CPI da Covid em Destaque

 | 08.07.2021 08:53

No Brasil, a CPI da Covid “pegou fogo”, depois que o presidente da comissão, Omar Aziz, determinou a prisão do ex-diretor do ministério da Saúde, Roberto Dias, por faltar com a verdade. O problema é que ele não é o primeiro, nem será o último. Talvez tenha sido a “ponta mais fraca” ou a “ponta do Iceberg”. 

“Ponta mais fraca”, visto que ele já havia sido demitido do ministério, sob acusação de cobrar a propina de US$ 1 por dose para a compra da AstraZeneca (NASDAQ:AZN) (SA:A1ZN34) num encontro informal entre diretores e intermediários. Ou “ponta do Iceberg”, com ele ingressando em delação premiada ou “colocando no ventilador”. 

Ao nosso entender, acabou ele como “boi de piranha” de toda esta confusão. Talvez queira o governo fazer crer que foi um ato isolado do funcionário. Não sabemos ainda. 

Interessante que em seguida as Forças Armadas “soltaram” um comunicado, condenando este “ato arbitrário”. Estranho que os militares tenham tomado as dores do ex-funcionário. O que temos, por enquanto, são acusações mútuas entre os participantes da CPI, entre pedidos de propina e nas ações do deputado Ricardo Barros, no superfaturamento para a compra da Covaxin indiana, sem esquecer as diversas sinalizações contraditórias na defesa do tratamento precoce (ultrapassado) e no atraso das negociações para a compra de vacinas. 

A impressão que se tem é que o senador Omar Aziz optou pela estratégia da coação contra o depoente, pressionando-o a começar a abrir a boca e talvez entregar um esquema maior de “propinagem” no Ministério da Saúde. 

No Congresso, em depoimento, Paulo Guedes voltou a defender com afinco as reformas tributária e administrativa, falando da necessidade de corte de parte dos R$ 40 bilhões, hoje existentes em subsídios e regimes especiais para setores da indústria. 

Ele até aceita a redução do Imposto de Renda sobre as empresas (IRPJ) e da taxação sobre ganhos com dividendos, desde que encontremos fontes para compensar esta perda de receita. Daí aventar o corte de subsídios. Comenta-se que haveria um volume de “gordura” próximo a R$ 30 bilhões a ser cortado. Nestes recursos estariam a retirada do subsídio para xarope de refrigerante, na Zona Franca de Manaus, e do Regime Especial para a Indústria Química (REIQ). 

Ainda sobre a reforma tributária, se antes a redução do Imposto de Renda sobre empresas poderia ser de 5 pontos, de 25% para 20%, agora já se fala em 10 pontos, a 15% em 2023. Na taxação sobre ganhos com dividendos já se aceita redução de 20% para 15%, desde que havendo esta fonte de recursos que compensem a perda de receita. Esta proposta, aliás, não é nenhum absurdo. Estudos da OCDE indicam que a taxação sobre ganhos de dividendo, entre os países desenvolvidos, varia de 20% a 40%. 

Um tema que também vai sendo tratado é a privatização dos Correios. Pelas reações dos sindicatos e de vários partidos de oposição, não será uma tarefa fácil, até porque o desgaste do governo “cobra o seu preço”. 

Nos EUA, a ata do FOMC acabou, mais uma vez, em anticlímax, sem grandes novidades. 

A autoridade monetária americana até reconhece a existência de pressões inflacionárias, mas segue considerando-as “temporárias”, reflexo da reabertura da economia, achando ainda haver muita incerteza no cenário para uma decisão de retirada dos estímulos. 

Segundo a ata, a liquidez abundante e os juros próximos de zero ainda devem se manter por alguns meses. O nível de atividade econômica nos EUA ainda está distante do ideal para o Fed reduzir os estímulos monetários. Isso só acontecerá quando notarem “a substantial further progress” (“uma melhora adicional substancial”) no nível de atividade. 

O Fed “PREVÊ” que a primeira alta da taxa de juros só deve acontecer no 3º trimestre de 2023 e que as compras de ativos continuarão no ritmo atual até o 4º trimestre de 2022. Há diretores, no entanto, que acham que isso pode acontecer antes. 

Na verdade, dois pontos seguem como discórdia entre os membros do FOMC: um, a transitoriedade da inflação, outro, de que o juro de curto prazo contribui para a alta nos preços dos imóveis, o que pode ser um risco mais a frente. Desde o início da pandemia, o S&P Case-Shiller já subiu mais de 16%. 

Esta postura do Fed, no entanto, acabou suficiente para estimular os mercados em NY, em novos recordes, mesmo num ambiente ainda de transição com a pandemia a preocupar pelo avanço da nova Cepa indiana. Decorrente disso, o dólar e o ouro se fortaleceram, indicando uma maior busca por proteção ou “aversão ao risco”. Ontem, o índice DXY subiu 0,18% e o ouro 0,5%.   

No Brasil, o Ibovespa acompanhou esta melhora de astral no mercado, com os investidores aproveitando as “barganhas”, pelas quedas nos últimos dias, indo às compras. 

O Ibovespa recuperou parte das perdas da semana e fechou o dia a 127.018 pontos, avançando 1,54%, e o dólar, em alta de 0,6%, a R$ 5,24. Um fato interessante é que estes ruídos políticos estão esvaziando um pouco a bolsa de valores doméstica. No mês, até o dia 05 de julho, o saldo dos estrangeiros é negativo em R$ 222,9 milhões, mesmo que no ano seja positivo em R$ 47,8 bilhões.