Cogna (COGN3): O pior já passou? Um olhar sóbrio do case

 | 28.09.2023 13:09

Antes de adentrar no case e nos dias atuais, EU NECESSITO, recapitular algumas coisas que eu acompanhei com vocês. Eu olho a empresa desde 2019, quando ela ainda se chamava Kroton.

Essa é uma companhia polemica. Polemica porque, infelizmente, um grupo de pessoas a um certo tempo atrás fez muita propaganda em cima dela, desde resultados até o IPO da Vasta (um dos braços dela).

A companhia teve culpa, pois, na época também ficou inflando junto com outras pessoas que ela iria conseguir entregar o plano de crescimento, que estava tudo bem com as evasões de alunos, que o IPO e a Vasta iam ser o novo caminho, que iam destravar valor etc. Nada disso se materializou, a companhia não foi transparente e o problema com sua base mais o modelo de negócio eram muito piores.

Depois desses acontecimentos, o papel só performou para baixo e acabou por machucar muitos investidores. Muitos perderam a confiança na companhia, na tese e no modelo de negócio.

Quando veio o IPO da Vasta, não foi nada como muitos que estavam acompanhando na época esperavam e tudo começou a desandar para a companhia. A partir deste momento, com a própria Cogna (BVMF:COGN3) mesmo queimando sua própria credibilidade, eu decidir por não cobrir ela mais (que foi no final de julho/2020).

Ela já vinha com dificuldades operacionais, o PDD (provisão de devedores) aumentando, o fim do FIES estava machucando-a e o PEP (programa de financiamento de cursos da companhia não era bom o suficiente para suprir o fim do FIES). Soma-se a isso tudo, o fato que ela estava com uma estrutura muito inchada (muitos campis, muitos cursos não rendendo para ela, muita evasão de alunos) e logo mais, veio a pandemia como cereja do bolo. Foi a tempestade perfeita.

A companhia já vinha passando por uma tentativa de “arrumação de casa” e os últimos 3 anos serviram mais para isso mesmo. Passados aí esse tempo, achei que era um momento de revisitar o case e comentar de forma sóbria sobre ele.

Espero que muitos que venham ler esta análise, venham de cabeça aberta, muita coisa mudou e parece que mercado vem percebendo. Até o momento em que escrevo, a companhia já acumula 23,4% de alta no de 2023.

Sem mais delongas, vou deixar os links das 4 análises que eu fiz na época em que eu escrevia sobre a Cogna. Eu era muito honesto em relação ao que via da companhia e sempre tentei tratar com muitos dados e muito embasamento para comentar sobre o case dela (dela e de qualquer outro que eu escrevi no Bugg).

Esses links podem situar o leitor melhor na evolução da companhia desde 2019 até os dias de hoje. Para quem já entende e leu sobre como a companhia funciona, nascimento da marca Cogna como holding, o IPO da Vasta e o turnaround, sugiro já pular para o texto.

Link abaixo:

 

VOLTANDO AONDE EU PAREI

A companhia passou por muita coisa nos últimos 5-6 anos. Já puxando o gancho de onde eu parei, em 2021 mesmo num período de pandemia, a companhia fez uma aquisição. A Vasta (um dos seus braços, uma plataforma B2B para educação básica) fez a aquisição dos sistemas de ensino Eleva.

Essa transação contou com uma venda da operação de escolas da Saber para o Eleva, permitindo que a Cogna voltasse seus esforços para negócios com menor demanda de capital imobilizado e maior potencial de crescimento/rentabilidade.

Achei interessante a aquisição, compraram a 16,6x EBITDA, nada barato. Mas venderam 51 colégios para levantar R$964 milhões (a transação para compra era de R$580 milhões), com múltiplo de 16,3x EBITDA, nada mal também para a venda.

Mas o que me chamou a atenção, é que uma parte do dinheiro levantado iria para quitar a transação em 5 anos e o restante seria convertido em debentures conversíveis em ações da Eleva, pois a intenção da Cogna era o capital da companhia (IPO).

Como vocês já sabem, esse plano do IPO da Eleva ainda não saiu do papel, muito por conta do ambiente interno e dos juros que ainda estão nos dois dígitos. Lembrando pessoal, o setor tem como características essas aquisições. Foram anos de aquisições, faz parte do setor mesmo.

Todavia, é um movimento curioso. A companhia fez a aquisição e logo depois correu para renegociar os covenants da sua dívida. A pandemia estava pressionando-a cada vez mais (ainda mais com os lockdowns), mas em maio de 2021, ela conseguiu renegociar e trouxe a dívida líquida/EBITDA para abaixo de 3x (que era o estipulado nas suas debêntures).

Enfim, deu tudo certo neste período e já em 2022, no segundo semestre, ela realizou carve-out societário (termo feio, eu sei, mas basicamente é uma estratégia de M&A, onde ela separa uma empresa e suas operações como uma entidade independente) e criou a Kroton Med, com o objetivo de trazer maior visibilidade e relevância vertical.

Eu achei isso excelente. Eu já havia batido nesta tecla com Ânima e eu até acho que a Cogna demorou para perceber isso. Mas os cursos de medicinas, são mega lucrativos, possuem uma baixíssima evasão e tem margem muito maior.

Sem contar que existe toda uma tese de envelhecimento populacional que permite com que os cursos de medicina sejam necessários por muitos anos ainda. Segundo a Demografia Médica, o número de médicos no Brasil aumentou de 364,7 mil para 451,7 mil de 2010 a 2017, representando um aumento de quase 24%.