Carne Podre, Política Fraca

 | 20.03.2017 09:38

A semana começa com os mercados domésticos cada vez mais com os pés no chão. Não só os ruídos vindos do ambiente político trazem cautela, mas também o desmantelamento de indústrias de peso da economia brasileira. E os investidores ainda tentam aferir se o impacto dessas notícias é pontual, como tenta fazer o governo, ou se tende a ser duradouro, gerando uma onda de correção nos preços dos ativos.

O presidente Michel Temer esteve reunido ontem com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, para discutir a Operação Carne Fraca, que atingiu as maiores empresas nacionais do setor de alimentos. À noite, ele jantou em uma churrascaria com uma comitiva de embaixadores dos 33 países que mais importam carnes do Brasil, a fim de tranquilizá-los.

A repercussão internacional do esquema entre servidores e frigoríficos para liberar a comercialização de carnes sem condição de consumo ainda pode levar ao embargo do produto brasileiro por grandes importadores, agravando a frágil recuperação econômica. As consequências ao setor agropecuário e às exportações são grande temor do governo, que tenta minimizar o caso - ou mesmo encobri-lo, com apoio de parte da imprensa.

Mas investigação da Polícia Federal, a maior já realizada, mostra que a corrupção está no âmago da delicada situação atual do país e que tais atos estão longe de se restringirem apenas à Petrobras (SA:PETR4), evidenciando uma relação estreita entre poder público e empresas. Aliás, a Operação Lava Jato paralisou dois pilares da atividade - as indústrias de óleo e gás e de infraestrutura - e, agora, a Carne Fraca pode fazer o mesmo no ramo alimentício.

Nesse cenário, os ativos locais ficam mais baratos ao capital estrangeiro. Mas as incertezas quanto ao andamento das reformas estruturais no Congresso e ao impacto da "Lista de Janot" no governo e na base aliada ainda inibem o apetite pelo Brasil. Por ora, a visão positiva para o médio prazo continua, mas essa manutenção depende dos desdobramentos - em Brasília e nas exportações.

O maior receio é em relação à capacidade do governo em cumprir a meta fiscal deste ano, dando o primeiro passo para contornar as contas públicas. Nesse sentido, é grande a expectativa pelo relatório de avaliação fiscal, a ser divulgado na quarta-feira, que pode trazer alguma novidade sobre eventual alta de impostos ou fim de desonerações.

Na mesa de apostas, ganha força a especulação em torno de um aumento na contribuição (CIDE) sobre gasolina e diesel, que, se confirmado, trará impacto inflacionário à economia e pode prejudicar o desempenho financeiro da Petrobras. Aliás, a estatal petrolífera publica o balanço trimestral e do acumulado de 2016 na terça-feira, após o fechamento do mercado.

Contudo, a trajetória favorável da inflação tende a acomodar um eventual choque de preços via aumento de impostos. Talvez até por isso, o governo pode aproveitar esse bom momento para elevar os tributos. A prévia da leitura de março do índice oficial (IPCA-15), a ser anunciada na quarta-feira, deve reforçar este cenário inflacionário mais positivo.

Porém, fica a dúvida se o ciclo de cortes na taxa básica de juros (Selic) seguirá intenso e acelerado, no caso de uma revisão da carga tributária e, principalmente, diante da incerteza quanto ao real apoio à reforma da Previdência. O governo vai tentar vender a ideia de que a situação está sob controle, mas deve ceder na negociação das regras da aposentadoria, após as mais de 160 emendas à proposta.

Hoje, as atenções se voltam para a Pesquisa Focus (8h25) do Banco Central junto ao mercado financeiro, que deve trazer mais mudança, para baixo, nas estimativas para as taxas de juros e de câmbio. Até sexta-feira, o calendário doméstico está mais fraco, mas traz como destaque a nota do setor externo e os dados da arrecadação federal.

No exterior, a agenda econômica está igualmente fraca, sem nenhum indicador relevante seja nos EUA, na Europa ou na Ásia. Assim, o foco se desloca para os discursos de dirigentes do Federal Reserve.

Os investidores buscaram pistas nas falas do colegiado para tentar calibrar quando deve ser o momento exato da próxima alta na taxa de juros norte-americana. Afinal, na última reunião, o Fed deixou claro que outros dois aumentos devem acontecer até o fim de 2017.

O grande destaque é o discurso da presidente do Fed, Janet Yellen, na quinta-feira. Hoje é a vez do presidente da distrital de Chicago, Charles Evans (14h10), que têm direito a voto.

Outros membros votantes discursam nos próximos dias e o tom de cada um deve realçar a disputa entre "pombos" ("doves") e falcões ("hawks") na condução da política monetária dos Estados Unidos, mas sem desconstruir o cenário de novos apertos no custo do empréstimo no país. À espera de um novo gatilho, os mercados internacionais fazem uma pausa no rali recente e reavaliam o cenário.

Os investidores ainda digerem o comunicado do G-20, que destacou a relevância das relações comerciais, mas omitiu um compromisso de resistir a todas as formas de protecionismo. Após os encontros realizados no fim de semana, na Alemanha, os líderes das 20 maiores economias do mundo quase não chegaram a um denominador comum para apresentar no texto, deixando dúvidas sobre se um comunicado final seria mesmo publicado.

Diante dessa falta de consenso sobre as práticas adotadas para a compra e venda de produtos nos mercados interno e externo, no Brasil e no mundo, os investidores refreiam o otimismo. O fôlego de alta do dólar perde força, assim como os ganhos acelerados entre as ações, dando sinais de que o rali após a eleição do presidente norte-americano, Donald Trump, se esvaiu.

As bolsas europeias recuam nesta manhã, penalizadas pelo sinal negativo nos índices futuros em Wall Street. Na Ásia, apenas a China teve ganhos. O petróleo recua pelo nono dia em 11 sessões, mas as moedas de países emergentes avançam, com o won sul-coreano liderando a alta, na companhia no baht tailandês.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações