Demissão de Bolton Pode Abrir Espaço para o Fim das Sanções dos EUA contra o Irã?

 | 11.09.2019 10:00

Parece que os sauditas não conseguem ter nenhum dia de descanso sem que Donald Trump apareça para acabar com a festa.

Quando o Reino pensou que havia arrumado a casa ao demitir seu ministro de energia, Khalid al-Falih, nomeando em seu lugar o experiente príncipe Abdulaziz bin Salman, o presidente dos EUA dá as caras e demite uma das suas principais autoridades, nada menos que John Bolton, Assessor de Segurança Nacional.

A ação de Trump na terça-feira teve implicações tão grandes que levou alguns a se perguntar o que foi mais relevante: a nomeação de Abdulaziz ou a demissão de Bolton?

A verdade não poderia ser mais difícil de vislumbrar.

O novo ministro de energia de Riad conseguiria no máximo oferecer mais cortes de produção e estabilidade de preço para os produtores mundiais de petróleo, sem falar em um possível final feliz para a tão esperada abertura de capital da petrolífera estatal Aramco, da família real saudita.

Saída de Bolton pode ter complicado a situação para a Arábia Saudita e a Opep

A saída de Bolton, um linha-dura contra o Irã, pode trazer resultados mais complicados.

Dependendo da repercussão, a ausência de Bolton pode pavimentar o caminho para o início das tratativas entre EUA e Irã e um eventual acordo de retirada das sanções impostas pelo governo Trump a Teerã desde novembro do ano passado. O governo americano acusa o Irã de tentar secretamente desenvolver armas nucleares. A República Islâmica, por sua vez, afirma que as sanções dos EUA têm como objetivo ajudar inimigos como a Arábia Saudita a roubar a participação de mercado do petróleo iraniano.

Se um acordo entre EUA e Irã for fechado, poderá, com o tempo, trazer ao mercado mundial mais um milhão de barris por dia de Teerã. Esse seria o pior pesadelo dos touros do petróleo, pois jogaria por terra todo o trabalho duro feito pela Opep nos últimos nove meses para aplicar cortes disciplinados de produção que recuperassem os preços do petróleo de uma de suas piores quedas desde a crise financeira.

Além do Irã, a Venezuela, outro país sancionado pelos EUA, também poderia se beneficiar com a saída de Bolton, já que Trump pretende ampliar as isenções de exportações a empresas de energia dos EUA que ainda realizam negócios no país sul-americano, ao mesmo tempo em que tenta destituir seu líder ditador, Nicolás Maduro. Bolton havia vocalizado sua oposição a esse plano.

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Trump, em um tuíte anunciando a demissão de Bolton, seu terceiro assessor de segurança nacional, disse que ele “discordava fortemente de algumas de suas sugestões, assim como outras pessoas em seu governo”.

Em todo caso, a influência de Bolton no governo havia desaparecido há bastante tempo, principalmente depois da decisão de Trump, em junho, de vetar o pedido do assessor de segurança nacional para realizar um ataque militar contra o Irã em retaliação à derrubada de um drone norte-americano por Teerã. O New York Times destacou que a situação chegou a um ponto crítico entre eles nos últimos dias, depois que Bolton promoveu uma campanha de última hora para impedir que o presidente norte-americano assinasse um acordo de paz com líderes do grupo radical Talibã.