Cuidado, os Juros Negativos Podem Ser Uma Armadilha

 | 18.06.2020 06:50

Agora é oficial: temos uma nova mínima histórica para a taxa básica de juros brasileira, consolidando um importante cenário expansionista para o processo de retomada econômica. 

Mas, enquanto a demanda não vem por conta do forte receio de uma nova onda de contágio da covid-19, o juro real cai a 0,65% ao ano. Isso traz de volta o fantasma dos juros negativos, que, no meu entendimento, tem pouquíssimas chances de chegar por aqui e menos ainda de ser algo bom para economia ou para o investidor. 

As taxas negativas de juros começaram a aparecer no mundo em 2014, quando o Banco Central Europeu (BCE) implementou uma taxa negativa nos depósitos que os bancos lá mantinham. A ideia era que isso incentivasse os bancos a não deixarem o dinheiro parado (dado que isso se tornaria, efetivamente, um custo para eles) e o emprestassem, estimulando, assim, a economia e reduzindo o risco de deflação. Somente em 2016, o Banco Central do Japão, atual referência sobre o modelo, passou para o campo negativo dos juros. 

Perceba que a decisão extrema veio para fazer o dinheiro circular no mercado. Mas, no momento, os bancos centrais estão imprimindo dinheiro como se não houvesse amanhã. 

Como o assunto envolve uma série de fatores subjetivos, como a oferta do crédito pelos bancos privados, voltamos aos impactos no cenário histórico. O estoque de dívidas com taxas negativas aumentou nos últimos anos, passando a incluir até mesmo algumas dívidas corporativas. Isso, por sua vez, fez com que o saldo total desses ativos no mundo atingisse quase US$ 17 trilhões no final de 2019.