Câmbio e Inflação

 | 11.06.2013 09:32

Não foi uma semana boa. Começou com o BACEN retirando as travas do IOF para investidores estrangeiros fazerem arbitragem em renda fixa (6% para zero) e terminou com o Standard & Poor´s colocando em perspectiva negativa a nota soberana do Brasil, ainda em grau de investimento, mas podendo ser reduzida em dois anos.

Na visão da S&P, o baixo crescimento da economia brasileira e a má qualidade da gestão fiscal contribuem para esta revisão. Realmente, estamos crescendo pouco e de maneira errada (modelo baseado no consumo), com os investimentos não decolando e o consumo das famílias mostrando perda de dinamismo diante do alto endividamento e a aceleração inflacionária. Para piorar, observa-se “vazamento de renda” na economia, pelo lado externo, com importações (+9%) crescendo mais do que exportações, estas impactadas pela baixa demanda da China (queda das commodities), e adiamento das importações de petróleo, além do aumento de despesas de viagens e de remessas de lucros e dividendos. Até maio, a balança comercial foi negativa em US$ 5,4 bilhões, contribuindo para o aumento do déficit em conta corrente, em torno de US$ 70 bilhões, próximo a 3% do PIB em 12 meses (até abril).

Pelo lado fiscal, o desempenho vem sendo sustentado mais por “gambiarras contábeis” do que por medidas concretas de ajuste, além das desonerações (numa visão de longo prazo, necessárias, mas impactando na arrecadação). Com isto, a meta fiscal para este ano segue revisada para baixo (ou “relativizada”), devendo ficar entre 1,7% e 2,1% do PIB, e não mais 3,1%, como antes firmado.

Claro que com o juro reduzido em 2012, o espaço para uma meta fiscal menor aumentou, já que a dívida líquida do setor público se manteve próxima a 35% do PIB, mesmo com o desempenho fiscal mais fraco, mas devemos ressaltar que com a revisão para cima da taxa de juros de curto prazo, diante das pressões inflacionárias recentes, esta folga deve mudar. Após a ata do COPOM, na semana passada, isto ficou bem claro, ao mostrar preocupação com a “inflação persistente e os mecanismos de perpetuação formais e informais”.

Sobre este tema, cabe lembrar, por outro lado, que o BACEN voltou a atuar de forma mais ortodoxa, mostrando uma postura “tempestiva” no combate à inflação, mas insuficiente para contrabalançar a leniência no front fiscal, com uma política mais frouxa e as chamadas “ações anticíclicas”. Ou seja, o governo segue “cobrindo um santo para despir outro”. Não mostra nenhuma coordenação no mix de políticas fiscal e monetária. O ideal seria adotar uma política fiscal mais austera, cortando gastos de custeio e estimulando investimentos, para não sobrecarregar a monetária, com o BACEN na sua luta contra os excessos da demanda agregada e a oferta insuficiente. Decorrente deste quadro de má gestão das políticas observa-se uma piora na dívida bruta federal, já próxima a 60% do PIB, por incorporar os excessos do Tesouro no financiamento, via BNDES, dos investimentos em infraestrutura e no consumo das famílias.

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Dito isto, pode-se afirmar que esta falta de coordenação de políticas vem contribuindo para a piora dos principais fundamentos da economia brasileira, provocando este reposicionamento dos investidores externos e impactos sobre o mercado e a taxa de câmbio. Em maio, o dólar se valorizou em torno de 7% contra o real, em muito dentro de um movimento global, devido à retomada da economia norte-americana e a perspectiva do desmonte da política de compra de títulos públicos pelo Fed (se tornando um mercado mais atrativo), mas também pela perda de credibilidade do governo Dilma.

Lembremos que o Fed, na adoção do terceiro Quantitative Easing (QE), vem irrigando os mercados com colocações mensais de US$ 85 bilhões (troca de títulos por moeda). Desde o primeiro QE, até o atual (o terceiro), já foram cerca de US$ 3,4 trilhões irrigados sobre o mercado doméstico norte-americano transbordando ao mundo inteiro (destaque para os emergentes).

Isto, inclusive, vinha sendo queixa dos países emergentes, com Guido Mantega, inclusive, em discursos nos eventos internacionais, tendo criado a tal “guerra cambial”. Com as políticas monetárias frouxas dos países desenvolvidos (juro no limite de 1% ao ano), “bolsões de liquidez” vêm buscando fazer arbitragem nos mercados emergentes que adotam boas políticas, mas também com taxas de remuneração atrativas. O Brasil entraria neste grupo.

O problema é que, de uns tempos para cá, as políticas domésticas vêm perdendo aderência, se refletindo nas reações recentes dos investidores estrangeiros.

Neste cenário de mobilidade de capitais, muitos investidores começam a migrar para os EUA, na reedição do flight to quality, pela segurança e políticas consistentes. Isto pode ser observado no gráfico a seguir, com o aumento da rentabilidade dos títulos públicos norte-americanos (T Bonds) mais demandados, já “precificando” uma taxa de juros, no longo prazo, em torno do patamar médio histórico de 3,0% anuais.