Enquanto Isso...

 | 25.06.2018 11:53

No exterior, Donald Trump continuava aprontando das suas, numa política externa caótica, na contramão do bom senso, autorizando uma dura política migratória, mas depois recuando, e em permanente embate com a China, visando reverter um déficit comercial, que no ano passado passou de US$ 375 bilhões, segundo fontes norte-americanas.

No Brasil, acompanhamos de perto o comportamento da taxa de câmbio, estressada por uma série de fatores (internos e externos) e a condução cautelosa do BACEN no balizamento da taxa de juros. Tivemos reunião do Copom e Ilan Godfajn, desta vez, resolveu “ancorar as expectativas”, mantendo o juro em 6,5%, em sintonia com o mercado.

Meio que “em cima do muro”, disse que o juro se manteria estável por enquanto, já que a economia seguia fraca e a capacidade ociosa entre 25% e 30%, inibindo possíveis repasses de custo para os preços finais, já que a demanda é fraca. Na visão do BACEN, importante será aguardar os próximos acontecimentos, como deve evoluir a cena externa, para então se ter um retrato mais claro sobre esta “dosagem atual da taxa de juro”.

A taxa de câmbio, que chegou a R$ 3,80/3,90 nos momentos de maior surto especulativo, passou a se estabilizar um pouco nas últimas semanas, na passada em torno de R$ 3,74, em muito pela forte atuação do BACEN, que passou a “pesar a mão” nas suas intervenções. Definiu em US$ 10 bilhões semanais as colocações de contratos de swap cambial, defendendo ter contas externas confortáveis e volume de reservas cambiais cobrindo mais de um ano de importações (US$ 382 bilhões), o que neutralizaria qualquer aposta mais pesada do mercado. O problema é que nada garante que o câmbio se mantenha no patamar atual por muito mais tempo.

Nos EUA o Fed segue na sua política de gradual aperto monetário. Deve realizar quatro ajustes do Fed Funds neste ano, no ano que vem entre dois e três. Na tal normalização da política monetária, a taxa deve então parar nos 3,0% anuais, dada a sinalização dos T Bonds de 10 anos, mais demandados, nas últimas semanas entre 2,7% e 3,1% anuais.

Para o economista da PUC, Márcio Garcia, as intervenções do BACEN no mercado cambial desempenham o seu papel, “corrigindo problemas na formação de preços e, ao mesmo tempo, permitindo que o real siga em trajetória de desvalorização, a exemplo das moedas emergentes”. Para ele, “o real tem se comportado de maneira esperada, em linha com o cenário externo”.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Num estudo, ele reforçou isso ao criar um “câmbio sintético”, baseado numa cesta de moeda de alguns emergentes, chegando à conclusão que o real tem se depreciado meio em linha com esta cesta. Ambos, o câmbio sintético e o real, haviam passado de R$ 3,30 em fins de abril para R$ 3,70, quando o BACEN brasileiro atuou de forma mais suave. Primeiro definiu intervenções diárias em US$ 250 milhões (rações). Diante da inoperância desta estratégia, resolveu atuar com a “mão mais pesada”. Primeiro, anunciou US$ 25 bilhões na primeira semana, depois US$ 10 bilhões nas seguintes, o que acabou trazendo o dólar a um patamar mais estável, em torno de R$ 3,70 a R$ 3,75.

Na visão de Garcia, conseguir estabilizar o câmbio, por estes dias e acabou essencial para acalmar os mercados diante da proximidade da reunião do Copom. De fato, iniciamos a semana passada com o dólar mais comportado, o que colaborou para a manutenção da Selic nos 6,5%, decisão esta considerada acertada. Em regimes flutuantes o BACEN possui as ferramentas apropriadas para “amortecer” o câmbio, mas estas podem se tornar limitadas se a tendência global da moeda norte-americana for de alta.

Em análise, as intervenções podem ser “não esterilizadas”, com o BACEN vendendo dólares em troca de reais. A liquidez doméstica se reduz e o juro sobe, no intuito de atrair recursos externos e segurar o câmbio no nível desejado. Este caso se aplica, no entanto, aos regimes de câmbio fixo, administrado ou de bandas. Sendo assim, o juro acaba elevado para estabilizar o câmbio.

No caso do sistema de metas de inflação, com câmbio flutuante, o que se tem são “intervenções esterilizadas”. As vendas de dólares atuam para retirar recursos do mercado, mas com a “outra mão” repondo a liquidez e mantendo o juro sob controle. Estas intervenções mexem com o câmbio. Um estudo citado por Garcia, com dados de intervenções em 33 países, mostra que 80% lograram êxito a partir deste modelo (o mesmo em voga no Brasil).

Neste, importante que as intervenções sejam pesadas (com muitos recursos), sejam públicas e se direcionando para os fundamentos. Isso significa que o BACEN não deve forçar a queda do dólar, se a tendência deste for de alta. Deve, isso sim, mitigar esta alta. Passa a ser desafio para a autoridade monetária, intervir no mercado, mas tendo o apoio dos seus participantes. Este elo de confiança precisa ser então estabelecido.

Outro desafio será começar a desmontar estas intervenções, reduzindo-as num ambiente de maior calmaria. Lembremos que as vendas de contratos swap no futuro já foram realizadas no passado recente, chegando a US$ 124 bilhões, quando a inflação era bem mais elevada do que a atual (6,2% contra 3,7%). Agora, com a inflação em patamar mais baixo, as intervenções do BACEN tendem a ser relativizadas, talvez acalmando o mercado.

Por fim, voltando ao comunicado do BACEN, sobre a decisão do Copom na semana passada, a mensagem de fundo permaneceu a mesma: manter uma política monetária não mecânica, atenta aos “efeitos secundários dos choques inflacionários”, mitigados pelas expectativas ancoradas e a ociosidade da indústria. Isso nos leva a acreditar, por enquanto, que nada muda. Aguardemos os próximos passos do BACEN, diante dos indicadores econômicos, da inflação e do desafiante cenário externo.

TRAJETÓRIA DO CÂMBIO ANTES E DEPOIS DAS “INTERVENÇÕES MAIS PESADAS”