Em Busca da Retomada

 | 02.06.2015 09:30

Continuamos meio que tateando no escuro, em busca de uma saída, de um rumo consistente para a economia brasileira. Claro que houve avanços nos últimos meses, ainda mais depois do anúncio do pacote de contingenciamento de despesas, no total de R$ 69,9 bilhões, e da aprovação das MPs, com relativa tranquilidade no Senado. Além disto, a equipe econômica continua com o “voto de confiança” dos agentes. O BACEN opera bem as expectativas, atuando com relativa autonomia e vigilância sobre a inflação, a Fazenda avança nos ajustes, mesmo com as “várias pedras no meio do caminho” (base de apoio político porosa, “fogo amigo”, etc) e o Planejamento se coloca em complementaridade, tentando enxergar o futuro.

Um “ruído”, no entanto, colocou a todos em polvorosa na semana passada, depois da ausência do Ministro Levy na divulgação das medidas fiscais, segundo assessores devido a um resfriado. Em seguida acionaram a central de boatos, abrindo um abismo preocupante na relação entre o ortodoxo Levy e o heterodoxo Barbosa. Soube-se depois (embora sem confirmação) que esta ausência foi causada por divergências sobre a intensidade do ajuste, Levy defendendo algo mais duro, próximo a R$ 80 bilhões, Barbosa mais brando, próximo a R$ 60 bilhões. Ventilou-se então que a turma mais voluntarista, inclusive com a anuência do PT e do ex-presidente Lula, defendia, não um corte tão radical de gastos, mas sim o aumento da taxação, em especial, sobre grandes fortunas e heranças, além da criação de mais uma faixa de renda para o IRPF. Bem, depois, esta divergência acabou desmentida “oficialmente”, mas que causou espanto, isto causou. O receio é os heterodoxos ainda continuarem com espaço no governo, pregando suas idéias estapafúrdias e sem repensar o atraso dos últimos caóticos quatro anos. Como pode?

A impressão é que ainda existe um dogmatismo pernicioso em parte do governo e nas universidades públicas, em torno de certas terapias econômicas exóticas, sem grande validade, extremamente arriscadas pela pouca aplicação no mundo real. Isto, aliás, é um ponto a ser salientado. O Brasil já passou por inúmeras experiências mal sucedidas de “laboratório acadêmico” nos últimos anos. Todos nós sabemos no que resultou. O gráfico a seguir bem retrata isto.

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Se no primeiro ciclo petista, sob a liderança do governo Lula, entre 2003 e 2010, o País surfou na boa onda do excesso de liquidez mundial, gerado pela China crescendo 11% ao ano em média, com exportações abundantes de commodities, mesmo com o câmbio apreciado em alguns momentos; no segundo, depois do crescimento de 7,5% em 2010, ingressamos num ciclo vicioso de desaceleração, até a retração do PIB de 0,9% em bases anualizadas no primeiro trimestre deste ano. Como todos já estão cansados de saber, esta forte inflexão foi fruto de uma série de decisões desastradas de política econômica. Citemos algumas: redução forçada das tarifas de energia, descapitalizando o setor, desoneração da folha de pagamentos, sem critérios, beneficiando 62 setores; represamento do preço da gasolina, também impactando na Petrobras, aparelhamento crescente da máquina pública, tolerância além do desejável em relação à inflação, dentre tantas outras barbeiragens. Em paralelo a isto, diante de uma máquina pública inchada, 39 ministérios e mais de 20 mil cargos de confiança, além de um estéril “governo de coalizão”, vários casos de corrupção acabaram acontecendo, até o desfecho do fatídico Petrolão, já considerado o maior grave no mundo em muitos anos.

Neste péssimo ambiente para os negócios, o crescimento médio do PIB do primeiro mandato da presidente Dilma acabou desacelerando, na média, a 2% anuais, a inflação disparou, o juro passou de 13%, assim como todos os outros fundamentos macro, com destaque para as contas públicas, se deterioraram.