Eletrobras (ELET3): Lucro nominal não é rentabilidade

 | 10.11.2023 10:10

No Brasil, a imprensa especializada só divulga informações sobre indicadores de liquidez das entidades. A campeã dessas informações é o EBITDA, que nada mais é que a geração de caixa bruta da entidade. Ela é superestimada, como se ele fosse o único indicador importante no mundo das finanças. Quanta ignorância, quem entende mesmo de indicadores financeiros sabe que o Ebitda é um parâmetro fraco, ele é um valor monetário, não é comparável no mercado, nem consegue expressar a capacidade de agregar valor em relação ao custo de oportunidade. Em algumas situações, o festejar do Ebitda serve apenas para esconder outros indicadores ruins, uma cortina de fumaça para enganar investidores despreparados.

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Na imprensa financeira, surgiram recentemente as seguintes manchetes sobre a Eletrobras (BVMF:ELET3):

∙ Eletrobras evolui na linha de despesas, cresce Ebitda e mantém alavancagem controlada no 3T23. Graças ao crescimento do Ebitda em 42% no trimestre, a companhia conseguiu manter a alavancagem em um patamar saudável.

∙ Eletrobras reverte prejuízo e tem lucro de 1,48 bilhão no 3º trimestre.

∙ Eletrobras reverte prejuízo e tem lucro de R$ 1,477 bi no terceiro trimestre. Resultado veio praticamente em linha com o consenso LSEG, que previa lucro líquido de R$ 1,44 bilhão

Qual o significado dessas informações para o investidor? Esse lucro é suficiente? Qual a origem desse lucro?

A análise econômica das demonstrações contábeis existe para responder essas perguntas.

Na vida real, os riscos financeiros de uma entidade são de dois tipos: risco de liquidez e risco de taxas. O risco de liquidez ou de prazos é estimado pelas métricas do tipo: índices de liquidez, CCL, Ebitda, entre outros. O risco de liquidez mede a capacidade de pagamento da entidade, por isso mesmo muito valorizado pelos investidores de renda fixa.

O risco de taxas é muito mal compreendido e, talvez por isso mesmo, muito pouco utilizado pela imprensa nas divulgações financeiras de empresas. Para explicar este tipo de risco, precisamos voltar ao conceito de que toda entidade é uma interveniente de recursos, isto é, a entidade capta recursos no passivo a um custo e aplica nos ativos para obter um retorno. Risco de taxas surge das flutuações destas taxas ativas e passivas. Em determinado momento as taxas dos ativos podem superar os custos de captação e em outros essa posição pode se inverter. Quando se fala de risco de taxa, é o risco de acontecer essa posição invertida, o retorno do investimento (ativos) fique inferior ao custo de captação (passivos onerosos).

A análise do desempenho econômico é relevante porque gera informações sobre a viabilidade da entidade no longo prazo, informação que antecede a deterioração dos índices de solvência, bem como indica estratégias e limitações ao alcance da sustentabilidade econômica.

Os indicadores envolvidos na análise econômica são: o ROI (retorno do investimento), o Ki (custo das dívidas dos credores de renda fixa) e o RSPL (retorno dos credores de renda variável). Para conferir significado aos indicadores há ainda os indicadores de referência: Ke (custo de oportunidade do capital dos credores de renda variável) e a taxa Selic (taxa média de títulos públicos federais).

Esses indicadores possuem qualidades superiores na interpretação do desempenho econômico de qualquer entidade porque são valores expressos em taxa, comparáveis com indicadores de qualquer outra atividade. São retornos líquidos de tributos sobre o lucro, ou seja, retornos reais para o investidor. São comparáveis com retornos do mercado financeiro e de outras oportunidades de investimento de risco semelhante.

Além disso, a comparação entre os indicadores permite identificar a segurança e sustentabilidade econômica da entidade verificando se os valores obtidos se encaixem na “HIERARQUIA DOS RETORNOS ESPERADOS”, estrutura de retornos de mais baixo risco, construída em função dos riscos do investidor:

RSPL >= Ke > ROI > Ki > Selic (risk free)

Conforme Figura 1, os indicadores da Eletrobras demonstram que o lucro divulgado na imprensa é insuficiente para remunerar o acionista ao nível da Selic, isto é, o rendimento do acionista é insuficiente para remunerar o custo de oportunidade do capital (Ke). Além disso, a estrutura de taxas mostra-se desalinhada com a HRE, demonstrando que ainda persiste uma estrutura de risco financeiro de taxa alto.

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