Cresce Lista de Focos de Tensão

 | 06.12.2018 09:17

A lista de focos de tensão acompanhados pelo mercado financeiro tende a continuar impedindo um rali de fim de ano nesta reta final de 2018, redobrando a dose de volatilidade dos negócios e elevando a postura defensiva dos investidores em relação ao ativos de risco. E hoje essa lista ganhou um item a mais.

A prisão de um funcionário de alto escalão da chinesa Huawei no Canadá pode atrapalhar o progresso nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China. As autoridades canadenses prenderam no sábado a diretora financeira da fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações, Meng Wanzhou, por supostamente violar as sanções contra o Irã.

A detenção foi feita em nome do governo dos EUA - para onde ela deve ser extraditada - mas a notícia só foi divulgada ontem à noite (manhã na China). Em reação, as principais bolsas asiáticas fecharam em queda, com perdas de quase 3% em Hong Kong, enquanto Xangai e Tóquio cederam mais de 1,5%. As ações do setor de tecnologia lideraram a baixa.

O impacto da prisão é grande porque Washington está tentando persuadir os países aliados a pararem de usar equipamentos da Huawei devido a temores de segurança tecnológica. Além disso, Meng é filha do fundador da gigante de telecomunicações, tida como uma das “empresas de estimação do governo chinês”.

Há, portanto, o risco de a China retaliar, interrompendo a trégua comercial com os EUA, que foi selada no mesmo dia da prisão de Meng. Por ora, Pequim reagiu apenas com indignação, exigindo que os dois países libertem a diretora financeira imediatamente. Para o governo chinês, a prisão da executiva é sem precedentes.

Em Nova York, os índices futuros das bolsas exibem queda acelerada, de mais de 1%, sendo que o CME Group acionou dispositivos de circuit breaker, de modo a evitar perdas maiores, interrompendo as negociações por causa da intensa volatilidade. As principais bolsas europeias também caminham para uma abertura no vermelho.

Nos demais mercados, o barril do petróleo tipo WTI caía a US$ 52, enquanto o do Brent era cotado na faixa de US$ 61, em meio à espera pela reunião do cartel de países produtores de petróleo (Opep) para decidir sobre cortes na produção da commodity. O dólar mede terreno em relação às moedas rivais, mas ganha força em relação às de países emergentes.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Os investidores reagem também aos demais itens da lista de preocupação, a começar pela frágil trégua comercial entre EUA e China, que se soma ao problema geopolítico da Casa Branca com Moscou sobre a questão nuclear. A lista também inclui os temores de desaceleração econômica global, surgidos após a inversão da curva de juros norte-americana.

O fenômeno, que não acontecia desde 2007, sempre antecedeu períodos de recessão da economia dos EUA. Porém, o comportamento dos títulos norte-americanos, com a redução do diferencial no rendimento (yield) entre os papéis de longo prazo e os de curto prazo, pode estar simplesmente atrelado ao fim do ciclo de alta dos juros pelo Federal Reserve e aos efeitos defasados da política monetária.

Seja como for, um item vai se somando ao outro e vai minando o apetite por ativos de risco, praticamente minando as chances de um rali de fim de ano. Com isso, a tendência para o mercado financeiro brasileiro é de que o dólar encerre 2018 mais próximo da faixa entre R$ 3,80 e R$ 3,85 do que da marca de R$ 3,70, enquanto o Ibovespa não deve alcançar os 90 mil pontos.

Por aqui, o noticiário político local tampouco está animador. Apesar do apoio do PSDB e do PR ao governo Bolsonaro, com os tucanos apoiando pautas comuns à própria agenda, a sugestão do presidente eleito de “fatiar” a reforma da Previdência desagradou. Afinal, os investidores esperam pela aprovação de novas regras para a aposentadoria ainda no primeiro ano de mandato, com uma proposta ambiciosa - e não mitigada.

Da mesma forma, também foi visto como um fator complicador a desistência da equipe econômica em chegar a um acordo com o governo atual sobre a distribuição de recursos oriundos do megaleilão das áreas do pré-sal, em meio ao embate no Senado sobre a votação do projeto de lei da cessão onerosa. Isso sem falar na abertura de inquérito contra o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Tais notícias elevaram a cautela do investidor quanto à aprovação de medidas no Congresso essenciais para combater o rombo das contas públicas a partir do próximo ano. O maior temor é de que a governabilidade de Jair Bolsonaro seja colocada em xeque, frustrando a tentativa de sanar o déficit fiscal e de colocar a economia brasileira na trajetória de um crescimento sustentável.

Por ora, o mercado financeiro brasileiro continua dando o benefício da dúvida ao governo eleito, apostando que Bolsonaro e sua equipe econômica, comandada por Paulo Guedes, irão entregar um ajuste fiscal crível e que conseguirá avançar com a agenda de reformas. Espera-se que quando assumir, o discurso pare de ‘achismos’ e parta para o pragmatismo.

Na agenda econômica do dia, o calendário esvaziado no Brasil nesta quinta-feira compensa a bateria de indicadores previstos nos EUA. A começar pelos dados que estavam programados para ontem e foram adiados para hoje: geração de emprego no setor privado (11h15); custo da mão de obra e produtividade no trimestre passado (11h30); atividade no setor de serviços (12h45 e 13) em novembro; estoques semanais de petróleo (13h30) e o Livro Bege (17h).

Também serão conhecidos hoje os pedidos semanais de auxílio-desemprego e o resultado da balança comercial em outubro, ambos às 11h30, além das encomendas às fábricas em outubro (15h). Ainda no exterior, merece atenção a reunião da Opep, em Viena, que deve selar um corte na produção de petróleo, em uma decisão a ser liderada por Arábia Saudita e Rússia.

Olivia Bulla

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações