Criptomoedas Oferecem Valor Após Queda ou Teremos Mais Carnificina pela Frente?

Fonte: Barchart

O gráfico do Bitcoin exibe o mesmo padrão. O suporte técnico crítico da criptomoeda líder está em torno de US$28.900 por token para manter seu padrão altista intacto. Como, no momento em que escrevo, ele está sendo negociado ao nível de US$37.000, o preço continua significativamente acima daquela posição

Mas, no longo prazo, o Bitcoin e Ethereum já registraram muitos movimentos explosivos e implosivos, levando, ao final, a novas máximas recordes. Não importa quão aterrorizante seja, aproveitar a fraqueza dos preços para comprar tem sido uma boa estratégia na classe de ativos.

Embora o colega de Charlie Munger, Warren Buffett, não goste das criptos, já que as chamou de “veneno de rato financeiro ao quadrado”, sua dica de investimento para todos os mercados reflete o padrão de negociação nas criptomoedas. O Oráculo de Omaha disse certa vez que era sensato que os investidores fossem cautelosos diante da ganância dos outros, bem como gananciosos diante do pavor dos outros. No início de fevereiro de 2022, o sentimento no mercado de criptomoedas ainda era de pavor.

O atrativo ideológico das criptomoedas é que elas são meios de troca, mas não moedas fiduciárias. O dólar, euro, libra, iene, iuane chinês e outras moedas do sistema financeiro mundial derivam seu valor da fé e do crédito dos governos que as emitem. Os governos manipulam os mercados cambiais para atingir a estabilidade.

Acompanhar os mercados monetários é uma miragem, uma vez que o mercado tende a medir o valor de uma moeda contra a outra. A moeda americana está disparando, com o Índice Dólar atingindo seu nível mais alto desde julho de 2020 na semana passada. A perspectiva de alta de juros nos EUA elevou o valor do dólar contra outras moedas mundiais, haja vista que os diferenciais de juros são o fator primário no caminho de menor resistência para os valores do câmbio internacional.

Mas, ao medirmos o valor da divisa dos EUA e de outras moedas fiduciárias contra o de outros ativos, temos um cenário distinto. A inundação de liquidez dos bancos centrais e o enorme volume de estímulos fiscais dos governos durante a pandemia global acenderam um pavio inflacionário que erode o valor de todas as moedas fiduciárias. A alternativa à perda de fé e crédito dos governos está nas criptomoedas.

Sua ascensão nos últimos anos é um barômetro da queda da confiança e da deterioração do crédito. Os valores das criptos advêm unicamente da atividade de compra e venda no mercado, sem a interferência de bancos centrais ou governos. Sua ideologia reflete a orientação política libertária. Com a desvalorização das moedas fiduciárias, a proposta de valor das criptos melhora.

De quando em quando ocorre uma implosão nas criptomoedas. A questão ideológica que lhes dá suporte também é um fator que pode levar à sua desgraça.

Os governos ao redor do mundo controlam os cidadãos através de leis aplicadas pelas forças armadas e autoridades locais. Eles também controlam a oferta monetária.

Qualquer pai ou mãe sabe que a melhor forma de monitorar e controlar um adolescente é através do dinheiro. Os governos operam de maneira similar, já que controlam o orçamento via oferta monetária, elemento crucial do seu poder. As criptos desafiam esse poder.

China e Rússia não gostam nada das criptomoedas e proibiram a negociação e o investimento nessa classe de ativos. No entanto, o governo chinês abraça a tecnologia blockchain e está nos estágios finais da implementação do seu iuane digital.

Os governos dos EUA e UE, por outro lado, movem-se a passos de tartaruga. As autoridades governamentais e dos bancos centrais em Washington e Frankfurt continuam expressando preocupação com os usos ilegais das criptos e os riscos “sistêmicos” que possam representar. Sua verdadeira preocupação, no entanto, é que as criptomoedas desafiem seu controle sobre a oferta monetária.

Os governos lentamente irão implementar suas moedas digitais, enquanto aumenta a regulação das criptos. Como bem disse o gestor de fundos de hedge Ray Dalio, os governos têm o poder de “matar” as criptos.

As criptomoedas estão enfrentando uma fase de medo, depois de terem perdido metade do seu valor desde o pico de 10 de novembro, auge do mais recente frenesi especulativo. Um dos riscos que o criptomercado enfrenta no início de fevereiro é a possível continuação das vendas no mercado acionário dos EUA e em outras classes de ativos.

Diante do aperto da política monetária do Federal Reserve e das tensões geopolíticas, o mercado acionário tombou. A possibilidade de uma severa correção pode fazer as criptos despencarem.

As tendências de alta e de baixa geralmente fazem os preços atingirem níveis que desafiam a análise lógica e racional. O aumento da aversão ao risco faz com que a carnificina aumente com os especuladores encerrando suas posições mais arriscadas e buscando o refúgio de ativos como o dólar, os títulos soberanos e outras reservas de valor.

A revolução da tecnologia financeira continuará desafiando o status quo nas finanças, mesmo com governos, bancos centrais e instituições financeiras atrás da curva. Ainda que as criptomoedas possam se tornar uma força motivacional para que abracem a revolução, sua base ideológica, que rejeita o poder governamental, é uma fonte constante de tensão.

Eu encaro as criptomoedas como um barômetro da fé e confiança dos investidores nos governos. O Bitcoin pode ter perdido metade do seu valor desde 10 de novembro, mas, ao nível de US$37.000 por token, está a anos luz de distância dos cinco centavos com que era negociado há quase doze anos.

Valor ou carnificina é uma decisão pessoal dos participantes do mercado. Os padrões históricos de negociação sugerem que, nos preços atuais, as criptos oferecem valor. Ironicamente, o medo de uma carnificina também pode ajudar a impulsionar a recuperação dos tokens digitais, se os preços caírem ainda mais, fornecendo valor adicional para os entusiastas das criptos.

Escrito por: Andy Hecht