Desdobramento de Ações Não Gera Valor Para as Empresas

 | 24.09.2019 14:52

Na coluna de hoje irei falar sobre o desdobramento de ações das empresas na bolsa de valores e, também, sobre a percepção equivocada dos investidores pessoas físicas de que, sempre que ocorre um desdobramento de ações de uma empresa na Bolsa, os papéis ficam mais “baratos” e ocasionam uma valorização nas ações.

Discordo totalmente da crença acima e pretendo explicar a minha opinião utilizando exemplos bem simples.

Eduardo, por que as ações sobem na Bolsa?

A minha resposta padrão sempre foi: “as ações sobem na B3 porque há mais compradores do que vendedores”. É o “senhor mercado” que determina quando uma ação está quente e sendo procurada na Bolsa, não é mesmo?

Sob a ótica da análise fundamentalista, existem dois motivos básicos para a alta no preço da ação: crescimento maior do lucro da empresa no futuro e a disposição do mercado em pagar múltiplos mais altos pela companhia.

Portanto, as ações sobem quando o mercado pensa que o preço da ação da empresa está abaixo do seu preço alvo. Como diria Buffett: “preço é o que você paga, valor é o que você recebe”.

Desdobramento de uma ação é como reduzir tamanho de embalagem

Irei explicar o desdobramento de uma ação e o tamanho do lote padrão negociado na bolsa de valores por meio de um exemplo bem simples: barras de chocolate que são vendidas no supermercado.

Antigamente, as barras de chocolate tinham 200 gramas de peso, sendo as mais clássicas: Alpino, Diamante Negro e Laka.

Com o tempo, as empresas foram diminuindo o tamanho da embalagem até que, atualmente, as barras de chocolate têm de 80 a 90 gramas.

Com a crise econômica, aumento dos custos e da inflação, as empresas acabaram por reduzir o tamanho da embalagem e o preço do produto, com objetivo de manter o seu volume de vendas.

Porém, na prática, isso representou muitas vezes um aumento de preço quando consideramos o preço do chocolate por quilo. As empresas não divulgaram essa informação, pois o objetivo era de que seus consumidores continuassem as gastar aqueles recursos com chocolate.

Vamos dizer que uma barra de Alpino (meu chocolate favorito quando criança) de 200 gramas custava R$ 30. A empresa reduziu o tamanho da embalagem para 80 gramas, mas agora com preço unitário de R$ 20.

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Podemos dizer que o chocolate ficou mais barato?

Utilizando a famosa regra de três, o preço do chocolate Alpino por quilo aumentou de R$ 150 para R$ 250. Esse aumento de preços por parte das empresas é inteligente, pois as vendas seriam muito menores se a barra de chocolate de 200 gramas tivesse o seu preço aumentado para R$ 50 a unidade. Dessa forma, os consumidores não têm a sensação de estar pagando mais caro.

O desdobramento de ações é a mesma coisa que reduzir o tamanho da embalagem do chocolate, que é o lote padrão negociado na B3, mas diferentemente do exemplo do chocolate, não ocorre aumento de preço por quilo do chocolate.

Utilizando o mesmo exemplo do Alpino, a barra de chocolate de 200 gramas que antes custava R$ 30 passou a custar R$ 15, porém sendo uma barra de 100 gramas. Assim, quem tinha R$ 30 e comprava uma barra de 200 gramas, agora compra a mesma quantidade de chocolate (200 gramas), mas dividido em duas barras de 100 gramas.

Lote padrão e desdobramento da Magazine Luiza (SA:MGLU3)

As ações da Magazine Luiza (SA:MGLU3) tinham um preço de R$ 276 por ação em 26 de agosto de 2019. A companhia aprovou um desdobramento de ações na proporção de 8 para 1, ou seja, quem tinha 100 ações da Magalu ficou com 800 ações. Com isso, o preço por ação foi dividido por 8, resultando em R$ 34,50.

O único impacto nesse caso foi a redução do valor do lote padrão de 100 ações: antes custavam R$ 27.600, agora custam R$ 3.450, o que é uma boa notícia para os investidores pessoa física, já que, agora, podem investir um valor menor no lote padrão, facilitando as compras e vendas para o pequeno investidor

Muito importante ressaltar que o valor financeiro do investimento em ações não muda: 100 ações a R$ 27.600 viraram 800 ações ao mesmo valor de R$ 27.600 (8 x R$ 3.450).

Portanto, as ações da Magazine Luiza (SA:MGLU3) não ficaram baratas “da noite para o dia” ao passarem de R$ 276 para R$ 34,50 pois sua quantidade de ações também aumentou na mesma proporção.

Assim, não faz nenhum sentido do ponto de vista fundamentalista uma ação subir apenas porque teve um desdobramento de ações. As ações sobem pelos motivos que expliquei no texto acima: crescimento maior do lucro da empresa no futuro e a disposição do mercado em pagar múltiplos mais altos pela companhia

Quero deixar isso bem claro, pois recebi inúmeras perguntas sobre o assunto.

“Eduardo, com o desdobramento de 1 para 3 do IRB (IRBR3 (SA:IRBR3)) chegou a hora de comprar as ações pois elas vão ficar baratas?”

A resposta é não! A ação pode até subir coincidentemente, mas será por outros motivos. Um dos possíveis motivos é um fluxo de investidores que tem o perfil mais de trading.

A conclusão é que as ações não sobem simplesmente porque tiveram um desdobramento de ações.

Aumento da liquidez

O único objetivo de um desdobramento de ações é reduzir o tamanho em Reais do lote padrão de 100 ações e, com isso, incentivar uma maior quantidade de negócios na Bolsa por meio do aumento da liquidez das ações, principalmente entre os investidores pessoas físicas.

O desdobramento tem um efeito maior na liquidez das empresas menores, como, por exemplo, Sinqia, que teve volume médio de R$ 3,6 milhões ao longo de 2019.

Entretanto, no caso do IRB (SA:IRBR3) e da Magazine Luiza (SA:MGLU3), duas blue chips que já fazem parte do Ibovespa, o volume médio negociado diário já é elevado: R$ 255 milhões e R$ 383 milhões, respectivamente em 2019.

Por último, se uma empresa tem baixa liquidez, ela é menos acompanhada pelo mercado e, portanto, as suas ações têm um desconto no seu preço alvo devido à sua menor liquidez. Porém, este assunto merece uma coluna exclusiva e prometo abordá-lo em breve.

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