Dia Tenso

 | 04.04.2018 09:01

A cautela deve marcar os mercados domésticos nesta quarta-feira, em meio à expectativa pelo julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula no STF, a partir das 14h. A piora dos negócios locais no fim da tarde de ontem foi um aperitivo da tensão que envolve o evento e até que haja um desfecho, os investidores devem redobrar a postura defensiva, embora acreditem que o líder petista não irá participar das eleições deste ano, por causa da Lei da Ficha Limpa.

O problema é que o mau humor dos ativos no exterior, com a China e os Estados Unidos sobretaxando produtos de modo recíproco, tende a agravar o desempenho por aqui. Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York têm perdas aceleradas, de mais de 1%, na esteira dos relatos de que Pequim anunciou novas tarifas em outros 106 produtos norte-americanos, sobretudo no segmento de alta tecnologia, após a Casa Branca decidir impor taxas sobre US$ 50 bilhões de importações chinesas.

Lá fora, os investidores estão assustados com a postura do presidente dos EUA, Donald Trump, e também com a posição firme da China, o que aumenta o modo risk off nos mercados, diante da escalada da retórica protecionista entre as duas maiores economias do mundo. A grande questão é que os mercados globais não esperavam uma reação tão forte da China, que vinha buscando resolver o impasse de modo construtivo, ciente de que, nessa batalha, todos perdem.

Mas o gigante emergente mostra que não está brincando com o governo Trump, o que torna cada vez mais real o risco de uma guerra comercial, colocando em “situação de perigo” a Organização Mundial do Comércio (OMC). A resposta dos líderes chineses tem sido dura e orientada a defender seus interesses, o que desperta preocupações de que Pequim possa usar sua posição de maior detentor de títulos norte-americanos (Treasuries) e da maior reserva global de dólares, com a fraqueza do yuan sendo uma ferramenta nessa disputa - que, por ora, é sino-americana.

Em reação, as principais bolsas europeias abriram em queda acentuada, acompanhando o desempenho negativo do pregão na Ásia. Entre as commodities, o petróleo e o cobre caem cerca de 1%, ao passo que o dólar também perde valor de modo generalizado, com as investidas de Trump colocando em xeque o status de porto seguro dos ativos norte-americanos. Com isso, o ouro recupera seu papel de porto seguro e avança firme.

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Essa tensão vinda do exterior tende a potencializar a expectativa pelo veredicto final no STF. Se tudo correr dentro do esperado durante a sessão na Corte e nenhum ministro pedir vista, adiando o julgamento, o placar deve ser apertado, com 6 votos a 5. Ainda há dúvidas, porém, se o resultado será contra ou a favor do pedido da defesa do ex-presidente, de que ele permaneça solto até que todos os recursos sejam julgados em todas as instâncias.

Ainda que não seja preso, a candidatura de Lula pode ser barrada pela Justiça eleitoral. Mas, estando livre, o ex-presidente pode influenciar no pleito de outubro, formando alianças com os partidos políticos e definindo os nomes dos eventuais candidatos. Do contrário, se não receber o habeas corpus, Lula pode ser preso em breve, esvaziando sua força política.

Ou seja, por mais que se tente travestir o discurso, dizendo que não é a prisão de Lula que está em jogo - mas sim o futuro do país e o combate à corrupção, com o STF decidindo se o crime aqui compensa ou se o Brasil pune os seus criminosos - não se deve perder de vista as eleições presidenciais daqui a alguns meses.

O ex-presidente venceu todas as disputas eleitorais deste século, se elegendo duas vezes e criando uma candidata para sucedê-lo por mais oitos anos. Atualmente, Lula lidera todas as pesquisas de intenção de votos. E o que explica o temor do mercado é que ele é considerado um candidato sem compromisso com o ajuste fiscal e as reformas estruturais, tidas como necessárias para resgatar a trajetória de crescimento econômico sustentável.

Esse receio ganha força diante da dança das cadeiras inaugurada no governo Temer, com uma debandada de nada menos do que 14 ministros, incluindo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Até então, o capitão do “times dos sonhos” era o grande fiador das reformas e ajustes na economia, que acabaram ficando para o próximo governo, a partir de 2019.

Daí, então, a explicação do porquê o mercado não quer Lula nem como candidato, nem solto. O problema é que as chances de um concorrente com viés reformista seguem baixas e é pequena a possibilidade de ampliar a vantagem emplacando uma campanha eleitoral que defenda mudar as regras para aposentadoria, mas sem dizer como reduzir a máquina pública.

Assim, a fala vinda do Exército, de que se Lula se eleger só restará a intervenção militar, fica a pergunta sobre qual deve ser então, a escolha do eleitor, para evitar uma luta fatricida. Afinal, é através do voto que o povo age como indutor das mudanças no país - sem a necessidade de uma reação armada para “restaurar a ordem” e “combater a impunidade”. Até porque, “outro 64 (também) será inaceitável” nas ruas.

Ontem, as manifestações populares contra e a favor do ex-presidente em diversas cidades do país refletiram bem a tensão em torno do julgamento do ex-presidente Lula. Trata-se, portanto, do grande evento do dia, colocando em segundo plano a agenda de indicadores econômicos, que está mais fraca no Brasil.

O calendário doméstico traz apenas os dados do fluxo cambial em março (12h30), que devem mostrar uma forte retirada de recursos externos, após a saída líquida de mais de R$ 5 bilhões da Bolsa brasileira no período. Foi o maior déficit de capital estrangeiro nas ações brasileiras desde a crise financeira de 2008, ficando atrás apenas do fluxo vendedor dos “gringos” registrado em junho e julho daquele ano.

No exterior, merecem atenção os dados norte-americanos do dia. O destaque é a pesquisa ADP (9h15) sobre a criação de postos de trabalho no setor privado dos Estados Unidos no mês passado, que tendem a preparar o terreno para o relatório oficial sobre o emprego no país (payroll). Também são esperados dados sobre a atividade no setor de serviços (às 10h45 e às 11h) e os números sobre os estoques semanais de petróleo bruto e derivados (11h30).

Na zona do euro, merece atenção a leitura preliminar do índice de preços ao consumidor (CPI) em março, que podem dar pistas sobre quando o Banco Central Europeu (BCE) deve iniciar o processo do fim dos estímulos na região da moeda única. Ainda por lá, saem os dados sobre o desemprego. Na Ásia, destaque para o feriado de Finados na China, que mantém a Bolsa de Xangai fechada até sexta-feira.

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