Lance Roberts | 29.09.2023 09:02
Muito provavelmente as expectativas do Federal Reserve de que conseguirá fazer um “pouso suave” são ilusórias. Analisamos esse cenário em um artigo recente, que mostrou o longo histórico das projeções de crescimento econômico do banco central americano. Para ser mais claro:
“No entanto, há um problema com as projeções do Fed. A instituição tem um longo histórico de previsões equivocadas. Acompanhamos o ponto médio das projeções do Fed desde 2011, e elas nunca se confirmaram. A tabela e o gráfico mostram que as projeções do Fed são sempre inerentemente excessivamente otimistas. Como ilustrado, em 2022, o Fed acreditava que o crescimento de 2022 seria próximo de 3%. Atualmente, essa previsão foi revisada para apenas 2,2%, e é provável que seja ainda menor até o final do ano.”
Conforme mencionamos, a perspectiva do Fed de um crescimento mais forte permitiu que eles mantivessem a possibilidade de um aumento na taxa de juros. Embora a perspectiva de mais aumentos de juros tenha inicialmente assustado os mercados de ações e títulos após o anúncio, como explicamos, isso se mostrou necessário para manter as expectativas sob controle.
“A decisão do Fed de projetar um último aumento de juros também tem o objetivo de evitar que os investidores se foquem imediatamente na próxima questão: quando o Fed vai reduzir os juros? O risco é que, assim que os investidores começarem a fazer essa questão, as expectativas de taxas cairão rapidamente e, assim, os juros de longo prazo diminuirão, proporcionando à economia um estímulo que o Fed ainda não quer conceder. Desde outubro do ano passado, o mercado vem esperando um corte de juros, contribuindo antecipadamente para os preços dos ativos. Naturalmente, preços mais altos dos ativos melhoram a confiança do consumidor, potencialmente mantendo as pressões inflacionárias elevadas. Manter aberta a possibilidade de um aumento de juros permite que o Federal Reserve tenha cartas na manga.”
Expectativas de “pouso suave” estão erradas?
“Na véspera das recessões em 1990, 2001 e 2007, muitos economistas de Wall Street afirmavam que os EUA estavam prestes a realizar um pouso suave, no qual os aumentos de juros controlariam a inflação sem causar uma recessão.” - Nick Timaros, WSJ
De forma parecida, a combinação de inflação em baixa e um mercado de trabalho em queda tem alimentado as esperanças de um “pouso suave” entre os economistas e dirigentes do Federal Reserve. No entanto, os pousos suaves são difíceis de alcançar, pois o Fed com frequência mantém os juros altos por muito tempo. O que acabamos vendo é a “quebra” de algum segmento financeiro, econômico ou ambos, levando a recessões e bear markets (mercados de baixa).
O Fed e a maioria dos economistas estavam errados em 2022 quando previram uma contração econômica. O crescimento da atividade, o mercado de trabalho e os gastos do consumidor se mostraram surpreendentemente resilientes, apesar do aumento das taxas de juros e da inflação alta. Grande parte desse crescimento ainda é sustentada pela enorme liquidez monetária que continua a fluir pela economia.
No entanto, com o reinício dos pagamentos dos empréstimos estudantis, a greve sindical no setor automotivo e preços ainda altos corroendo a poupança excedente dos consumidores, esse suporte está enfraquecendo. Outras métricas com histórico quase perfeito na previsão de recessões também sugerem que as aspirações de um “pouso suave” provavelmente estão erradas.
O índice antecedente de atividade econômica é um desses indicadores que não se deve ignorar. Como o nome indica, os dados são antecipatórios. Com uma leitura negativa por 17 meses seguidos, o alerta de recessão é bastante claro. Como mostrado, uma recessão sempre ocorreu quando o Fed aumentou os juros e a taxa de variação em 6 meses no Índice Antecedente de Atividade Econômica foi negativa em mais de 2%
Contudo, nosso próprio Índice Composto de Atividade Econômica, que inclui mais de 100 pontos de dados de indicadores antecedentes e atrasados, tanto quantitativos quanto qualitativos, confirma o alerta do índice econômico de alta frequência.
É importante ressaltar que, dado que sabemos que aumentos de juros afetam o crescimento econômico, não é surpreendente que quando a taxa de variação anual de juros sobe, o crescimento econômico caia. Dada a magnitude da atual taxa de variação de juros em uma economia altamente alavancada, a esperança de um “pouso suave” parece ser um cenário improvável.
Um indicador sugere que a recessão é mais provável na segunda metade de 2024.
De todos os indicadores econômicos que examinamos regularmente, um tem consistentemente antecedido recessões econômicas. Embora as esperanças de um “pouso suave” sejam altas, a inversão de várias curvas de juros sugere que essas esperanças estão equivocadas.
Como discutido anteriormente, a mídia frequentemente presume que “desta vez será diferente” em relação a esse fenômeno, porque uma recessão não ocorreu imediatamente após tal inversão. No entanto, essa abordagem tem duas falhas:
O National Bureau of Economic Research (NBER) é a entidade oficial que define as recessões nos EUA. A instituição espera revisões de dados oficiais antes de declarar oficialmente o início de uma recessão. Portanto, o NBER sempre fica de seis a doze meses atrasado na definição de uma recessão.
Não é a inversão da curva de juros que sinaliza a recessão. Ela é o “sinal de alerta”, ao passo que o fim da inversão marca o início da recessão, que o NBER reconhecerá posteriormente. Se você esperar pelo anúncio oficial do NBER para confirmar uma recessão, será tarde demais. Para ilustrar:
“Cada um desses pontos representa o pico do mercado ANTES do início de uma recessão. Em 9 de 10 casos, o S&P 500 atingiu seu pico e começou a cair antes do reconhecimento de uma recessão.”
Enquanto muitos analistas se concentram em uma única inversão de curva de juros, monitoramos e rastreamos dez diferentes diferenciais de juros que afetam várias áreas econômicas.
Atualmente, 90% dos diferenciais de juros que monitoramos, conforme mostrado abaixo, estão invertidos, o que historicamente é um dos melhores indicadores antecedentes de recessão. Contudo, mesmo assim, levou vários meses para que a economia entrasse, de fato, em um contexto recessivo.
Quando esses diferenciais de juros se tornam negativos e uma recessão não ocorre imediatamente, a mídia minimiza o risco. É por isso que, antes de recessões anteriores, havia esperanças de um “pouso suave”.
Como mostrado, uma recessão seguiu-se à inversão de 50% ou mais das curvas de juros rastreadas. Note que durante o “pouso suave” de 1995, as curvas de juros nunca se inverteram.
Devemos ressaltar que NÃO é a inversão das curvas de juros que indica o início de uma recessão. É quando as curvas de juros DEIXAM de se inverter que marca o início da recessão. Isso porque a queda dos juros de longo prazo coincide com a diminuição da atividade econômica.
Nesse ponto, as esperanças de um “pouso suave” darão lugar à realidade de um ambiente recessivo. A curva de juros está emitindo uma mensagem que os investidores não devem ignorar.
Além disso, os investidores tendem a se antecipar a eventos de grande magnitude nos mercados de risco. Naturalmente, a contração na liquidez contribui para a queda e, eventualmente, agrava a contração econômica.
Apesar de comentários em contrário, a curva de juros é um “indicador que antecipa” o que pode ocorrer na economia. Mas o Fed continua focado em dados econômicos que estão “atrasados” e sujeitos a revisões significativas.
Embora os consumidores possam continuar sustentando o crescimento econômico, o quadro mudará drasticamente quando ocorrerem perdas de emprego. À medida que as demissões em massa se acentuam, a psicologia muda rapidamente.
Não é aconselhável usar a curva de juros como uma ferramenta para acertar o timing do mercado. No entanto, ignorar completamente a mensagem que ela está transmitindo é igualmente imprudente. A história não tem sido sensível àqueles que procedem dessa forma.
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