. O que se observa é a possível autorização para importação de açúcar líquido, o que poderia mexer no balanço global no curto prazo.

O cenário, portanto, é um verdadeiro cabo de guerra: de um lado, a seca no Brasil, a cana de qualidade inferior, as incertezas indianas e a possível demanda por etanol; do outro, uma safra brasileira ainda robusta, o real valorizado, a ameaça de queda no petróleo e a sombra de uma nova guerra comercial liderada pelos EUA. A mensagem? Muita calma nessa volatilidade. O mercado segue andando sobre cascas de banana molhadas.

Em conversas recentes com contatos na Índia, chamou atenção a situação da variedade de cana Co-238, amplamente cultivada em Uttar Pradesh. Responsável por ganhos expressivos de produtividade e ATR, essa variedade mostrou alta sensibilidade à doença "red rot" (podridão vermelha), já presente em cerca de um terço das áreas plantadas no estado, o que deverá reduzir a produção de açúcar local de 10,4 para no máximo 9 milhões de toneladas nesta safra. Introduzida em 2021, a Co-238 chegou a representar 75% da área cultivada em UP, mas vem sendo substituída desde 2024 e hoje ocupa cerca de 50% das lavouras, com expectativa de completa substituição em até dois anos. Em estados como Maharashtra e Karnataka, onde predominam variedades mais antigas e estáveis, ainda não há registro da doença, o que sugere que o problema, por ora, permanece localizado, mas merece monitoramento atento.

Segundo nosso colaborador Marcelo Moreira, “o contrato Maio/25 acelerou e atingiu a máxima dos últimos cinco meses ao negociar a 20.09 centavos de dólar por libra-peso, encerrando a sessão a 19.72 centavos. As resistências estão agora em 20.26, 21.00 e 21.87 centavos, enquanto os suportes se posicionam em 19.50, 19.17, 19.01 e 18.47 centavos. A alta recente também estreitou o spread Outubro/25 versus Março/26, criando nova oportunidade de entrada com objetivo de valorização no médio prazo entre 70 e 80 pontos, após o diferencial ter recuado até 25 pontos na mínima da semana. O vencimento Julho/25 acompanhou o movimento de alta, fechando a 19.39 centavos, também após registrar a máxima de 19.72 centavos. A próxima resistência está justamente nesse patamar, com suportes em 19.19, 18.66, 18.49 e 18.14 centavos de dólar por libra-peso. O mercado segue tecnicamente firme, com viés altista no curto prazo.”

Archer Consulting

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