Café: As duas perguntas de 1 milhão de dólares

 | 21.11.2023 07:00

Mais uma semana com o Dez-23 negociando com uma amplitude de +2.265 pontos (fechamento sexta-feira anterior / mínima / máxima / mínima / fechamento da semana respectivamente @ +174,50 / +171,30 / +182,20 / +170,45 / +170,85 centavos de dólar por libra-peso). O spread “Dez-23 x Março-24” após negociar acima dos -550 pontos encerrou a semana ainda no “invertido” @ -430 pontos! Ou seja, o “mercado” continua apostando na falta de café até a entrada da próxima safra brasileira “recorde” 24/25! Ora, se o “mercado” aposta na safra brasileira 23/24 acima dos +66 milhões de sacas, então por que o spread continua invertido? O volume diário negociado também foi positivo, ficando acima dos +45.000 lotes/dia!

Já o Set-24 trabalhou com uma amplitude de +1.775 pontos (fechamento semana anterior / mínima / máxima / mínima / fechamento da semana respectivamente @ +172,05 / +168,70 / +177,15 / +167,85 / +168,45 centavos de dólar por libra-peso). Após negociar durante 8 dias acima da média-móvel dos +200 dias e da média móvel dos 9 dias o “mercado” fez o movimento de curto prazo esperado e agora encontra como próximo objetivo @ +160,00 centavos de dólar por libra-peso – um importante “congestionamento” das médias-móveis dos +100 / + 50 / + 72 dias!

Os fundos + especuladores, segundo a última posição do CFTC*, encerraram o período da apuração comprados agora em +11.880 lotes! Nas 2 últimas semanas, com a “puxada” do Dez-23 com o vencimento das opções e a confirmação da onda de calor nas principais zonas produtoras no Brasil, eles compraram aproximadamente +10.000 lotes!

A “rolagem” do vencimento Dez-23 para o Março-24 também ajudou na abertura do “spread”. Agora o Dez-23 esta praticamente “fora do jogo” com apenas + 8.193 lotes em aberto e o Março-24 com +104.512 lotes em aberto!

Na semana o R$ chegou a valorizar +2% (mínima / máxima / fechamento respectivamente @ +4,94 / +4,84 / +4,905 R$/US$). Com a combinação R$/US$ x Cotação em NY o mercado interno voltou a recuar aproximadamente -40 R$/saca para o café arábica tipo 6 (tanto para as negociações spot quanto para as negociações para a próxima safra 24/25). O piso psicológico dos +900 R$/saca para o café arábica tipo 6 deverá ser rompido novamente na próxima semana (porém creio que em breve os preços deverão voltar a negociar acima dos +950 / +1.000 R$/saca).

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Já o café tipo robusta continua firme, negociando ao redor dos +650 R$/saca, sustentado pelas cotações em Londres! O vencimento Jan-24 encerrou a semana @ +2.521 US$/ton com notícias do Vietnam dando suporte ao mercado. Em Londres o “mercado” segue invertido até o vencimento Set-25! Pelo jeito o “mercado” continua apostando no aperto da oferta do café tipo robusta pelos próximos 2 anos! De acordo com o Departamento Geral da Alfândega do Vietnam a exportação no mês de outubro-23 diminuiu -14,20% para apenas +728 mil sacas! As chuvas continuam atrasando a comercialização / disponibilidade do café novo elevando também as cotações no mercado interno. Por outro lado, as exportações brasileiras do café tipo robusta continuam firmes e fortes devendo encerrar os primeiros 5 meses da safra julho-23/junho-24 já acima dos +3,00 milhões de sacas! Infelizmente o produtor brasileiro continua vendendo seu produto no mercado interno abaixo da paridade com o café arábica tipo rio (de baixa qualidade) e exportando “café barato” para suprir as arbitragens de origem entre o café do Vietnam x café do Brasil. Pela “paridade” com o café do Vietnam e com a paridade com o café arábica tipo rio, o café robusta já deveria estar sendo negociado acima dos +700 R$/saca no mercado interno.

A Associação da Indústria Cafeeira do Vietnam está prevendo a safra atual 23/24 em apenas +27,60 milhões de sacas (contra +29 / +32 milhões de sacas estimadas pelo “mercado”).

As duas perguntas de 1 milhão de dólares continuam sendo: “Qual o tamanho da safra brasileira 23/24?” e “Qual será o tamanho da próxima safra brasileira 24/25?”?

A safra atual continua “sob judice”! As estimativas continuam entre +54,36 milhões de sacas (Conab*) até 69,90 milhões de sacas (Ecom*). Essa “pequena” diferença em “apenas” +15,54 milhões de sacas ainda vai “dar pano pra manga”!

Nesse mês de nov-23 o Brasil deverá atingir uma exportação mensal histórica recorde, pela primeira vez, acima dos +5,10 milhões de sacas (segundo a projeção dos últimos dados apresentados pela Cecafé* na sexta-feira)! O recorde havia sido em nov-20 quando o Brasil teve a sua safra recorde 20/21 estimada entre +69/+70 milhões de sacas e exportou no mês de nov-20 +4,77 milhões de sacas!

Se o Brasil exportar +5,10 milhões de sacas neste mês de nov-23, então no período julho/23 – nov/23 o Brasil terá exportado +19,42 milhões de sacas x +15,96 milhões de sacas no mesmo período julho/22 – nov/22; +15,78 milhões de sacas no mesmo período julho/21-nov/21 e +20,32 milhões de sacas no mesmo período julho/20-nov-20!

A onda de calor que assolou as principais regiões produtoras nos últimos dias deverá continuar até o final do mês de novembro / início do mês de dez-23. Infelizmente após dias com calor intenso as chuvas, quando retornam, retornam com muita intensidade e em muitas áreas com chuvas de granizo. Muitas lavouras já estão sendo danificadas pelo calor excessivo e na sequencia pelas chuvas de granizo.

Segundo o presidente da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado Monte Carmelo (Monteccer), o sr. Sérgio Assis, no último Encontro Nacional do Café organizado pela ABIC*, “Estamos vivendo algo que nunca passamos na vida. Há fumaça de calor sobre Monte Carmelo (MG) e índices de chuva muito baixos. A planta de café não aguenta mais de 30 graus, fica sem fazer fotossíntese e deixa de reagir, como no caso de algumas regiões de Minas Gerais”.

Segundo alguns estudos divulgados nessa semana as altas temperaturas recentes poderão sim afetar a próxima safra brasileira 24/25.

Segundo os estudos as temperaturas afetam o crescimento vegetativo das lavouras da seguinte forma: “até aproximadamente 12 meses de idade a temperatura ideal é de 30 ºC durante o dia e 23 ºC à noite. Após os 18/20 meses de idade, a temperatura ideal passa a ser de 23 ºC durante o dia e 17 ºC à noite;

Sistema radicular: a temperatura ideal está entre 24 a 27 ºC, acima de 33 ºC é prejudicial;

Fotossíntese: em torno de 24 ºC, as condições são ideais, reduzindo-se 10% a cada acréscimo de grau e tornando-se praticamente nula aos 34 ºC;

Florescimento: semelhante ao crescimento, a temperatura ideal é de 23 ºC durante o dia e 17 ºC à noite. Aos 30 ºC de dia e 23ºC à noite, não ocorre florescimento, ou o mesmo é bastante reduzido.

Muitos produtores na região do norte do Espirito Santo e Sul da Bahia já estão reportando muitos problemas e quebras já irreversíveis para a próxima safra do café tipo robusta.

Nas regiões da Alta Mogiana e do Cerrado Mineiro a onda de calor continua castigando as lavouras do café tipo arábica!

Dificilmente o Brasil irá produzir a tão sonhada “safra recorde 24/25” acima dos +70 / +75 milhões de sacas!

Segue meu quadro atualizado da “oferta x demanda” com as simulações/estimativas para as próximas 3 safras. Considerando crescimento no consumo mundial em +1,50% ao ano então no ano safra 25/26 o mundo deverá estar consumindo já acima dos +182 milhões de sacas/ano. E o índice “estoque x consumo” continuará em patamares críticos abaixo dos +10% durante os próximos 3 anos!