Caso Evergrande: Deus Abençoa Uniformemente

 | 21.09.2021 12:50

Quando o Brasil dá sinais internos de melhora, vem o cenário internacional e dá uma tacada nos emergentes.

Já deve ser do conhecimento do leitor a insolvência da gigante Evergrande (OTC:EGRNY), incorporadora chinesa que fatura dezenas de bilhões de dólares e está tão alavancada (a dívida representa mais de 9 vezes o Ebitda dos últimos 12 meses) que está pagando seus credores com propriedades – algumas, inclusive, ainda em construção.

O temor relacionado às consequências sistêmicas da quebra de uma incorporadora tão grande pesou sobre os mercados, provocando uma queda de praticamente todas as classes de ativos de risco. Ontem, praticamente só o ouro e o dólar, os portos seguros do investidor receoso, subiram. Esses ativos tiveram altas de, respectivamente, 0,6% e 0,7%. Por outro lado, o Nasdaq, o Ibovespa e o bitcoin sangraram 2%, 4% e 9%, respectivamente.

A insolvência da Evergrande tem consequências sistêmicas, sim, mas elas não são tão nefastas como aquelas decorrentes da quebra de um banco, paralelo que tem sido feito pelo mercado — “Evergrande é o novo Lehman Brothers”. Não é, guardemos as devidas proporções.

A quebra de uma incorporadora não faz com que correntistas percam seu dinheiro de forma generalizada, consequência do que seria o fenômeno conhecido como “corrida aos bancos”. O episódio também não causa uma seca generalizada de crédito, com bancos sem captação nem apetite suficiente para emprestar. Os efeitos do caso, ao que tudo indica, são mais setoriais do que generalizados.

O efeito de primeira ordem, claro, é a inadimplência que os credores da empresa sofrerão — os credores são, principalmente, bancos chineses, e o valor dos empréstimos da companhia representa menos de 0,5% do crédito do sistema bancário. Então, ao que tudo indica, apenas os credores diretos serão duramente impactados.

A crise de liquidez da companhia foi causada por uma alavancagem excessiva, mas cujas consequências foram acentuadas por regras do governo chinês que: i) limitam a própria alavancagem permitida, o que impede a rolagem das dívidas; e ii) restringem o quanto bancos podem emprestar para o setor de incorporação, o que também dificulta a rolagem. Isso pode ter causado uma espremida de liquidez sobre o setor.

Então, se muito, a insolvência da Evergrande pode ser a ponta do iceberg de todo um setor de construção chinês, mas não muito mais do que isso. Tenho dificuldades em enxergar uma relação disso com empresas de tecnologia americanas, por exemplo, falando de economia real.

Assumindo um problema setorial, então, o efeito de segunda ordem seria uma redução de demanda pelos insumos do setor de construção. Por isso, o minério de ferro à vista furou, pela primeira vez em 15 meses, o piso de US$ 100 por tonelada. Lembremos que a China é o maior comprador global dessa commodity. Por isso, o susto. Vale notar, também, que o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de commodities, minério inclusive. Também por isso, o susto no Ibovespa ontem, dado o peso dessa commodity no índice.

Justo quando a carta do Meu Malvado Favorito começava a reverter o humor do mercado brasileiro. A vacinação está avançando, a Covid-19 parece estar sob controle por aqui. Diversos países abriram suas fronteiras para os brasileiros, como Portugal e Estados Unidos. O tráfego aéreo de passageiros já supera os níveis de 2019, assim como as tarifas. A dívida/PIB está em excelentes níveis históricos. O Banco Central está com pulso firme sobre a inflação.

Daí, somos atingidos por essa bala perdida de um tiroteio que nunca causamos.

Uma demonstração perfeita do dito que “Deus abençoa uniformemente”, colocando um pouco aqui, tirando outro teco dali. Nunca é um mar de rosas; mas também não é uma tragédia por completo. Frequentemente, o investidor se encontra em meio a um emaranhado de vetores que apontam em direções opostas. A nós cabe posicionar-nos o mais favoravelmente possível.

Nossa recomendação é acompanhar os investidores globais na busca por solidez. Tenha moedas fortes e metais preciosos na sua carteira. Essas proteções devem ser perenes no seu portfólio, e ter um peso um pouco maior em períodos de incerteza, como o que vivemos agora.

Deus abençoa uniformemente.

Um abraço,
Larissa

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações