Cenário Político é Defensivo

 | 13.09.2021 08:47

Nem a mudança de tom do presidente, divulgando uma “Carta à Nação”, respeitando os poderes, parece ter sido suficiente para tirar o mercado de uma postura mais cautelosa e defensiva. A desconfiança maior recai sobre a duração desta trégua, na relação do presidente com o STF. Neste contexto, como ficam as pautas econômicas? As manifestações do dia 12, da oposição, sem PT, se mostraram um fiasco. O PT, em cima da hora, resolveu não participar, pois sabiam que estas seriam um fiasco.

Na semana passada, o mercado fechou em baixa. A bolsa de valores encerrou a semana recuando 2,3%, e o dólar em alta (+1,6%, R$ 5,26). No mercado de juro, as taxas curtas e médias recuaram um pouco, mas as longas operaram em alta. A justificar a queda nas curtas, as vendas de varejo acima do esperado e algum desanuviamento de ambiente. É de se esperar, no entanto, no Copom deste mês, uma “puxada” mais forte da Selic, acima de 1 ponto percentual, talvez a 6,5%, atualmente em 5,25%, pelas pressões inflacionárias e a “desancoragem das expectativas”.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, segue na sua cruzada pelo avanço da agenda econômica no Congresso. Duas pautas o mobilizam: o debate em torno dos precatórios e a obtenção de recursos para “tocar” os “Auxílio Brasil”. Já parece consenso os R$ 300 por família, faltando agora a obtenção de recursos. Na semana, Guedes e equipe se reúnem com Arthur Lira, Rodrigo Pacheco e Luiz Fux para tratar desta agenda. Por outro lado, Guedes reconhece que a inflação se encontra num patamar acima do esperado. Na semana passada, o IPCA veio mais alto, em 12 meses a 9,68%, impactado pela “bandeira da crise hídrica” e os reajustes de alimentos e combustíveis.

Por outro lado, uma boa notícia veio das vendas do varejo de julho, avançando 1,2%, recorde para a série histórica. Foi o quarto mês seguido de alta. No ano, as vendas acumulam 6,6% e em 12 meses 5,9%. Estejamos atentos, no entanto, à inflação ascendente, que tende a corroer o poder de compra dos consumidores.

Retornando à arena política, é importante uma leitura mais isenta sobre o “recuo” do presidente Bolsonaro nos embates com os ministros do STF. Sem dúvida que foi um recuo estratégico, até pela sua sobrevivência, visto que se não agisse desta forma, estaria estimulando o STF a ir em frente nas pressões sobre o Congresso para o pedido de impeachment. Há uma ilusão de que ele deve mudar de foco, com a ajuda do ex-presidente Michel Temer. Será que isso se confirma? Poucos acreditam nesta tese. Nesta semana saberemos melhor.

Por outro lado, como disse Paulo Guedes, sua pauta está na mesa, principalmente, pelas negociações sobre os precatórios, o que permitirá amealhar recursos para o “Auxílio Brasil”. A reforma tributária, de Arthur Lira, por enquanto, está em cima do telhado.

EUA/h2

Os democratas se mobilizam para sustentar seus faraônicos programas de estímulo econômico. Devem propor no Congresso um aumento de alíquota de imposto corporativo a 26,5%. Proposta é elevar a taxa de negócios, atualmente, de21%, para algo em torno de 26% a 28%. O problema é que esta pesada taxação sobre as empresas devem inibir novos investimentos. Como fica? Inflação na veia, dado um salto do consumo, diante de uma capacidade produtiva limitada? Com a palavra os luminares do Congresso em Washington DC.

Mercados/h2

Os mercados asiáticos não se mostram robustos neste início de semana, diante da perspectiva de um crescimento mais lento da economia global, por mais uma onda da pandemia . Nos EUA, as ações recuaram na semana passada, no maio recuo desde junho, devido à cautela dos investidores sobre os desafios da reabertura econômica, com a cepa Delta.

No Brasil, o mercado fechou a semana passada ainda na defensiva, desconfiado por esta mudança de postura do presidente. É a segunda semana negativa seguida para o índice da bolsa paulistano, ainda mais depois da sessão do dia 08. Na semana, o Ibovespa recua 2,3%, perdendo 3,8% no mês e quase 4,0% no ano. Na sexta-feira, recuou 0,93%, a 114.285 pontos. Já o dólar fechou o dia em alta ante o real, +0,76%, a R$ 5,267.

O que se tem de evidência é que o ingresso de recursos externos à bolsa paulistana perde ímpeto, dado o clima político institucional. No dia 09 de setembro, foram R$ 643 milhões de retiradas de recursos externos da B3 (SA:B3SA3). Ver figura a seguir.