Crise Energética no Radar

 | 30.09.2021 09:37

Quarta-feira foi dia de recuperação técnica, mas segue no radar o impasse sobre temas diversos como o teto da dívida e a inflação e perspectiva de aperto monetário já em novembro nos EUA. No Brasil, alguns indicadores favoráveis deram um “gás ao mercado”, mas as preocupações seguem no radar, como inflação ainda elevada e a agenda de reformas parada. Mercado espera o desenrolar dos precatórios, do Auxílio Brasil e da reforma do IR. 

  1. Ata do Copom. O Bacen indicou que pretende seguir com o atual ritmo de elevação da Selic, em 1 ponto percentual, ajustando o tamanho do aperto monetário, levando a Selic a um patamar “significativamente contracionista”. O que isso quer dizer? Quer dizer que tudo fará para trazer a inflação do IPCA, no ano que vem, para próxima do centro da meta de 3,5%. 

  2. Debate em torno do preço do combustível. Em mais um esforço para desviar o foco de temas urgentes, Bolsonaro colocou na berlinda o preço do combustível e a necessidade de “fixar um valor para o ICMS”, diferenciado em 27 estados. Isso, claro, passa por um debate mais amplo, da reforma tributária e a mudança deste imposto, à nível nacional. Mais um embate entre governadores e a União. 

  3. Teto da dívida nos EUA. Enquanto o líder dos Democratas no Senado sinaliza um acordo para evitar o shutdown, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, Democrata, afirma que o Senado enviará um projeto provisório de financiamento à Câmara nesta quinta-feira, embora descartando a reconciliação para o teto da dívida agora, mais mobilizada nas negociações do projeto de infraestrutura. Alguns senadores, no entanto, esperam que ela cancele esta votação, por acreditarem não haver voto suficiente para sua aprovação. Neste impasse, muitos acham que os EUA podem ter um shutdown prolongado, o que pode interromper nos pagamentos federais a entidades públicas e privadas e complicar na formulação de políticas. O prazo para o financiamento termina amanhã, dia 01/10, e a única hipótese é um projeto provisório da presidente da Câmara, Nancy Pelosi.  

  4. Jerome Powell, do Fed, no Congresso. O presidente do Fed considera haver progressos para o tapering em breve, mas a elevação do juro se encontra distante. Segundo ele, a atual inflação é resultado de demanda robusta e restrições de oferta. Acha que ela deve ficar bem acima da meta nos próximos meses. Já o presidente do Fed Filadélfia, Patrick Harker, apoia o início do tapering em novembro e a conclusão ao fim de 2022. Suas projeções indicam crescimento do PIB de 6,5% neste ano e 3,5% em 2022; e inflação a 4% neste ano e recuando a 2% em 2022. 

  5. Já Christine Lagarde, do BCE, acha que a economia europeia deve atingir o patamar anterior à pandemia no final deste ano. As incertezas se reduziram, mas ainda estão no horizonte. Acha que os gargalos desta retomada, com a falta de insumos nas cadeias produtivas, devem sumir no primeiro semestre de 2022. Disse também que não há porque duvidar que os preços elevados atuais sejam temporários e que as expectativas estejam bem ancoradas. 

  6. Congresso Nacional. Um tema em discussão diz respeito ao imbróglio dos precatórios. Para Bruno Funchal, do Tesouro, é preciso compatibilizar as despesas com o teto dos gastos. “Não temos problema de capacidade de pagamento, mas de honrar dívidas”.

  7. Choques no fornecimento de energia. Tudo leva a crer que a retomada da economia global será prejudicada pelos “choques no fornecimento de energia”, que abalam, em especial, a China. Isso deve se confirmar pelo preço do gás natural, como verificamos no gráfico abaixo. De agosto até este momento, sua alta é de 119% na Alemanha, 149% na França e 300% no Reino Unido. Na Europa, este choque do gás, na véspera do inverno, deve se refletir na energia elétrica. Suspeitas indicam que isso pode ter partido da Rússia, em negociação de preço, pós pandemia, sendo o principal fornecedor para a Europa (gasoduto Nord Stream). Em resposta, a Opep deve manter o plano de produção em novembro, apesar do preço do barril estar próximo a US$ 80. Especulações indicam que o cartel deve aumentar a produção para compensar este gargalo na oferta de gás natural. 

Dois fatos explicam este cenário: 

(1) no curto prazo, a pandemia, que causou queda considerável no consumo e logo, na oferta de energia; e a retomada muito rápida do consumo, com o “sucesso das vacinas”. Na produção de petróleo, há uma inercia operacional na retomada. Isso nos leva a acreditar que os preços devem se manter elevados por mais algum tempo. Além disso, a parada abrupta adiou novos investimentos, cuja retomada dependerá da normalização da economia no médio prazo. Neste ambiente, tensões sociais acabam inevitáveis, como na França, com os “gillets jeunes”, e no Brasil, com os caminhoneiros, em ameaça crescente de greve; 

(2) outra explicação é um movimento de transição energética e adoção do ESG nas políticas de investimento das empresas, como resposta às mudanças climáticas. A busca por uma matriz energética mais limpa é intensa nos últimos anos, “demonizando” os combustíveis fosseis, dentre outros. Com isso, a oferta tem sido muito restrita. Chega-se à situação de que não pode óleo, carvão, combustível fóssil ou energia nuclear. Tudo isso leva a recear por um colapso, no curto prazo, no fornecimento de energia no mundo.